27 novembro, 2017

A luta que os portuenses tardam a enfrentar

Há um mistério que há muito pousou no Norte do país, e na cidade do Porto em particular, que me custa entender e muito me entristece, que é o modo como as suas gentes têm reagido à marginalização de que têm sido vítimas ao longo dos anos, desde o 25 de Abril até aos dias de hoje. São as suas vidas pessoais e familiares que estão em causa, não é só futebol.

Percebo que 41 anos salazarentos, de regime autocrata e ditatorial, em que além da vida miserável que levavam não tinham liberdade para votar, tenha deixado marcas difíceis de sarar, como o medo. Sobre esta coisa do medo, permitam-me que vos fale um pouco de mim que tive o privilégio de viver um terço da minha vida no Estado Novo, e o resto no regime actual. Para evitar considerações erradas, devo previamente dizer que como qualquer cidadão normal, sei o que é o medo, e sinto-o por intuição, para melhor me defender quando é preciso, mas desprezo-o absolutamente quando tenho consciência da força das minhas convicções. 

As dificuldades para entender o mistério comportamental dos nortenhos, adensam-se com a comparação entre um regime e o outro, porque enquanto no Estado Novo existia uma censura policiada pela PIDE, que nos controlava as liberdades, agora, sendo verdade que não gozamos de uma Democracia sólida, temos liberdade suficiente para a podermos usufruir. Diria mais:  a liberdade que temos é demasiado frouxa em rigor para ser positiva e, se calhar, nada se perdia se ela fosse mais regrada, porque a Democracia só tinha a ganhar com isso. 

Recuando outra vez no tempo, apenas para dar um pequeno exemplo pessoal, não havendo no Estado Novo a liberdade de agora, nem a PIDE, nem os guardas fronteiriços, conseguiram impedir-me de sair legalmente do país  para o estrangeiro quando tinha pouco mais de 16 anos. Isto, numa época em que outros com a mesma idade pagavam para fugir da guerra colonial, ou iam a salto, como se dizia então! 

É verdade, que o antigo regime era castrador das liberdades, mas não propriamente inteligente. Nunca imaginei que me deixassem passar a fronteira próximo da idade da tropa, mesmo com passaporte,  mas passei. Estive lá fora o tempo que quis - e por razões que tinha como nobres -, decidi três anos depois regressar a Portugal para ir cumprir o serviço militar na antiga colónia de Moçambique, que como sabem estava em guerra em 1968. Se fosse hoje, se soubesse o que os políticos fizeram da liberdade e da democracia conquistada, nunca teria regressado a Portugal, para combater em África. Porque hoje me sinto traído, e  ingénuo... Quase me apetece dizer que os políticos cuspiram nas virtudes da Democracia, e por isso nunca a souberam educar.  

Talvez seja este episódio da minha vida que acentua as dificuldades de compreender a apatia cívica dos portuenses perante o nosso maior inimigo comum: o centralismo = racismo étnico = discriminação, ou se preferirem, na versão desportiva: 

benfiquização nacional.

Ah, como compreendo catalães,  bascos, e  irlandeses republicanos... 



2 comentários:

  1. Dizem eles os Inteligentes que somos um país pequeno para se fazer a regionalização, por acaso até há países mais pequenos que nós descentralizados. Até quando é que temos que levar com estes ditadores após 25 de Abril, estes pseudos democratas, estes centralizadores que nos espezinham. Apesar da Catalunha ter um governo próprio e ter melhores condições que o Porto e o Norte, mesmo assim digo, VIVA A CATALUNHA.

    Abílio Costa.

    ResponderEliminar
  2. Deacon Blue27/11/17, 22:02

    A recente manipulaçao pela btv das imagens do lance de penalty de sábado sao o exemplo mais recente de um acto que ajuda ao estado actual do futebol portugués!

    Isto tem de ser utilizado ate que a vaca tussa!

    E como este, "miles de outros" que no passado recente esta gente andou a fazer!

    Estes gajo sao efectivamente quem anda a pegar fogo! A impunidade a fartar vilanagem!

    O programa "...da bancada" anda a fazer cocegas que esta gente nao tem vergonha e passa por cima de tudo!

    DB

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...