
Cito esta história, porque, enquanto a lia, lembrei-me da acção de despedimento que a Controlinveste moveu a um grande número de funcionários, entre os quais, constam alguns jornalistas do grupo. Pode parecer descabido relacionar o cenário horrível da 2ª. Guerra mundial com a situação de desemprego num jornal, mas a verdade é que, considerados os diferentes cenários, há entre eles um ponto em comum: a consciência do dever.
Von Stauffenberg, foi -como explica a crónica - um militar, criado sob os rígidos princípios do valor pátrio que, mesmo assim, teve a percepção de se arriscar a ficar na história como um traidor, mas que não se deixou subjugar pelos caprichos sanguinários de Hitler. Arriscou (e perdeu) a vida, mas ganhou a honra e a razão da História.
A Controlinveste (felizmente), é apenas uma empresa, não é o Fuhrer. Os jornalistas do Grupo de Joaquim Oliveira, não são soldados, são pessoas assalariadas, que não vivendo numa verdadeira Democracia, tiveram, apesar disso, a liberdade para aceitar ou rejeitar as condições de trabalho que lhes foram propostas. Aceitaram-nas.
Enquanto isso, os portuenses foram adquirindo o JN e O JOGO, ajudando assim os respectivos trabalhadores a sobreviver. Muitos de nós, fizeram-no, convencidos que estavam a contribuir para a manutenção e expansão de um jornal sedeado no Porto, e autónomo. Aos poucos, os leitores mais atentos vão-se apercebendo que o jornal está perdendo as suas referências locais, a sua autonomia, embora polvilhada, aqui e ali, de algum liberalismo emprestado por alguns colaboradores avulsos e relativamente independentes. O JN já não é um jornal do Porto, só está no Porto, como o jornal O JOGO. A isso, dá-se o nome de localização, não de autonomia.
Hoje, pela primeira vez, em muitos anos, ouço alguns jornalistas reivindicarem a importância do carácter regional do jornal, e estranho... Estranho, e não tenho dúvidas da sinceridade de alguns deles. Mas, pergunto: os senhores jornalistas, que fazem das notícias as suas vidas, não se aperceberam do rumo centralista que o jornal estava a levar? Se sim, porque não tomaram uma posição? Temeram ser despedidos pelo patrão de Lisboa? Então, não valeu a pena, como vêem.
A comparação aparentemente absurda que acima estabeleci com o oficial alemão e os jornalistas, passa a fazer todo o sentido se for apreciada em termos de atitude. É na atitude, que as duas histórias se cruzam, e na diferente consciência do dever, que elas se chocam.
PS
Durante o meu serviço militar, no continente e no ultramar, aprendi o seguinte: foram os oficiais de carreira os elementos mais valiosos, mais rigorosos e que menos se deslumbravam com o Poder. Os piores (salvaguardando excepções, em ambos os casos), eram os oficiais milicianos. Uma espécie de novos ricos da vida militar...