Desculpem-me voltar à carga com a questão do futebol, mas considero de extrema importância denunciar alguns equívocos que giram à volta do tema sempre que o relacionamos com a política.
Em primeiro lugar [vou-me repetir, mas não me importo], poucas coisas conheço que não tragam consigo um qualquer sinal político. Até na hora da morte, que ao momento é das poucas barreiras que ainda não conseguimos superar, as pessoas têm tratamento diferenciado [ou não vivêssemos nós numa sociedade classista]. Um doente terminal endinheirado pode não resistir à ferocidade de um cancro, mas terá garantidamente mais recursos económicos e financeiros para se defender do que um pé-rapado. Quando falamos em ricos e pobres, estamos a falar de política, uma eterna guerra-fria entre o capital e o social, travada entre os cidadãos e os partidos políticos que representam ambas as tendências. Então, porque raio teria o futebol de ser a excepção?
Nascemos e crescemos a ouvir determinado tipo de clichés e não hesitamos em recorrer a eles sempre que queremos dar consistência acrescida aos nossos argumentos ou às nossas paixões, passando grande parte das nossas vidas a repetí-los como se para além dessas "certezas" só existisse o vácuo. Quantas vezes dizemos que "podemos trocar de carro, ou até de mulher, mas nunca de clube"? Presumindo que as mulheres pensarão o mesmo em relação aos homens, não haverá neste discurso paixão a mais para racionalidade a menos? Pois é. Parece que já estou a ouvir alguém dizer: o futebol é isto mesmo, paixão [não é lengalenga exclusiva de treinadores e jogadores], e é por isso que arrasta multidões, blábláblá. A realidade, é que o futebol na Europa é o único desporto catalisador das raízes populares, e simultaneamente, aquele que mais as une e divide. O futebol é um paradoxo respeitável.
Então, como poderemos contornar esta "paranóia" colectiva para nos concentrarmos em coisas mais sérias? Destruindo o futebol e a paixão clubística, ou esclarecendo as populações?
Compreende-se, que dá menos trabalho aos dirigentes políticos - também eles influenciados por clichés e paixões -, resolverem politicamente este dilema optando pela colagem tácita [ou nem tanto] ao clube que teoricamente lhe garanta mais votos. Em Portugal, esse clube chama-se Benfica, todos sabemos. Agora, pergunta-se: será essa a solução acertada? Colarem-se à fonte do problema, arriscando-se a fazer parte dele? Creio que não. É que, foi também às cavalitas deste comodismo político-ideológico que se gerou ao longo destes anos toda uma panóplia de discriminações que redundaram no hiper-centralismo de hoje.
A solução, passaria pois por explicar às populações que o Norte, essa grande região, precisa de todos os nortenhos, incluindo daqueles cujas paixões clubísticas pouco têm a ver com a região, porque são sobretudo esses que precisam de ser persuadidos, aqueles que oferecerão mais resistência à Regionalização por razões óbvias. Não tenhamos ilusões.
Gostaria de não estar tão seguro das minhas convicções, mas ao longo destes anos, e já são alguns, habituaram-me a não ver nos adeptos dos clubes centralistas a clarividência intelectual e política que reclamam agora para os nortenhos com a Regionalização. Não me recordo de os ver separar, ciosamente, as águas do futebol e da política sempre que tal se impunha. E tiveram tantas oportunidades para o fazer! Bem pelo contrário, nunca os vi solidários, genuinamente preocupados com a pobreza do Norte. Reivindicam isso sim, sempre, e cada vez mais para si, para Lisboa.
A guerra Norte / Sul, é ao contrário, é Sul / Norte, porque foi e continua a ser o centralismo que implicitamente a declarou, fazendo das televisões e jornais as suas guardas pretorianas de eleição. O Norte, limita-se a defender-se e lamentavelmente, mal.
Nascemos e crescemos a ouvir determinado tipo de clichés e não hesitamos em recorrer a eles sempre que queremos dar consistência acrescida aos nossos argumentos ou às nossas paixões, passando grande parte das nossas vidas a repetí-los como se para além dessas "certezas" só existisse o vácuo. Quantas vezes dizemos que "podemos trocar de carro, ou até de mulher, mas nunca de clube"? Presumindo que as mulheres pensarão o mesmo em relação aos homens, não haverá neste discurso paixão a mais para racionalidade a menos? Pois é. Parece que já estou a ouvir alguém dizer: o futebol é isto mesmo, paixão [não é lengalenga exclusiva de treinadores e jogadores], e é por isso que arrasta multidões, blábláblá. A realidade, é que o futebol na Europa é o único desporto catalisador das raízes populares, e simultaneamente, aquele que mais as une e divide. O futebol é um paradoxo respeitável.
Então, como poderemos contornar esta "paranóia" colectiva para nos concentrarmos em coisas mais sérias? Destruindo o futebol e a paixão clubística, ou esclarecendo as populações?
Compreende-se, que dá menos trabalho aos dirigentes políticos - também eles influenciados por clichés e paixões -, resolverem politicamente este dilema optando pela colagem tácita [ou nem tanto] ao clube que teoricamente lhe garanta mais votos. Em Portugal, esse clube chama-se Benfica, todos sabemos. Agora, pergunta-se: será essa a solução acertada? Colarem-se à fonte do problema, arriscando-se a fazer parte dele? Creio que não. É que, foi também às cavalitas deste comodismo político-ideológico que se gerou ao longo destes anos toda uma panóplia de discriminações que redundaram no hiper-centralismo de hoje.
A solução, passaria pois por explicar às populações que o Norte, essa grande região, precisa de todos os nortenhos, incluindo daqueles cujas paixões clubísticas pouco têm a ver com a região, porque são sobretudo esses que precisam de ser persuadidos, aqueles que oferecerão mais resistência à Regionalização por razões óbvias. Não tenhamos ilusões.
Gostaria de não estar tão seguro das minhas convicções, mas ao longo destes anos, e já são alguns, habituaram-me a não ver nos adeptos dos clubes centralistas a clarividência intelectual e política que reclamam agora para os nortenhos com a Regionalização. Não me recordo de os ver separar, ciosamente, as águas do futebol e da política sempre que tal se impunha. E tiveram tantas oportunidades para o fazer! Bem pelo contrário, nunca os vi solidários, genuinamente preocupados com a pobreza do Norte. Reivindicam isso sim, sempre, e cada vez mais para si, para Lisboa.
A guerra Norte / Sul, é ao contrário, é Sul / Norte, porque foi e continua a ser o centralismo que implicitamente a declarou, fazendo das televisões e jornais as suas guardas pretorianas de eleição. O Norte, limita-se a defender-se e lamentavelmente, mal.
Rui, quer um exemplo claro, a transferência do Ramires. Aquilo cheira a esturro do princípio ao fim, mas o que vê? Nada, ninguém quer saber, ninguém investiga, já passou à histório e a mensagem que passa é Ramires saiu por 22 milhões de euros. Será assim? Não é, não e como explica e bem o Manuel F., aquilo é um escandâlo. Se fosse com o F.C.Porto, eles não paravam, iam a tudo e todos os lados para saber a verdade, faziam juízos e julgamentos que queriam e condenavam até ser julgar.
ResponderEliminarEnquanto não equilibrarmos esta luta, não temos muitas possibilidades e só a conseguiremos equilibrar, no caso do F.C.Porto, quando o clube sair a terreiro e tiver outra forma de comunicar, na política, é igual, como você sabe, está muito difícil passar a menseagem.
Um abraço e bom fim-de-semana
"A solução, passaria...".
ResponderEliminarNeste parágrafo, está definido o grande obstáculo à criação de uma Região Norte. Uma vez ultrapassada esta barreira e superada a animosidade que se detecta quanto à possibilidade de vir a ser o Porto a sede da Região, todos os outros obstáculos seriam superados.
Vila Pouca,
ResponderEliminaresse é mais um cambalacho do Homem dos Pneus.
Mas podemos estar descansados, que o senhor Procurador outrora tão lesto a nomear equipas de investigação para o processo Apito Dourado, vai ficar impávido e sereno com este caso. Faltam-lhe poderes!
Bom fim de semana!
Caro R.M.Silva Costa,
ResponderEliminartem razão, mas é lamentável que as pessoas reajam assim. Essa ideia postiça do portocentrismo associada à clubite aguda choca mais pela imbecilidade que comporta.
Quer um exemplo? O Dr. Luis Filipe Menezes tem feito um trabalho notável em Gaia. Esta cidade gémea do Porto, cresce, desenvolve-se e progride a olhos vistos, contrariamente à cidade do Porto cujo autarca não passa de um complicómetro em forma de gente.
Com ele, o Porto regrediu quase tantos anos como os que leva à frente da Câmara. Pergunto: que culpa tem Vila Nova de Gaia que o Porto tenha estagnado? Devemos por isso rotular a cidade de Gaia de gaiocentrica?
Há quem não queira perceber que a grandeza de uma cidade não tem exactamente a ver com o seu efeito centralizador, mas antes com a capacidade empreendedora dos seus munícipes.
A clubite vai ser um caso sério para os regionalistas.
Um abraço e bom fim de semana
Rui Valente,
ResponderEliminarCreio que agora, com este seu post, nos entendemos melhor: a questão da regionalização é antes de mais uma questão política (e cultural), que tanto mais se afirmará quanto mais inclusiva for. Daí o meu comentário mais abaixo.
Será mais ou menos pacífico que adeptos de clubes nortenhos, vilipendiados e espoliados ao longo de décadas, que levam diariamente com uma comunicação social que, ou escamoteia ou denigre os seus feitos conforme o serviço ocasional a prestar ao "grande", "enorme", clube centralista; conheçam e se revejam, também por essa via, numa alternativa regionalista de afirmação do norte e dos seus valores. Esses, se forem conscientes, estarão na primeira linha. Mas é preciso mais. É preciso mostrar a todos os nortenhos, independentemente das suas cores clubísticas e sem nisso interferir sob pena de se confundirem os objectivos, que o sufoco centralista se faz sentir nos muitos aspectos do quotidiano, das questões práticas da qualidade de vida ao respeito pelas origens, pela cultura e pelos anseios.
E isso toca a todos, seja lá qual for o cachecol que usem ao domingo.
um abraço