Mais tardiamente do que a maioria dos países da Europa, Portugal atravessou nas últimas décadas um processo de suburbanização. Os núcleos históricos das principais cidades esvaziaram-se, de forma menos ruidosa do que as regiões rurais, ao mesmo tempo que em volta dos centros urbanos foram nascendo novas colunas de prédios e dinâmicas sociais. A imagem de um território marcado pela dicotomia litoral-interior é simplista: entre os dois polos existe uma diversidade de modelos de transição, em que se encontra de tudo um pouco - parques industriais paredes- -meias com habitações, espaços rurais resistentes entre autoestradas e polos urbanos, cidades que cresceram demasiado depressa e tentam acomodar-se o melhor que podem.
Não será por acaso que hoje se olha para o movimento de revitalização da Baixa do Porto (págs 18 e 19) com um léxico emprestado a programas de repovoamento do interior. As realidades são distintas, mas um denominador comum: falta gente. Por motivos diferentes, urbano e rural dão sinais de um país que não tem sabido crescer equilibrado e que tem na demografia e ordenamento do território problemas sérios.
Prestes a começar um novo ciclo de financiamento comunitário, seria bom ter fé na capacidade das recentemente criadas comunidades intermunicipais para repensar as estratégias de desenvolvimento e o reequilíbrio de um país que fala a muitas vozes. A polifonia pode ser dissonante - e é-o quando, apesar de tanto se falar em sinergias e redes, cada parceiro tenta sempre fazer sobrepor a sua voz à do vizinho.
O desenvolvimento de um país passa pela sua capacidade de ter as pessoas nos sítios certos. Cidades com gente lá dentro. E um território equilibrado, com ideias e dinâmicas próprias onde quer que seja.
Inês Cardoso
(do JN)
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