05 agosto, 2010

Norte político e Norte clubístico. Incompatíveis?

Nem quero sequer admitir que o MPPN não consiga atingir o primeiro objectivo que consiste -  como é do conhecimento público -, constituir-se em  partido político com representação parlamentar na Assembleia da  República.  Este aparente pessimismo, resulta de uma profunda convicção pessoal  assente em dois factores ligados entre si:
  • a perda de capacidade de indignação dos nortenhos perante os excessos [abusos] do centralismo, particularmente por parte das chamadas elites.
  • a clubite nortenha centralista [adeptos nortenhos do Sporting e principalmente do Benfica], incompatível com os interesses locais, entre os quais se incluem incontornavelmente os dos clubes de futebol da região.
Neste preciso momento, não faltará decerto quem tenha vontade de me contrariar com a costumeira [desculpem-me a expressão], conversa da treta de que "o nosso mal é confundirmos o futebol com a política, etc. e tal", porque se é ponto assente que quase tudo na vida é político, o futebol é, social e etnograficamente, o fenómeno mais político de todos. Mais político que partidário, entenda-se. Não fora isto uma absoluta verdade, teríamos os telejornais, as rádios e a imprensa, com diferentes critérios de informação desportiva [e de outro tipo] que não os aplicados agora, e desde há longos anos, onde a componente do futebol é pornograficamente explorada por um único clube: o Benfica. Todos sabem que esta é  a mais pura verdade, execepto os benfiquistas, incluindo alguns nortenhos "regionalistas". E isso é grave, porque é racionalmente desonesto e politicamente pernicioso. Para o Norte...

Mas também é verdade que muitos adeptos de clubes nortenhos, incluindo os do FCPorto, tardam em perceber que os nossos problemas mais sérios não se resolvem com as victórias dos nossos clubes, que é preciso prestar uma maior atenção às questões de carácter político e social, intervir, participar na coisa pública. O futebol não é tudo. É talvez por haver uma disponibilidade excessiva para o futebol em comparação com outras actividades, que os traumatizados anti-futebol, ou os intelectuais de "cerâmica", culpabilizam os apreciadores da modalidade - como é o meu caso - por todos os males do país.

Modestamente, pela minha parte, tenho feito os possíveis por arrastar para a participação cívica essa gente, procurando sensibilizá-la para outros problemas em contactos na blogosfera do futebol, coisa que nem todos acham dever fazer e que eu não entendo muito bem porquê, diga-se. 

O MPPNorte, não deve temer chamar a si esta gente, nem tão pouco fugir da clubetização dos assuntos por muito que isso possa parecer contraproducente. O Norte não é o FCPorto, nem o Porto. E também não é o Sporting de Braga, nem Braga, ou o Victória de Guimarães e Guimarães, mas é económica, afectiva e geograficamente, muito mais a soma disto tudo, do que o Benfica e Lisboa juntos. A tarefa é dura, complicada, mas é preciso explicar sem sofismas estas pequenas grandes diferenças. Não será fechando os olhos aos obstáculos que conseguiremos transpô-los. 

Luís Filipe Menezes - um excelente autarca -, atingiu o princío de Peter por cometer esse erro crasso quando chegou a Presidente do PSD e calou abruptamente o discurso regionalista, em Lisboa... 

A causa da Regionalização é apenas uma ferramenta que serve para governar melhor, não é um fim em si. Depois dela, há muito que trabalhar, muito para corrigir. O país precisa de uma restauração profunda e o Norte ainda mais. Sobretudo na mentalidade. 

4 comentários:

  1. De acordo, eu tento estar nessas duas frentes de luta e cada vez mais os portistas têm de perceber que quanto mais centralista for o país, enquanto toda esta concentração de poderes estiver toda em Lisboa, o F.C.Porto, por mais que tente, nunca conseguirá uma verdadeira afirmação nacional.

    Contra os sucessos, têm existido os boicotes, as descriminações, as informações deturpadas e assim, mesmo que o F.C.Porto já tenha muitos mais adeptos espalhados pelo país e aqui e ali, tenha algumas culpas no cartório, não há dúvidas que com este país, é difícil alterar as coisas.

    Um abraço

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  2. "Todos sabem que esta é a mais pura verdade, execepto os benfiquistas, incluindo alguns nortenhos "regionalistas".

    Caro Rui Valente,

    aqui chegado creio que terá consciência da exclusão a que vota muitos portuenses e nortenhos. E isso não é bom para a causa maior de um partido do norte que se bata pela regionalização. Não digo que, sob determinados pontos de vista e paixões pessoais, isso não seja uma ideia que, facilitando os termos, não seja coerente. Mas é-o somente para os próprios, para os portuenses que são também adeptos do FC Porto. Não para os outros e, sabemos, isso das paixões clubísticas muitas vezes pouco têm de coerência. Lá está, são paixões ;)
    Mais ainda quando sabemos, ou desconfiamos o que no caso vai dar ao mesmo, de comportamentos menos "respeitáveis" de agentes do futebol (abra-se aqui o mapa para estender essa crítica do norte ao sul, e ilhas já agora). Essa colagem do futebol, ou agentes do futebol, a causas políticas, nomeadamente à regionalização, poderá (repare que digo "poderá", não sou especialista em marketing e muito menos bruxo), ter sido uma das causas ou para ela ter concorrido, da derrota da regionalização na consulta popular a esse respeito.
    Ao contrário do futebol, para fazer vingar a regionalização, é curto o argumento "futeboleiro" dos "poucos mas bons". Não. São precisos senão todos, pelo menos uma grande maioria, os "bons" e os outros.

    (pequeno esclarecimento que creio não se justificasse mas, ainda assim, aí vai: não digo isto por ser benfiquista ou sportinguista, que não sou. No que toca à bola sou do Boavista clube que, sintomaticamente ou não, não refere no seu post quando elenca outros clubes da região norte.)

    cumprimentos

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  3. Caro LAM,

    O que eu quis enfatizar foi a necessidade do MPPN atacar o problema da clubite pela raíz, ou seja, "obrigar" os adeptos de futebol a pensar primeiro na região e só depois nas "paixões" dos seus clubes. Ou estão com o Norte, ou com o clube.

    Aqui chegados, depara-se a grande realidade. E a realidade, é esta: os adeptos de clubes da região Norte [Portistas, Boavisteiros, Salgueiristas,Braguistas,Vimaristas,etc.]que é como sabe a região do país mais flagelada pelo centralismo e na qual nasceu o MovimentoPPN, teoricamente, estarão mais disponíveis para abraçar a Regionalização sem complexos. Naturalmente menos, do que os do Benfica ou Sporting que têm, como concordará, beneficiado com o centralismo, quer desportiva, quer economicamente.

    Isto já para não falar da comunicação social...

    Pensar que estes adeptos defendem uma distribuição mais justa e equilibrada da riqueza nacional e do protagonismo dos clubes do norte é pura ilusão e demagogia. Eles sentem-se bem assim porque sabem que são beneficiados.

    Há por aí alguns que se dizem regionalistas, mas não resistem a colocar muitas reticências e entraves ao processo na hora da verdade.

    Está provado - e o amigo se é Boavisteiro, sabe do que estou a falar - que a mistura do centralismo com o fanatismo clubístico é capaz de tudo, incluindo de arrumar, como arrumou, com o Boavista para a 2ª Divisão. Fê-lo, como tentou fazer com o FCPorto e não foi preciso falar-se da Regionalização.

    Portanto, embora seja melindroso falar deste problema, vale mais enfrentá-lo, esclarecendo devidamente as pessoas que o momento não é para pensar no clube, mas sim na Região.

    Para além de tudo, é o Norte no seu todo, com a pluralidade afectiva clubística que ele comporta que tem de se livrar do jugo centralista, e os clubes [todos] do Norte pertencem ao seu património natural, como as Câmaras Municipais. Não há diferença.

    Cumprimentos

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  4. Eu sou um grande adepto para o MPPN e para a regionalização; mas, com a regionalização espero que a cidade do Porto não passe para mais uma cidadezinha do Norte. A cidade é, e será sempre a maior referência (olhando a sua importância na vida política nacional, e à sua história) no Norte e em Portugal.

    Mais uma vez a ignorância sem vergonha! está na iminência de perder o Centro Materno Infantil
    como perdeu o Corte Inglês,a Linha teleférica, as obras no Bolhão,o abandono da av da Boavista,a Metro, obras da Circunvalação e tantas outras coisas.Por ser incapaz de negociar, por estar zangado com toda a gente, (autarcas do Grande Porto)este senhor vai ficar para a historia como pior autarca da cidade do Porto.Se esta perssonagem se fosse embora hoje!... já era tarde.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...