13 julho, 2011

Um mata, outro esfola


O dr. Jorge Fiel, meu amigo de longa data, que integra actualmente a Direcção do nosso JN, é uma das pessoas com quem há mais tempo venho discutindo a questão da Regionalização e a questão colateral da sucessiva perda de influência do Porto e da Região Norte em Portugal.

 Discussão daquelas que se travam entre pessoas que estão de acordo (sim, que discussão não obriga a contraditório, como alguns pensam) e em que os argumentos de um se somam ou reforçam os argumentos do outro.

Neste caso, como diz o povo, se um mata, o outro esfola.

Isto tudo para chamar à colação o editorial em que o Jorge (ele é licenciado, mas como o nosso novo ministro da Economia também gosta que o tratem por Jorge ou Fiel) se declara galego do Sul, lamentando a má opção do fundador da nacionalidade, Afonso Henriques. (Não sei se o nosso primeiro rei partilharia dos gostos do Jorge e do Álvaro, mas hoje fica só Afonso...).

Era possível dizer ou pensar que com este editorial o Jorge mata o assunto. Mas eu vou ainda tentar esfolá-lo.

O meu amigo Jorge, fiel aos ensinamentos da História que vários anos de frequência universitária lhe deram, começou a sua crónica em Guimarães, há mais de mil anos.
Não tendo possibilidade de apresentar tal currículo vejo-me forçado a começar a minha na actualidade e dá-me mais jeito que a casa partida seja na ilha da Madeira.

É sabido que a Região Autónoma da Madeira vive muito acima das suas possibilidades, gastando muito mais do que produz. Isso tem acontecido e continua a acontecer porque em nome da solidariedade nacional e dos custos de insularidade (seja lá o que isto quer dizer) o governo da República tem sustentado o défice crónico da Região. Será que o Estado pensa que a Madeira alguma vez pagará o que deve e que vai aumentando a cada ano que passa?

Claro que não e, "mutatis, mutandis" , era isso que a Europa devia pensar da nossa dívida, se fosse uma União Europeia tão unida como o nosso lindo Portugal.

Se o Norte fosse uma ilha de verdade e não apenas uma ilha de pobreza no meio do oceano europeu de ricos e remediados, em vez de galegos do Sul, bastar-nos-ia ser os madeirenses do continente...

Já se sabe que quando Passos Coelho aludiu à experiência a fazer com uma região piloto, não se estava a lembrar, ou melhor dizendo, não se estava a referir, nem à Região Autónoma da Madeira, nem à dos Açores. Talvez porque sendo regiões verdadeiras há muito, não são de pilotagem fácil...

Convém dizer aqui e desde já que não sou dos que dizem cobras e lagartos da maneira como a Madeira tem vivido melhor do que poderia. Bem pelo contrário, qual águia ou leão que sonha um dia ter um presidente como o dos dragões quase sempre campeões, eu jardinista me confesso, no sentido (único) de que numa Região Norte, com um Alberto João à frente, teríamos hoje melhores condições de vida.

Claro que não se trata disso quando defendemos a Regionalização, mesmo sabendo que o Norte teria muito mais razões e capacidades para agitar o espantalho da independência como gostam de fazer na Madeira sempre que as transferências de mais fundos do continente parecem ameaçadas.

Como é evidente a questão da independência do Norte só se pode colocar em termos académicos, mas num cenário (nestes dias mais remoto...) de aprofundamento federalista da União Europeia, a criação de uma grande Região do Noroeste Peninsular, independente economicamente do resto do antigo Portugal, não seria, não será pura ficção.

O que se pretende com ou sem a Madeira ou a Galiza, é que o Norte faça parte de um país equilibrado que trabalhe para esse equilíbrio e se reveja nele.

Será que não podíamos aproveitar a janela de oportunidade que a troika nos abre com a reorganização administrativa que nos é imposta?
[NO JN]

Nota de RoP

Declaração de interesses:  sendo assumida e publicamente apoiante da reforma administrativa do Estado, vulgo, um regionalista [de longa data] desavergonhado, quero acrescentar que não se trata de uma questão de fé, mas de uma convicção profunda. Tão profunda e obsessiva, como profundo e absoluto é o meu descrédito pelo centralismo actual e dos últimos 30 anos! 

3 comentários:

  1. Não chegamos a regionalização com paninhos de lã. O ministro das Finanças é um anti/regionalista o Passos Coelho também parece ter sede de poder, e anda com a história de uma região piloto ("Allgarve" nome mourisco) para entreter meninos.
    Só espero que a região Norte, não ande muitos anos a sustentar azeiteirada centralistas.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  2. este discurso é motivador, e até provocador, o que faz sair do armário (está de moda a frase...) os esqueletos do preconceito.
    Ainda hoje o JN trás a missiva de um nacionalista do Bº da Graça, invocando o seu portugalismo, e falando logo na dívida do metro do porto.
    Como exemplo acabado do que diz Jorge Fiel, não se podia encontrar melhor.
    Eu até acho que o "nosso" espaço Schengen, devia ter o Douro como fronteira.

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  3. Mas o mais curioso é que tudo muda, mas em relação à regionalização tudo permanece igual. Claro, há sempre um motivo para ser adiada...ou é do cú ou é das calças, ou é do Metro do Porto, como se o de Lisboa não fosse um sorvedouro de dinheiros públicos ou a Carris não gastasse muito mais que os STCP.

    Um abraço

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