04 julho, 2012

Meias verdades

Será defeito meu talvez, porque vejo muito pouca gente preocupada com o assunto, mas nunca me passou pela cabeça ter hoje que concluir que a única coisa que separa uma ditadura do regime actual, é a possibilidade de constatarmos os factos e de os podermos comentar. Isto, se falarmos dos cidadãos, porque se estivermos a referir-nos a jornalistas e fazedores de opinião, nem para comentar seriamente os factos têm coragem.

Senão vejamos: será porventura surpreendente que o Porto lidere - como noticia o JN de hoje - o ranking dos ataques a ourivesarias? Mas é claro que não! E não é difícil encontrar razões. A primeira, é porque, é no Porto, em Gondomar, a região do país onde há mais ourives, logo onde há peças valiosas, que é o que qualquer assaltante procura. E depois, a principal razão, porque fica no Porto, e no norte do país, a região onde o nível de desemprego atingiu as maiores proporções e simultaneamente aquela que mais espoliada foi [e continua a ser] por sucessivos governos. Logo, só um cretino daqueles muito retintos é incapaz de dissociar o aumento de desemprego com o aumento da criminalidade. Isto, são factos, mas factos para os quais não é preciso grande coragem para os constatar, e comentar. São os "bons" factos para o tipo de  jornalismo que hoje se faz.

Agora, faltam os outros factos, os maus, aqueles que realmente incomodam os jornalistas, ou seja, citar a ordem em cadeia dos nomes e das causas que os originam. Pois aqui vai a novidade: os primeiros responsáveis pela criminalidade e a violência, são, as pessoas [sim, porque os governos são compostos por pessoas] que [des]governaram o país de 1974 para cá.  Todas! Ah heresia, o que eu fui dizer! Pois é, isto pode parecer assustador mas é a pura realidade. No entanto, poucos têm a coragem de o escrever!

Dito isto, é eticamente censurável que os jornalistas que temos continuem a assobiar para o lado fingindo que ignoram as fontes da criminalidade, tratando os governantes como se eles nada tivessem a ver com o fenómeno. Consequentemente, o nosso infortúnio não resulta apenas da incompetência de quem nos tem governado, mas também de quem só faz metade do serviço público que devia ser informar, de quem só transmite o que é conveniente, de quem teme represálias e procura esconder cumplicidades com o poder: os jornalistas. Se juntarmos à incompetência de ambos [governantes e jornalistas], a veia criminosa de uns tantos, é caso para dizer que a integridade é uma palavra morta que há muito se afastou de certos humanóides. A integridade tem dias...

Cavaco Silva já tinha deixado fugir-lhe o pé para o chinelo - do qual nunca mereceu ter saído, aliás - quando teve a amabilidade de convidar o povo a emigrar, logo seguido pelo acéfalo discípulo Passos Coelho, dando assim início a uma nova geração de imbecilidade cuja duração e efeitos colaterais são difíceis de imaginar. Mas nunca serão positivos, podemos estar seguros.

Se porventura estiver a ser lido por algum conterrâneo que já meteu pés ao caminho e emigrou - não para seguir o "conselho" destes idiotas, mas para poder cuidar do futuro - gostava que me permitisse também a mim dar-lhe um conselho, mas dos bons: se a vida  lhe correr bem, se começar a ganhar dinheiro, por favor não se porte como um idiota e deposite-o num banco do país que lhe permitiu ganhá-lo. Porque, para além de ser um acto de gratidão, irá contribuir activamente para a redução em Portugal dos proxenetas de Estado encartados. Faça isso.

9 comentários:

  1. Ja que o final do texto "se dirige" a minha pessoa, cabe-me ter a delicadeza de responder...

    Eu emigrei para o Reino Unido (dai a escrita sem acentos) em finais de Agosto (bem antes de comecarem a mandar as pessoas emigrar).

    Sou Eng. Mecanico, formado na FEUP e, felizmente, nao me posso queixar de nao ter tido trabalho enquanto ai estive... mas cansei-me de ser gerido por gente que nao me dava valor nem aos meus colegas... preferindo renovar a frota automovel dos directores ano sim, ano nao...

    Nos ultimos anos, trabalhei como Bolseiro de Investigacao, ganhando cerca de 980€. Nao pagava impostos, porque era uma bolsa e tinha, apenas, o seguro social voluntario, para descontar para a Seguranca Social.
    Tal como eu, varios dos meus colegas eram bolseiros ad eternum. No final de cada bolsa la eramos "presenteados" com mais uma... bolsa anual...

    Prevendo que no final da minha 3a bolsa se seguiria uma 4a e sem perspectivas de melhoria, apesar da eterna promessa de um contrato pelo chefe, (contrato esse que tambem nao era muito melhor que a bolsa) decidi arriscar e sair no final da bolsa...

    A minha namorada tinha arranjado emprego no RU e eu vim com ela.

    Ao fim de um mes, empresa onde ela trabalhava estava com necessidades de pessoal para trabalho de laboratorio.

    Como era da minha area, recrutaram-me temporariamente para dar uma ajuda. Ofereceram-me um contrato equivalente ao que dariam a um estudante que fizesse um estagio curricular.
    Descontando impostos e Seg. Social, ganhava, liquidos mais do que alguma vez tinha ganho em 5 anos de trabalho em Portugal...

    Em pouco tempo, reconheceram o meu valor e as mais-valias que trazia para a empresa. Nao tardaram em contratar-me para o quadro, com um ordenado que, sendo medio para os padroes do RU, e mais do dobro do que ganharia em Portugal se por ai ficasse, bolseiro ad eternum...

    O dinheirinho que vamos juntado aqui (e vamos mesmo conseguindo juntar algum) dificilmente saira dos bancos ingleses...
    Antigamente, as pessoas que emigravam iam com desejo de fazer a sua casinha para voltar para a terra... eu nao tenho grande interesse nisso!
    Dinheiro meu, dificilmente ira para Portugal tao cedo...

    Mas, nunca digo nunca...

    Peco desculpa pelo tamanho do texto, mas nao conseguia resumir mais a minha "historia"...

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  2. Meu caro,
    só posso aplaudí-lo. Por acaso tenho um sobrinho com o mesmo curso [Engº.Mecânico]que já está há alguns anos sem encontrar emprego por aqui. Ele bem responde aos [poucos] anúncios que aparecem mas... falta-lhe o Sr "cunha" sabe.

    Enfim, é o país do fado e do Órgulho futeboleiro.

    Um abraço e boa sorte!

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  3. Pior que a "cunha", Rui, e mesmo a falta de reconhecimento dos patroes.
    Enquanto ai estava, ia recebendo ofertas de emprego pelo IEFP. Certo dia, recebi uma para Coimbra, pedindo Eng. Mecanico, Licenciado, Full time, pagando 500€/mes...
    Isto e gozar com as pessoas...

    Depois temos patroes que so se preocupam com as empresas para tirar de la o maximo possivel.

    Ao longo do meu trajecto profissional, passei por excelentes empresas, empresas medianas e outras pessimas, que so se vao aguentando porque pouca ou nenhuma concorrencia tem... no pais!

    Um amigo meu, dono de uma PME de sucesso, e um exemplo para mim, tem algumas premissas que sao, no meu entender, a melhor forma de ver a vida empresarial:

    - Nao tira nada da empresa alem do ordenado e carro;
    - Os lucros da empresa sao reinvestidos nela propria (formacao, equipamento, etc);
    - valoriza os funcionarios como se fossem familia (a empresa tem mais de 20 anos e a maioria esta la desde o inicio;

    A ideia dele e esta: "Os meus funcionarios sao a minha empresa. Sem eles nao ha empresa. Sem empresa eu nao tenho mais nada!"

    Quantos empresarios tem esta mentalidade?!
    Quantos nao preferem comprar grandes carros em vez de oferecerem ordenados condignos aos funcionarios?!

    Pois eu fartei-me...
    Em pouco tempo aqui, deram-me o reconhecimento que reclamei durante 5 anos no meu pais...

    Tanto eu como a minha namorada somos elogiados por sermos excelentes trabalhadores (nos primeiros tempos chamaram-me "workaholic") o que e um sinal de que nos, portugueses, somos tao bons, ou melhores, que qualquer outro... mas como e que podemos render ai com um patrao que acha estranho que se saia as 18 horas e nao fique ate as 19 ou 20h?

    Aqui, alem de um bom nivel de vida, ganhamos... tempo para ter uma vida!
    Trabalhamos das 9 as 17h, Ponto.
    A essa hora esta toda a gente a sair e a por os outros porta fora.

    Temos tempo para nos, para ir dar um passeio, etc...
    Quanta gente pode dizer o mesmo em Portugal?

    Tenho pena dos meus familiares e amigos que por ai ficaram... mas nao me vejo a voltar tao cedo...

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  4. Meu caro,

    deixe-se estar por aí, porque essa é a sua verdadeira pátria. Reserve o sol de Portugal e a família para as férias, porque essa coisa da saudade às vezes leva-nos a andar para trás.

    Quanto ao seu amigo, de facto é uma "ave" rara se se tratar de um português. Essa devia ser a mentalidade de todos os empresários, mas em Portugal ainda não faz escola.

    Continuação de boa estadia e muito sucesso!

    Um abraço

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  5. No meio da mediocridade ainda há gente boa em Portugal. Esse meu amigo é um deles.

    Português e Nortenho de gema (como não podia deixar de ser). :)

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  6. Estou de acordo quando diz, que só ainda não é uma ditadura pelo facto de ainda se ir podendo dizer alguma coisa, mas, não é preciso ir muito longe para que isso seja quase uma realidade, basta ver os tiques do 1º ministro.
    Este Governo é igual ao outro, até parece uma fotocópia.
    Sócrates verso Relvas licenciaturas
    por telefone pra amigos.
    Nós vemos e ouvimos debates televisivos, de gente que diz declaradamente a mafiosidade que se passa em muitas Instituições do Estado e não só, dos tachos de deputados e ex/deputados ministro e ex/ministros que por lá andam germinar e corroer, e nós o povinho é que temos que pagar a factura.
    Acho que o estado de graça deste Governo (se é que alguma vez houve) Já Acabou... Rua.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  7. Última hora:
    Tribunal Constitucional considera inconstitucionais os cortes dos subsídios. Apesar disso, este ano mantêm-se os cortes, mas para o ano têm de pagar.

    Quero ver como o Passos vai descalçar a bota...

    Abraço

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  8. Com estas habilidades de gente que nunca teve importância, mas que chegou a 1º ministro.
    Espero o fim deste Governo, que descanse em paz, e ao fim de 7 dias haja missa.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  9. Não se preocupem que o passos deitando mão do nacional desenrascanso arranjará maneira de contornar a constituição e adeus subsidios!

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...