22 agosto, 2012

Verdades e legalidades à moda do Benfica

Volvidos 38 anos a ver assassinar a liberdade de expressão, que é afinal a migalha que nos resta de uma Democracia traída, estou ainda por saber qual foi a importância para o país da constituição de governos eleitos com a legitimidade do voto popular. É que, a legitimidade em si não confere qualidade aos votos do povo, o que significa que nem a liberdade  chega para tornar um povo consciente dos seus deveres e direitos cívicos, em suma, um povo ciente do que quer, e quem quer, para o governar.

Pessoalmente, prezo muito a liberdade, mas não me importava nada que ao longo destes anos tivesse tido um ou mais governantes com coragem para dizer ao povo algo como isto: «a liberdade é demasiado importante para ser maltratada, por isso, há que a merecer. E para a merecer não vale fazer batota. Por conseguinte, meus senhores, quem fizer batota terá de ser responsabilizado». Mas, para o recado passar, teriam de acrescentar isto: «Pela parte do Governo tudo faremos para não vos defraudar. Seremos os primeiros a servir-vos de exemplo, ou seja, a não fazer batota. Finalmente, teriam de dar garantias com isto: «em caso de incumprimento ao prometido, facultaremos ao povo mecanismos legais simples e céleres, para nos destituir  e eleger novo Governo».   "Olha, lá está este outra vez a sonhar", estarão alguns agora a pensar. Pois é. Lá dizia o outro que o sonho comanda a vida, e entre ser comandado pelo sonho ou por vigaristas bem falantes eu prefiro o sonho.

Se na história recente pós Abril/74 tivéssemos tido líderes à altura, com uma visão correcta da democracia, talvez hoje fossemos poupados a espectáculos degradantes, como termos assassinos no Conselho de Estado, deputados que surripiam gravadores a jornalistas, já para não falar das grandes negociatas ou do enriquecimento ilícito de um razoável número de políticos. É que, semelhantes comportamentos, além de reprováveis, têm o inconveniente de contaminarem toda a sociedade.

Se a liberdade privilegiasse a seriedade e reprimisse a fraude, seria impossível ouvirmos coisas como as que proferiu o empresário do jogador Luisão do Benfica aos jornalistas acerca de um eventual castigo pela agressão sobre um árbitro num jogo recente com uma equipa alemã. Disse ele que (sic) «elementos do Benfica garantiram ao jogador haver poucas possibilidades de ser castigado». E acrescentou:  «ele apenas se limitou a defender um colega. Ia a correr e chocou contra o árbitro. Não tinha intenção de o fazer».  «Foi só um encontrão, estão a fazer uma tempestade num copo de água. Ele está tranquilo e focado no trabalho, no seu dia a dia. Sabe separar as coisas, um jogador da sua envergadura consegue suportar isto».

Ter o desplante de negar o que aconteceu, com imagens que não deixam a menor dúvida, é atentar cobardemente contra o direito à liberdade de expressão e contra quem preza os bons costumes. Mas nem sequer é o empresário o maior irresponsável, são os dirigentes do clube, a comunicação social que neste caso se demite de fazer pedagogia, e o próprio jogador.

Imagine agora o leitor que vai na rua descansado e depara com um tipo a uma distância de uns 10 metros que desata a correr na sua direcção, provoca o choque consigo  [inadvertidamente, ou não, para o caso é irrelevante] e você cai inanimado. O que diria quem assistiu a esta cena se no fim dissessem que você caiu de propósito, que simulou o desmaio pervertendo completamente a verdade dos factos? Como é possível então colocar em dúvida a intenção do jogador? E como é possível que alguém do Benfica adiante prognósticos sobre decisões do foro da Justiça? E como é possível que os jornalistas não se indignem com a situação? E como é possível ainda tudo isto passar despercebido e sem merecer comentários das instituições do Estado e das autoridades desportivas nacionais? 

Ah, mas que espanto o meu... É possível sim senhor, porque vivemos num país medíocre, onde a depravação moral dos líderes há muito bateu no fundo. Estamos entregues a nós próprios. Em "liberdade"...

3 comentários:

  1. É o clube da verdade desportiva,todos os outros são desonestos,só eles é que jogam limpo,ainda no último domingo foi o que se viu,hoje descobriram mais um aldrabão que ajudava as instituições sacando uns milhões,será que os gajos têm um virus lá no clube do regime?
    Abraço
    manuel moutinho

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  2. Presidente da FPF vai acompanhar o presidente do Benfica; Benfica tranquiliza o jogador dizendo que dificilmente levará castigo. Se fosse com um clube que nem preciso dizer o nome, caía o Carmo e Trindade, promiscuidade, amiguismo, sistema, etc., como é o clube de todos os regimes, não passa nada, ninguém se incomoda, muito menos se choca.

    Abraço

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  3. A Liberdade é muito bonita quando é respeitada e compreendida, só que neste país confunde-se muito Liberdade com Anarquismo, Libertinagem e Ladroagem. Estamos a pagar uma grande factura à custa da Liberdade.
    Quando em nome da Liberdade somos roubados, assassinados, espoliados por governos incompetentes, com muita gente corrupta que desaparecem da política com os bolsos cheios e com a justiça a olhar para o lado, porque muitos deles comem do mesmo prato. Com isto quero dizer, que infelizmente a Liberdade dá jeito a muita gente.

    Quanto à desonestidade do clube do regime isso já vem dos primórdios desde que eles existem.
    Quando um empresário fala dessa maneira, é porque está bem informado pela escória da trupe.
    Quando situações destas se passam com os outros, vão para as masmorras com estes cavalheiros são logo condecorados!... ele até vai mudar de nome, vai passar a ser Luisinho das meiguices.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...