22 agosto, 2012

Astérix, Obélix e o facebook



Como nos deliciosos livros de Goscinny e Uderzo, quando se fala no facebook eu sinto-me habitante de uma pequena aldeia gaulesa. Como aquela onde Astérix, Obélix, Assurancetourix e quejandos resistiam aos invasores romanos.

Convém que logo nesta abertura esclareça que o domínio em que me sinto assim é exclusivamente o domínio pessoal, da minha privacidade. Bem ao contrário, nas minhas atividades profissionais e empresariais, dou-lhe a corda correspondente à utilidade e capacidade que lhe reconheço como poderoso instrumento de marketing e comunicação.

Sempre que dou conta desta minha "lacuna" na conversa com amigos e amigas de várias idades e estratos, sou alvo de alguma chacota e de piadas recorrentes que já não me fazem "mossa" alguma. Aliás, ultimamente, sou eu que tenho rido mais (e melhor, segundo se diz de quem ri por último) nas oportunidades, cada vez mais frequentes, de confrontar esses meus amigos e amigas mais moderninhos com as tristes consequências da exposição pessoal no facebook e atividades similares.

Julgo que atingimos o limite da nossa luta pela liberdade. Neste mundo moderno, claro, porque ainda existem lugares no Mundo em que povos inteiros lutam pela liberdade contra terceiros, que é a tradicional luta que conhecemos há séculos.

Voltando ao Astérix, desde os tempos dos romanos que a luta pela liberdade é entre quem oprime e que se sente oprimido. Contra terceiros de má-fé, portanto...

O que se passa agora é que já não são terceiros quem ameaça a nossa liberdade, mas antes a primeira pessoa: nós, os nossos comportamentos, as nossas faltas de cuidado, os nossos desleixos, o nosso deixa andar, o nosso Maria-vai-com-as-outras, as nossas ansiedades de em tudo querer ser da linha da frente, a nossa vontade de voar, mesmo quando nos faltam as asas ou a cama é curta.

Talvez por ser um óbvio ululante, esta ameaça "interna" à nossa liberdade é capaz de ser a mais difícil de combater. Contra a força dos outros e contra os argumentos dos outros, melhor ou pior, com mais força ou menos força, sabemos que é preciso lutar e sabemos como é preciso fazê-lo. Neste caso em que a força ou a falta dela é nossa e os argumentos mais convincentes ou menos convincentes são nossos também, é que a porca torce o rabo.

Aceitamos facilmente como dogma que na net ou no facebook nós é que decidimos o que dizemos ou mostramos e a quem o fazemos. Achamos que dominar o monstro e a tecnologia é "canja" porque a (nossa) inteligência humana vence sempre qualquer máquina.

Os meus pais já ultrapassaram os 80 anos à velocidade da luz e nunca quiseram ser gauleses, neste mundo que tem rodado a uma velocidade que nem todos conseguem acompanhar. Mas tenho a certeza de que não estariam, não estão, preparados para sofrer um choque como o que deve ter sentido aquele pai lisboeta a quem enviaram um mail com imagens da filha, nua, em brincadeiras com amigas, que pelos vistos saiu de uma partilha supostamente privada de um facebook para as avenidas e autoestradas, sem portagens e sem controlo, da Internet.

Por mim, que só posso falar por mim, estou em condições de garantir aos meus pais que, pelo menos no que me toca e neste particular, podem continuar a viver descansados. Simultaneamente, tudo farei para tentar que a minha querida filha, que ainda há pouco tempo aprendeu a ler, me possa dar este mesmo descanso. Sabendo eu que muitos destes acidentes acontecem mais por falta de informação do que por falta de formação.

Nota de RoP:

Gerir um blogue constitui desde logo uma responsabilidade. Em primeiro lugar, para o seu administrador, depois para os cooperantes e por último para os comentadores, cabendo no entanto ao seu proprietário a principal responsabilidade por tudo o que publica, incluindo a  aprovação ou eliminação de comentários. Mas, é simples de controlar. Já sobre o Facebook e outras redes socias do género, tenho sérias dúvidas. Tem uma exposição excessiva e uma objectividade muito relativa.

O que o texto de Manuel Serrão aqui relata vem de certo modo ao encontro do meu cepticismo com estas redes sociais, e não creio que seja exagerado receá-las, porque embora possamos "dominar o monstro" [como diz Serrão] a ameaça interna à nossa liberdade é real. Basta um descuido, como o da rapariga que se "deixou" filmar na intimidade, provavelmente sem imaginar o que lhe estavam a fazer.

É por estas e outras que tenho eliminado todos os convites de "amizade" que me surgem na caixa do correio. Já estive registado e desactivei o registo várias vezes, e continuo a receber convites... Não percebo. Mas percebo menos que Cavaco Silva - e outras pessoas com teóricas altas responsabilidades - se preste a entrar nestas redes sociais sem perceberem que além de constituírem uma ameaça à privacidade das pessoas, podem servir para tudo menos para comunicar. Na minha opinião, a visibilidade do Facebook não passa de foguetório de brigas e cobardias, mais para destilar ódios que para esclarecer e estreitar relações Não sou cliente.  

Sem comentários:

Enviar um comentário

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...