24 março, 2008

Incongruências

Um habitual cronista de um diário lisboeta, escrevia há tempos que há uma certa Lisboa que se julga social e culturalmente superior ao resto do país. Acho natural que assim pensem. Trata-se de uma atitude comum aos habitantes das cidades que são simultaneamente capital do país e o seu maior centro económico e financeiro. Assim a questão não é inédita e o problema não reside aí. O problema está em que tudo leva a crer que a esmagadora maioria daqueles que não habitam na capital, agem como se se considerassem, para todos os efeitos práticos, social e culturalmente inferiores aos habitantes da capital.

Como nortenho e portuense assumido, causa-me mágoa e confusão o plano inclinado em que a cidade e a região escorregam, naquilo que parece ser um trambulhão até se bater num fundo muito fundo.

Uma região populosa de gente industriosa e trabalhadora que durante décadas e décadas "deu cartas" e foi motor de progresso e inovação do país, uma área metropolitana que congrega quase dois milhões de habitantes, uma Universidade - Porto - que é a mais frequentada do país, duas outras - Braga e Aveiro - que monstram uma dinâmica imparável, uma Associação Industrial com evidente capacidade realizadora, uma Associação Comercial dinâmica e participativa, algumas empresas liders a nível nacional e até internacional. Com tudo isto, estamos como estamos, e somos a região mais pobre da Europa. Porque?

Olhando para esta incongruência, um cidadão médio proveniente de outro país, abanará a cabeça com incredulidade e, se for medianamente cínico, apenas dirá que "os povos têm o governo que merecem". Acrescentará que forçosamente os nortenhos se sentem felizes com a actual situação, pois caso contrário já teriam tomado atitudes e iniciativas tendentes a fazer valer as suas prerrogativas de cidadãos de pleno direito. Alvitrará talvez que possivelmente não esteja actualmente na maneira de ser deles, lutar pelos seus ideais, que se tornaram subservientes, que provavelmente preferem o refúgio fácil nos queixumes inconsequentes ou que terão, como verdade adquirida, a convicção que o bem estar e o progresso de uma comunidade caem do céu por graça divina, como a chuva.

Este hipotético e cínico estrangeiro provavelmente remataria as suas reflexões dizendo que o mal dos portugueses do Norte é terem o espirito dos vencidos que não ousam ousar.

Posto isto, iria deliciar-se com as belezas naturais, artísticas e gastronómicas que nós no Norte temos em grande quantidade para oferecer a quem nos visita. Aposto que ficaria com desejos de voltar a tão bela região.

2 comentários:

  1. Você censura comentários?
    Sendo assim...

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  2. Caro Rui Farinas,
    Nunca me entusiasmei com o estilo de Rui Rio e não consigo dar-lhe a relevância que outros lhe querem atribuir. Daí que, o quadro que o meu amigo apresenta tenha também a ver com Rui Rio. Sim, ele é um dos grandes responsáveis pela perda de "gaz" que o Porto perdeu. Com maior ou menor eficiência, Fernando Gomes ainda reinvindicava para o Porto os direitos que já no seu tempo o governo central nos queria sonegar. Fernando Gomes como Presidente da Câmara soube usar esse estatuto para assumir alguma liderança na cidade. Rui Rio, não o fez nem nunca o fará porque o seu interesse é "nacional-pessoal", e sabe bem que só conseguirá alcançar os seus objectivos se continuar a agradar ao patrão centralista de Lisboa. Por isso, os portuenses se sentem orfãos e preferem esperar por novas oportunidades a confiar nesse mau padastro. Rui Rio só veio piorar as coisas.

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