Decorridos vários anos de sucessivas tentativas de decresdibilização e de aniquilação do FCPorto pela parte do Poder Central de Lisboa - que entretanto ajudou a empurrar o Boavista e o Salgueiros para os escalões secundários -, os portuenses foram confrontados com outro tipo de assalto, desta feita, menos subtil: a usurpação e consequente desvio do evento da Red Bull Air Race, do Porto para Lisboa. Naturalmente, que esta patriótica decisão veio gerar muitos protestos entre os portuenses e aumentar a revolta com as vilanias de que continuam a ser vítimas pelas hostes centralistas. Muito se falou e escreveu sobre o assunto.
Entretanto, por razões ainda pouco claras [que o futuro se encarregará de explicar], o Presidente da Câmara de Lisboa, autor da malandrice, estabeleceu um acordo de cavalheiros com os Presidentes das Câmaras saqueadas [do Porto e Gaia] de onde resultou a alternância da realização da prova entre Porto/Gaia e Lisboa. Por aquilo que me apercebi, a notícia aparentemente positiva, não gerou o entusiasmo que se esperaria junto dos portuenses. Soube-lhes a refeição requentada...
Por seu lado, o edil portuense, homem de vistas curtas e com imensos complexos centralistas, aceitou o acordo com a mesma humildade que o pedinte aceita a esmola, convencido de ter retirado da cartola um rechonchudo coelho para tripeiro consolar. Alguns, ao que parece, ficaram mesmo consolados, o que é um péssimo sinal.
Para mim, isto é estranho. Quer dizer, sempre que nós chamámos a atenção para a discriminação que se continua a fazer com o Porto e o Norte do país, vendo verbas comunitárias [QREN] que nos estavam destinadas a serem desviadas para Lisboa, somos imediatamente tratados como calimeros, agora, quando fomos roubados como fomos com a Red Bull Air Race, ainda temos de negociar com os larápios e dar pulos de contentes? Mas, que gente é esta que agora vive entre nós? Serão tripeiros mesmo, ou simples imigrantes?
Honra terão de me prestar por não me deixar embarcar em modas. Aqui, sempre me opus a slogans politicamente correctos. Nunca augurei nada de bom com aquelas lindas frases como, "do Porto para o Mundo", que nos andaram a impingir como se fossemos tontos, ou com os discursos castradores da nossa identidade. Cada vez me convenço mais que o Povo do Porto, o mais castiço, o povo da rua, é o menos culpado pela situação decadente da cidade.
Se há classe social a quem devemos pedir responsabilidades, é à da alta burguesia. Foi essa classe que mais concessões fez ao centralismo e que permitiu a espoliação dos sectores mais fortes da nossa economia. Sedes de Bancos, de Jornais, de Seguros, de Empresas, de Televisão, organismos do Estado e empresariais que em tempos de Ditadura se impunham no Porto, em Democracia já não existem! Como é possível? Será que os ignorantes dos nossos políticos desconhecem que foi pela degradação social e económica da Democracia que Adolfo Hitler implantou a Ditadura e acusou os judeus de todos os males da Alemanha? Imaginam porventura estes cavalheiros a quantidade de inocentes que morreram acusados por crimes que não cometeram? Não, estou convencido que esta geração de políticos não leu nada sobre o assunto.
Por isso, talvez só mesmo a ignorância explique por que é que 90,3% de um painel de entrevistados respondeu SIM a um inquérito promovido pelo semanário Grande Porto à pergunta: «É boa a solução encontrada para que a Red Bull Air Race se dispute alternadamente entre Porto e Lisboa?». Entre eles, contam-se personalidades bem conhecidas dos portuenses, como o Manuel Serrão, o Carlos Abreu Amorim e o actor António Reis. Só três, votaram NÃO, sendo o socialista Pedro Baptista o mais conhecido.
Mas que raio está a acontecer com os portuenses? Onde pára o orgulho tripeiro, para além das portas do Estadio do Dragão?
Pessoalmente, preferia mil vezes ver completamente reabilitados dois ou três quarteirões do centro urbano do Porto, do que as corridas de aviões da Red Bull, mas, já que Rui Rio [e quem nele votou], não tem capacidade para tanto, pedia-se-lhe, no mínimo, que soubesse presevar o que foi de sua lavra [e de L.Filipe Menêzes]. A Air Race foi um evento a que os tripeiros e todos os portugueses aderiram entusiásticamente, dinamizou durante uns dias o turismo e o comércio locais. O espectáculo impressionou favoravelmente e a economia mexeu, ainda que por poucos dias.
Então, porque é que Rui Rio e L.F.Menêzes, não subiram a parada uma vez aberto o precedente pelo Presidente da Câmara de Lisboa de desviar para a capital um evento do Porto e não incluíram no pacote negocial uma outra contra partida em regime de alternância? Por que é que não negociaram também o Rock in Rio alternadamente? Aí sim, toda a gente saía bem na fotografia - incluindo o Presidente da Câmara de Lisboa -, e Porto e Gaia teriam revertido a situação. Agora, regozijarmo-nos por repartirem connosco aquilo que antes nos usurparam, parece-me próprio de atrasados mentais, de coitadinhos.