10 junho, 2012

O que ficou por perguntar a Fernando Gomes no Porto Canal


O erro de Fernando Gomes



O ex-presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, assumiu, pela primeira vez, ter cometido "um erro", ao integrar o Governo de Guterres, na qualidade de ministro-adjunto e da Administração Interna, deixando a meio o mandato que os portuenses lhe tinham entregue.

Numa entrevista concedida ao programa "Polo Norte", do Porto Canal, bateu com a mão no peito e disse: "A ideia era deixar espaço para quem cá estava, mostrar que as coisas não corriam mal no Porto, e, entretanto, criar em Lisboa, junto do Poder, um espaço para ajudar o Porto, complementar quem estava na liderança do Porto, através de Lisboa. Saiu errado. E eu nunca assumi a humildade de ter chegado ao Porto e dizer: eu errei".

Esta declaração pungente merece um pequenino reparo. Ou dois. Ou mesmo três.

O erro de Fernando Gomes não foi ter ido para a "maléfica" Lisboa. Esse era o seu destino óbvio, depois do trabalho feito na Câmara do Porto. Gomes desejava, muito legitimamente, ser ministro. O erro de Fernando Gomes foi ter regressado ao Porto como se Lisboa tivesse sido apenas e só um epifenómeno na sua vida política. Não foi.

A passagem por Lisboa marcou-o profundamente - não apenas porque foi trucidado por alguns "companheiros" de partido; não apenas porque lhe caiu em cima uma vaga de assaltos a bombas de gasolina (coisa de meninos de coro, quando comparada com a criminalidade violenta que hoje assusta o país de norte a sul); não apenas porque a atriz Lídia Franco foi apanhada na onda do crime, mediatizando-o até ao paroxismo; não apenas por todas estas circunstâncias, mas sobretudo porque, depois delas, Fernando Gomes entendeu que faria no Porto uma espécie de catarse política, para, quem sabe?, mais tarde regressar ao centro do Poder.

Os portuenses não lhe perdoaram a arrogância que esta estratégia continha. Gomes achou que o povo era bondoso, paciente e sabedor das tropelias de que ele havia sido vítima. Por isso o glorificaria de novo. A empatia entre Gomes e o povo (ou melhor: entre o povo e Gomes) terminou no dia em que ele assumiu nova candidatura à Câmara do Porto. Em certo sentido, Gomes fez então o que Passos Coelho está a fazer agora: pediu paciência aos portuenses. Os portuenses perderam a paciência.

É por isso que custa ouvi-lo dizer que escolheu ir para o Governo para, "junto do Poder, ajudar o Porto". Gomes seria no Executivo uma espécie de canivete suíço do Norte? Soa a desculpa, daquelas que não pegam mesmo usando a cola que agarra cientistas ao teto. Não é com atos quixotescos que o Porto e o

Norte se impõem. Como, aliás, Fernando Gomes muito bem sabe.

Último reparo: por que volta Fernando Gomes ao tema com as autárquicas na rua?

Nota de RoP:

Aqui atrasado publiquei uma crónica deste mesmo autor cujo conteúdo me suscitou alguma repulsa [as razões podem ser relidas aqui e aqui  ]. Hoje, reproduzi esta por razões opostas. É uma síntese muito interessante sobre a ascensão e queda de Fernando Gomes, ex-presidente da Câmara do Porto. 

Na interessante entrevista dada ao Porto Canal conduzida por David Pontes apenas faltou abordar Fernando Gomes sobre o caso relatado neste artigo de Paulo Ferreira, para ficarmos a saber o que pensa o ex-autarca portuense da cilada vergonhosa que lhe montaram em Lisboa para o descredibilizar politicamente, e por que é que nunca falou sobre o assunto, até hoje... Foi pena.

3 comentários:

  1. Pois é, tem toda a razão mas deixou
    que um Arrogante, um Merceeiro de lápis na orelha estivesse lá doze anos só a provocar conflitos com tudo o mundo e que nada fez pela cidade.
    Por mim está perdoado, mas agora já é tarde e o estrago está à vista.
    Vamos aguardar por outro que goste da cidade e do clube, para ver se recuperamos algo mais para a cidade.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  2. a pseudo maturidade do "povo do Porto", quando derrota Fernando Gomes, e coloca lá este personagem cinzento, reelegendo-o, contradiz muito essa maturidade, pelo que a leitura das razões desta cidade estar morta têm de ser outras. Mais objectivas.

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  3. Ficámos com o Rui Rio, que é mil vezes pior e nada fez pela cidade. Por isso acho que os portuenses sao no geral muito burros...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...