Não fosse o caso muito sério, dir-se-ia que a ingenuidade - ou, a boa fé, se quiserem -, de muitos portugueses acerca da Democracia, daria para rir. Não, meus senhores, para rir não pode dar, mas que se presta a longos e angustiantes sorrisos (amarelos), disso já não resta a mínima dúvida.
Habituados que foram a pensar, mais com a cabeça dos outros do que pela própria, os portugueses tornaram-se vulneráveis a novos preconceitos, que é como quem diz, a dar demasiada importância à futilidade das aparências. É imperioso lembrar, que há aparências, como a seriedade (por exemplo), que não têm nada de fúteis, e outras há, como o novo-riquismo, que o são, de facto.
O 25 de Abril de 1974, que foi um movimento muito menos revolucionário do que se imagina, não foi responsável por essa semi-metamorfose, porque, como sabemos, além de despolitizados, os portugueses já eram preconceituosos por esse tempo. Os preconceitos é que eram de outra natureza. O quase meio século de ditadura gerou anátemas difíceis de ultrapassar, sendo, talvez, o vício do desenrascanço, o mais resistente.
O 25 de Abril foi, portanto, mais uma inevitabilidade do que um acto de rebelião popular audacioso. Em 1974, Portugal, era dos poucos países colonialistas, sob o peso censurável de toda a Europa, com os militares desgastados por guerras inconsequentes, o que contribuiu decisivamente para o acelerar da dita "revolução". A partir daí, o país foi maquilhado por alguns sinais de progresso, sem qualquer relevância para o desenvolvimento sustentado do país, nem reflexos consistentes na qualidade de vida da população, que nem a entrada na então Comunidade Europeia conseguiram disfarçar.
Entretanto, o que sobrou desse movimento, foi uma ideia quase anárquica de Liberdade, onde os direitos se sobrepuseram aos deveres e a Democracia se mitificou.
À parte das eleições, de o direito a um voto subjectivo, o povo permitiu que a Democracia fosse "trabalhada", mais à medida de quem os representava do que à dos seus verdadeiros interesses, e assim se foi adulterando até cristalizar.
Em Lisboa, foram-se concentrando os poderes da propaganda "democrática", ao mesmo tempo que se esvaziavam de morte os já parcos poderes regionais. Rádios e jornais, multiplicavam-se em catadupa e o mais poderoso deles, a televisão, seguia-lhes o modelo. Foi assim, a partir do mesmo ponto do país, defendendo acerrimamente a causa centralista, que foi vendida e difundida ao resto do território, a ideia que hoje temos de Democracia.
De tal forma está instalada esta ideia castradora de democracia (o tal preconceito), que alguns de nós, até na blogosfera, onde temos toda a liberdade para explanarmos as nossas opiniões, o nosso inconformismo, a nossa revolta, acham que devem reservar parte desse espaço (na caixa de comentários) para as opiniões - frequentemente provocatórias e insultuosas -, daqueles que lhes colocaram a mordaça na boca, só para não passarem por anti-democratas!
Sinceramente, ainda não consegui compreender como se podem avaliar os nossos indíces democráticos apenas porque permitimos que alguém comente para nos insultar ou provocar! Eu chamo a isso masoquismo. Sobretudo, quando temos uma comunicação social completamente centralizada ao serviço exclusivo do centralismo! Paradoxalmente, depois, queixam-se, limitam-se a queixar-se, de quem lhes sufoca a voz e a vida!
Costuma dizer-se que, para bom entendedor meia palavra basta, mas o que atrás escrevi contraria um pouco essa máxima. O que eu quis dizer, em várias palavras, foi, que jamais permitirei aqui um único comentário insultuoso. Para esses estou-me completamente nas tintas para o que possam pensar sobre os meus dotes democráticos, porque é só a chicote que merecem ser tratados. Ficamos esclarecidos?
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