20 março, 2008

Estarão apaixonados?



O que me vale, é não ser muito propenso a vómitos, de outra forma transformava o estômago numa autêntica máquina de produzir úlceras. Para que isso possa acontecer, nada melhor do que ouvir certas frases, proferidas por alguns políticos, sobretudo quando ganham estatuto mediático ou, como se diz agora, têm boa imprensa e depois se babam com o eco da própria voz.

Foi o caso de António Vitorino, que, num assômo de elevado fair-play democrático, teceu esta semana, os mais altos elogios ao seu adversário político, Rui Rio. A frase que melhor arranjou para o justificar foi esta: "mostrou ao país que o futebol não é tudo".

Pois é claro que não é. Que o diga a legião de desempregados que o govêrno do seu partido vem multiplicando no Porto para perceber que a redundância da descoberta dispensaria fazer de todos nós alienados do futebol.

Se Rui Rio fosse Presidente da Câmara de Lisboa e tivesse a insolência de fazer com os lisboetas o que fez aos portuenses e tivesse feito do Benfica o principal cavalo de batalha para se guindar aos poderes centralistas, duvido que António Vitorino fosse tão altruísta nos pirôpos. Assim, os elogios cheiram mais a presente envenenado e a populismo centralista do que a qualquer outra coisa, incluindo a uma simples e sincera opinião.

António Vitorino não é do Porto, nem sequer consta que cá venha muitas vezes, por isso, é perfeitamente leviano e gratuito o elogio a Rui Rio. Se apontasse uma a uma, as benfeitorias que Rui Rio introduziu nesta cidade e que tenham sido de sua única iniciativa em vez de atrofiar o louvor que lhe fez com o já tão diabolizado mundo do futebol, talvez percebessemos um pouco melhor onde queria chegar.

Assim, lembrei-me de vomitar, mas a vontade não chegou...Os tiques centralistas pegam-se de tal forma que até já dá para namorar adversários políticos. Neste ponto, há que reconhecê-lo, o Govêrno tem tido um óptimo aliado em Rui Rio e vice-versa. Não podemos esquecer-nos que foi Rui Rio quem disse (quando de pára-quedas caído, chegou ao Porto), que não era por berrar contra Lisboa que o Porto se afirmava, e se bem o disse, melhor o fez. Rui Rio calou-se e o Porto infirmou-se. Mais. Por isso António Vitorino o elogia. É uma forma subtil de lhe agradecer os serviços prestados à causa centralista. Assim sim, já se percebe.

Rui Rio, podia até nem gostar de futebol, mas gostar de arte. Podia não gostar de arte e ter uma visão menos economicista do teatro (do tipo laferiano-alfacinha), podia não gostar de cimento e adorar jardins, podia não gostar da criminalidade mas entender-se com a Polícia.

Rui Rio só gosta de 4 coisas (e está a progredir): das corridas de carros antigos, dos aviões da Red-Bull, de conflituar com o Porto e da sua própria honestidade. O problema aqui, é que se tem esquecido de nos mostrar o Certificado de Garantia de Não Promiscuidade entre a Câmara e o seus desportos favoritos (não é o futebol, claro...), como é o caso das corridas atrás referenciadas.

Além de tudo isso, esqueceu-se também de nos informar do que é que ele pensa sobre a sua vaidosa honestidade. Se acha que as suas "ramificações" lhe garantem outras valias como: competência, capacidade de gerir conflitos, poder de iniciativa e ambição regional.

É que, ser-se honesto não chega, essa é apenas a sua obrigação. Se outros, antes dele, porventura o não foram, é grave, mas não pode é viver eternamente dos juros de uma seriedade ainda por comprovar (só no fim do mandato), como se fosse a única coisa que tem para dar aos portuenses, porque isso é muito pouco.

2 comentários:

  1. O elogio público de A.Vitorino é o agradecimento por ele não chatear, reivindicar, reclamar para o Porto, aquilo a que o Porto tem direito.
    Maior nº de desempregados,maior nº de empresas a falirem,a cultura pelas horas da morte, cidade sem vida e quase sem alma( valha-nos o F.C.Porto)é a herança que Rio vai deixar. Por isso o elogio de um centralista como A.Vitorino(não foi ele que disse qua a regionalização não era para já?)não é de admirar.
    Um abraço

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  2. É assim que estes "meninos" dão a volta à cabeça a alguns inseguros do burgo que se sentem complexados por assumirem que gostam de futebol e por temerem que os considerem alienados. De facto, quem anda a aliená-los e bem, são muitos "Vitorinos" como este...

    Abraço

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