29 novembro, 2017

Incoerências que matam a justiça

Resultado de imagem para racismo em portugal
O Porto e o Norte são
estrangeiro para a capital


Sei que me repito, sei que os meus temas são cada vez mais monocórdicos, mas enquanto não encontrar uma razão sólida para me conformar com o comportamento das nossas gentes, vou continuar a bater na mesma tecla. Talvez as consiga persuadir melhor, portuenses, portistas, não portistas e nortenhos, se em vez de falar de centralismo, usar termos mais convincentes, como injustiça, segregação, ou fascismo (este último, não é exclusivo dos comunistas). Não sendo exactamente sinónimos de centralismo, na prática, a diferença entre este, e os outros, é ínfima, se pesarmos as semelhanças. 

A história dos povos está cheia de lutas sangrentas por estas causas, e não é preciso recuar ao apartheid  da antiga Rodésia, ou  África do Sul. O mundo vive em constante guerra, basta olharmos para os telejornais. Mas que diabo, na Europa moderna e democrática, será aceitável que hajam países a praticar esta nova versão de racismo chamada centralismo? Não, não é aceitável nem tolerável! No entanto, em Portugal ele existe, está nu, é impossível negá-lo, e contudo pelas reacções, parece uma coisa muito natural, quase uma brincadeira de miúdos. Parece, mas não é! 

O tempo vai passando, e como é tradição em Portugal, a Justiça anda a passo de caracol. A conclusão da investigação policial dos e-mails do Benfica só daqui a uns mêses (ou anos) será pública. Não é certo que seja conclusiva, dada a envolvência gigantesca de gente influente comprometida com o processo. O programa Universo Porto da Bancada continua a denunciar os escândalos com toda a seriedade e coragem, mas apesar disso, a sensação que me deixa assemelha-se mais a um pedido de favor à Justiça, do que a uma exigência sobre a mesma. Nós temos direito a ela! Não nos fazem nenhum favor, nem o queremos!

Gosto do programa, e quero que tudo o que haja para denunciar seja denunciado, mas se nos ficarmos por aqui, acabaremos por esvaziar de autenticidade a gravidade do problema. O que o Benfica está a fazer é um crime de dimensão incontrolável, social e eticamente condenável, que por isso mesmo sofrerá influências de todo o tipo para ser branqueado, senão no todo, em parte.   

Tal como a corrupção, o centralismo não pode ser apenas combatido com reclamações, por mais fundamentadas que sejam, é preciso gerar massa crítica na sociedade portuense e nortenha, e pôr os melhores protagonistas a debater ambos os assuntos com elevação, mas sem reservas. Há que assumir a cota parte de culpa dos nossos políticos, e da própria classe empresarial que privilegiou os negócios com prejuízo para as regiões de origem.  

No JN, jornal fundado no Porto, há quem tente esconder sem sucesso as tendências pro-centralistas, mas ainda assim conhecem-se alguns jornalistas que vão remando contra a maré, embora com parcimónia. Este faz-que-faz, torna-se mais inexplicável no Porto Canal, por razões óbvias, que dispensam fundamentos. Quando ali o tema da descentralização é abordado, é coisa pontual, não é um desígnio. Não se nota o inconformismo que seria expectável face aos imensos prejuízos causados pelo centralismo ao Porto e à região. Se a isto juntarmos o facto de o Porto Canal ser propriedade do FCPorto, clube que tem sido alvo preferencial da soberba centralista (discriminatória), menos espaço sobra para entender a ausência de programação regular sobre a matéria. É essa também a razão que me leva a discordar do alinhamento seguido pelo director-geral, quando, em vez de aglutinar interesses comuns para a região e lhe dar voz, promovendo debates dinâmicos e mais informais do que juntar na mesa autarcas de cidades e partidos diferentes, decide chamar aos estúdios Freitas do Amaral cuja importância social se assemelha muito à de um Durão Barroso qualquer. Júlio Magalhães, ainda não percebeu que já há muita gente que sabe ver a diferença entre um videirinho político e um político útil.

E onde encaixa aqui o FCPorto, e o parecer do seu presidente? Em que mundo pretende manter-se quando o mundo do futebol está implicitamente integrado no mundo político e social? Que contribuição têm dado para a resolução destes dois problemas (corrupção e centralismo=discriminação) os políticos portistas de todos os partidos  que continuam a ser convidados à Gala do Dragão? É assunto tabu, perguntar-lhes o que pensam destas poucas vergonhas? Não têm opinião? Se todos, sem excepção, andam há anos a promover a bondade da democracia, que raio se andará a passar neste país que os remete ao silêncio perante a constatação de uma, e outra coisa? Estranho, não é?

Será também essa a razão para  Pinto da Costa não dar mais a cara às causas graves? É que, nada disto é aceitável, quando a espaços o senhor presidente do FCPorto se lembra de falar do centralismo, quando não se priva de conviver com eles e até de abrir as portas do Dragãozinho a directores de pasquins lisboetas que odeiam o FCPorto! É uma incoerência que descredibiliza quem a demonstra! Falar de centralismo sem tirar o máximo partido de uma máquina tão poderosa como é um canal de televisão, é como colocar um Ferrari nas mãos de um desencartado, é desperdício político e económico.

Actualmente, o programa Universo Porto da Bancada do Porto Canal, deve ser sem dúvida o canal com mais audiências da televisão portuguesa, e no entanto, é transmitido às 22H30, e nem precisa de mentir ou inventar casos para despertar interesse... Nem com estes sinais o PortoCanal percebeu o que está a perder social, política e economicamente, por não se decidir na produção de outros programas que esclareçam as vantagens da descentralização, e os inconvenientes do centralismo!

Termino com isto: estou farto de ouvir o Porto cidade e o Porto clube gritar "agarra que é ladrão" vezes sem conta, anos a fio, e continuar a ver o ladrão à solta, sem outra reacção. O pior, é que o ladrão continua a roubar...

Chega! É mais que  tempo de "o" prenderem.


PS

Há ainda um pormenor, talvez insignificante para muitos (incluindo a classe política). Quando falei de corrupção, centralismo  e ladroagem,  esqueci o mais grave: HOMICÍDIO (coisa pouca).


6 comentários:

  1. Caro Rui Valente,
    Efectivamente é de uma estupidez, para não dizer outra coisa, que o programa que toda a gente espera, começe ás 22:30H!!!
    Dou como exemplo o meu. Todos os dias da semana de trabalho tenho que me levantar ás 6:15. Ora como tal, apenas me é possivel e em dias "bons" ver talvez um quarto-de-hora do Universo!!! O resto já não posso ou não consigo!
    Se deslocassem esse horário para um dito mais "nobre", p.e. 21h, creio bem que o PC teria o dobro da audiência.
    Mas enfim, manda quem pode e obedece quem deve!
    Como podemos nós lutar contra os inimigos declarados, se os nossos amigos são os primeiros a "não levar a sério" esta guerra?

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  2. Viva Felisberto Costa!

    não são critérios de gestão próprios de um homem experiente,como se esperava que fosse Júlio Magalhães. Fica-nos a suspeita que quem trabalha no Porto Canal está lá de passagem, para ganhar traquejo para outros vôos, tal é o amadorismo que demonstra. Politicamente, é a mesma incoerência, quando se abre as portas a um oportunista como Freitas do Amaral... Ou o Júlio é ingénuo, ou anda a dormir.

    De facto, assim é difícil acabar com o centralismo, se escancarámos as portas aos seus protagonistas, como é o caso.

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  3. Muitos parabéns Rui por este excelente texto. Conseguiu colocar o dedo na ferida. De facto o que tem feito o UPB é notável e o trabalho desenvolvido pelo FJM é de louvar mas....e o resto? Não chega denunciar é preciso ir mais além. Como se tem visto e apesar das denúncias o FCP continua a ser roubado e todos assobiam para o lado,a começar pela nossa Sad.Tem reagido a esses roubos? Não! Oficialmente já tomou posição sobre os emails? Não! A sua passividade envergonha qualquer portista. O Porto Canal podia ser uma ferramenta eficaz no combate ao centralismo mas o que vemos é precisamente o contrário. Convidam para alguns programas benfiquistas assumidos e outros como o Freitas do Amaral que conseguiu fazer um parecer contra nós que é um atentado à verdade. JM não tem coragem para afrontar o poder e tenta salvaguardar o seu futuro. A cidade do Porto presentemente nada tem, rádios, televisões, bancos etc tudo está em Lisboa,até a TAP nos tira cada vez mais rotas. Onde estão as nossas elites? Onde estão os nossos industriais? Por onde anda a nossa massa crítica? Lamentan-se mas nada fazem para inverter a situação, antes pelo contrário vão para Lisboa e são absorvidos pela máquina esquecendo as suas origens. Exemplo mais flagrante e actual é o de FG presidente da FPF.Assim não vamos lá! É urgente mudar as mentalidades.

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  4. Caro Francisco Paulos,

    ontem, estive para fazer um artigo a apresentar condolências pela morte de Belmiro de Azevedo, mas contive-me, para não ser mal interpretado. Tenho sobre este homem uma opinião ambivalente.

    Se por um lado concordo com os elogios que lhe são feitos pela sua grande visão empresarial, por outro, não posso esquecer que permitiu que o jornal Público fosse tomado por Lisboa e deixasse a Rádio Nova a definhar. Há coisas que não aceito nem posso compreender, e essas são um exemplo, sobretudo de um homem que sabia melhor que ninguém as barreiras que os governos centralistas lhe levantaram.

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  5. Meu caro, há gente jovem no Porto, muita, para quem estes problemas são inexistentes.

    Tenho uma visão muito negra do futuro.
    Os roubos do QREN, as vantagens de que o benfica goza, as dívidas perdoadas a um analfabeto presidente ao lado do qual se senta o Governo nos jogos contra o Porto... Tudo isto é irrelevante para centenas de milhar de Portuenses e para milhões de nortenhos, muitos deles vermelhos.

    Estou em crer que nada mudará e como Pinto da Costa é finito, acabou.

    Pela minha parte, continuarei a denunciar esta pouca vergonha.

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  6. Julio Magalhães? Aquele que convidou o Freitas do Amaral?? Esse gajo é um totó.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...