05 janeiro, 2011

Populismo

A 5ª. edição [de 1948] do prestigiado dicionário Augusto Moreno ainda não constava do termo populismo.  Deste substantivo, agora muito em voga, o mais próximo que encontrámos são os adjectivos popular e populista cujo significado é praticamente o mesmo e traduzem algo ou alguém que é amigo do Povo. Nas enciclopédias ou dicionários mais modernos é fácil encontrarmos tradução para populismo. No Wikicionário, por exemplo, diz o seguinte: estilo de fazer política, que consiste no uso de promessas demagogas, insuflações regionalistas, e atribuição de rótulos aos adversários eleitorais, com vistas a criar um clima de messianismo e segregacionismo político, de modo a beneficiar o seu praticante.

A questão que me sugere levantar e que devia obrigar certas pessoas - como políticos e empresários - , a reformular as suas intervenções públicas antes de aplicarem tão estafada palavra, é saber se alguém em consciência se pode dar à honra suprema de afirmar que nunca usou de argumentação populista para atingir os seus objectivos. Além de que, para o mesmo efeito, e salvo melhor explicação, seria talvez mais simples e eficaz falar apenas de falsidade, ou de hipocrisia.

Se quisermos registar as declarações dos políticos, antes e depois de serem Governo, depressa concluiremos pelas gritantes contradições que não há gente mais falsa e oportunista do que eles próprios. Diria mesmo que a expressão populismo terá sido criada à medida das suas tradicionais tendências, onde o cumprimento das promessas é o último dos desígnios a atingir. A preguiça e o profundo desprezo pelo serviço público está-lhes na massa do sangue. O oportunismo, esse, é o único "combustível" que conhecem.

Podemos aqui e além discordar das ideias e decisões de terceiros, mas não podemos por isso partir do princípio que nunca iremos um dia concordar com eles. Quando o Bastonário da Ordem dos Advogados afirma que [cito] "não há nenhum partido político verdadeiramente interessado no combate à corrupção" e diz que "o financiamento dos partidos é uma das principais causas de corrupção em Portugal", alguém de bom senso e sem rabos de palha será capaz de dizer que ele está a ser populista? Quando o polémico e pouco convincente candidato presidencial José Manuel Coelho declara que "o povo está farto dos partidos que só metem no Poder senhores engravatados que roubam o erário público", estará a falar de uma abstracção, de algo distante da realidade? Será populista? E que dizer de Paulo Morais, que denuncia como iníqua e suja a nova legislação para o financiamento das campanhas eleitorais? Teremos de discordar dele só para não parecermos populistas?

Até prova em contrário, continuo convencido que o maior defeito do regime Democrático,  é  a incapacidade para se aperfeiçoar em termos selectivos, tanto na escôlha como no controle de quem exerce o Poder. Temos um Governo constituído por gente incompetente e desonesta, e no entanto, esta infantil Democracia obriga-nos a mantê-los no Poder e, pior do que isso, a continuar a assistir impotentes à destruição económica e social do país,  e da própria integridade territorial.

1 comentário:

  1. Ontem ao ouvir a entrevista de Fernando Nobre fiquei esclarecido sobre as possibilidades que quem está fora do sistema tem para aparecer... Eles, os partidos, comem tudo e não deixam nada. Depois é a pouca vergonha que sabemos...

    Um abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...