14 janeiro, 2015

Do "jornalismo" à Liberdade

Para quem tenha dúvidas sobre a hipocrisia de certos jornalistas, cartunistas, ou simples moços de recados que, fieis às suas incongruências, cantaram recentemente hosanas à Liberdade e aos valores ocidentais, tenham a bondade de ler as primeiras páginas dos jornais desportivos durante o tempo que quiserem e digam lá se essa gente merece algum respeito. 

O sectarismo, o desprezo pelas normas mais básicas da democracia, a pulhice e o proteccionismo clubista, são a imagem de marca corrente. Em Portugal, há três diários desportivos, não há um único que paute a sua linha editorial pelo fair play desportivo. Um (O Jogo), há uns anos atrás ainda dedicava alguma atenção ao FCPorto, agora rendeu-se ao centralismo e procura competir com os dois pasquins de Lisboa copiando-lhes a arbitrariedade. A cedência ao imperialismo do Terreiro do Paço, falou mais alto que o amor à descentralização (para não dizer à terra), por isso criou duas edições, uma para o Norte e outra para o Sul. Não fossem os donos disto  tudo zangar-se (não é só o Ricardo Espírito Santo, não)...  

Todos, sem excepção, rendem homenagem ao Benfica, provando ao Mundo, e a quem ainda consegue ter algum sentido ético e de Justiça que há pessoas, muitas das quais jornalistas,  que não merecem viver em democracia, nem em Liberdade. Porque, pessoalmente, não acredito que, uma e outra coisa possam ser disfrutadas em toda a plenitude, sem normas, nem limites. 

Senão, experimentem "livremente" regar uma planta com ácido sulfúrico e digam-me depois se ela consegue vingar. E por que é que, quem gosta de usar ácido sulfúrico há-de ter limitações à Liberdade? Afinal, não é assim que essa gente pensa?


13 janeiro, 2015

Alô, Alô?! Sr. Pinto da Costa, está lá?

Receio bem que este novo estilo  de dirigir o FC Porto de Pinto da Costa, brando e omisso, possa ser de facto, o princípio do fim de ciclo que os nossos principais adversários andavam a vaticinar. Creio mesmo que ninguém minimamente atento às ocorrências do nosso futebol, não reserve as mesmas suspeições.

Assim mesmo, é muito estranho o aparente alheamento de Pinto da Costa com o que está a acontecer no Campeonato Nacional. Nunca me passou pela cabeça ter de chegar tão prematuramente a esta conclusão, porque apesar dos 77 anos que já leva o melhor Presidente de Clubes português de todos os tempos, não se vislumbravam nele quaisquer sinais de cansaço ou de desmoralização.

Admitindo que o seu distanciamento face ao que se está a passar (o favorecimento obsceno das arbitragem ao Benfica, com influência directa na classificação-geral) se possa dever a questões de saúde, parece-me perigoso, e um tanto humilhante para os portistas que Pinto da Costa não lhes diga nada e os mantenha num intrigante estado de suspense, enquanto o campeonato vai avançando com os rivais de Lisboa a amealharem pontos imerecidos, a comandarem a Liga à custa de arbitragens escandalosas e do apoio incondicional da comunicação social do regime.

Isto, em Pinto da Costa era inconcebível há alguns anos atrás. Afinal, que terá acontecido de tão grave para ter provocado tamanha mudança no seu comportamento? O Processo Apito Dourado foi desgastante, mas terminou com a absolvição de todas as acusações que lhe engendraram. O problema de saúde foi aparentemente resolvido com uma operação bem sucedida ao coração.  Então, o que estará a falhar para Pinto da Costa ter mudado tanto?

A hipótese da estratégia, já aqui foi considerada, mas logo descartada, por parecer inverosímil, e admití-la, só faria algum sentido se a remissão ao silêncio implicasse a abdicação prévia do campeonato, para no final poder provar que se manteve sempre calado e que quem reclamou e beneficiou com isso foi o Benfica. Sendo tudo isto previsivelmente factual, com o sacrifício  da perda de (mais) um campeonato, o que ganharia o FCPorto com tão absurda estratégia num país como o nosso, onde muito se fala de seriedade, de liberdade e de democracia, mas o que se pratica é uma coisa totalmente diferente?

O certo, é que muitos sócios e simpatizantes portistas andam realmente preocupados com esta situação há já algum tempo, sentindo que não estão a ser minimamente esclarecidos sem verem o clube a ser devidamente defendido fora do campo, onde tudo está a ser ilegalmente decidido. Seria caso para pasmar que Pinto da Costa não tivesse plena consciência do que se está a passar, embora possível por factores desconhecidos, mas não pode nem deve continuar remetido ao silêncio, porque do outro lado isso pode ser interpretado como um momento de fraqueza, e muito provavelmente como um sinal de quem se sente comprometido, ou inseguro, o que já foi claramente aproveitado nas últimas jornadas para intensificar o fartar vilanagem do costume e alimentar a moral da prole benfiquista, que continuará seguramente nas próximas jornadas.

De resto, tudo isto parece estranho, surreal. Até o Porto Canal foi, e é, uma decepção. E o Presidente do FCPorto também se revela ausente, demasiado passivo com o que lá se faz, caso contrário talvez não assistíssemos ao recurso sistemático, abusivo mesmo, de gravações sobre gravações para preencher o imenso vazio de ideias, nem víamos o triste espectáculo de presenciar programas desportivos (como os 90 minutos à Porto de ontem) onde as imagens e a voz dos comentadores bloqueavam durante longos segundos, uma e outra vez, provando que dentro daquela casa não há quem super-visione as emissões, não há um verdadeiro dirigente. Júlio Magalhães não é o homem que o Porto precisa porque nem tem ideias, nem competência. Lamento dizê-lo, mas é realmente o que penso.

Quanto ao FCPorto e a Pinto da Costa, fico a aguardar com muita curiosidade pelo desfecho deste mórbido jogo de silêncio quando tudo acabar e nos restar apanhar as canas da festa dos outros... Nesse dia, toda e qualquer explicação será inoportuna. Diria mais: será uma verdadeira provocação. 


12 janeiro, 2015

Je suis Rui Valente


É impossível ficar-se insensível e não ter repugnância pela forma cobarde e impiedosa como aquele polícia já ferido, caído no passeio, foi abatido. O mesmo digo em relação a todas as outras vítimas do jornal francês Charlie Hebdo, embora tivessemos sido poupados a assistir a essa outra chacina. Como qualquer pessoa normal, fiquei impressionado com aqueles actos abjectos em Paris, pelo que repudio toda e qualquer causa que pretenda justificá-los. Aquilo não é nada, é pura alienação, porque não há causas no mundo que justifiquem fundamentalismos desta natureza, sejam elas quais forem.


Mas, se tragédias como estas devem ser denunciadas, repudiadas e severamente punidas, usá-las indiscriminadamente para alimentar audiências e tesourarias de órgãos de comunicação social, não deixa de ser uma forma errada de prestar um bom serviço à causa da Liberdade.  E é a propósito da badalada e tão maltratada Liberdade que quero acrescentar umas coisinhas ao côro unanimista de convertidos à causa dos Je suis Charlie . Sim, umas coisinhas algo inoportunas, dado o ainda muito recente estado de choque geral do Mundo com os acontecimentos de Paris, mas que convirá não esquecer.

Sendo um apreciador confesso do cartune inteligente, tal não significa que todos os cartunes sejam inteligentes e inevitáveis hinos de Liberdade. Em certos casos (raros) até pode acontecer. Na hipótese intermédia, o cartune pode não também não passar de uns azedos rabiscos de alguém zangado consigo mesmo, descarregados sobre outrem. Em análise extrema, pode até exprimir um estado de alma de alguém tão transtornado como os próprios  terroristas, autores da barbárie em Paris...

Senão vejamos. Quando um cartunista de um país ocidental faz publicar bonecos satíricos susceptíveis de ofender figuras públicas do seu próprio país, como poderá ele admitir que um fanático qualquer terá capacidade para interpretar com fair play democrático esse tipo de sátira? Dir-me-ão que o cartune não tem de ser politicamente correcto, formativo, pedagógico. Pois bem, mas é bom lembrar que os alvos das sátiras não foram dirigidos a espíritos democráticos, mas sim para gente com conceitos sociais e religiosos extremados e sem qualquer sentido de humor. Num outro prisma, será a mensagem errada, o desenho agitador, a caricatura hostil, a ironia mordaz, a única e máxima expressão de Liberdade? Tendo em conta os visados, não seria mais sagaz optar por outra estratégia, quando se insinua aos quatro ventos como supremo objectivo dos jornalistas o fim  dos fundamentalismos e das tiranias 
mundanas?

Neste contexto,  parece-
me algo desasjustada e até abusiva a utilização da bandeira da Liberdade. Não seria mais profícua e gloriosa a pedagogia? Teremos todos esquecido aquela historinha antiga, mas sábia,  que nos ensinou como apanhar "moscas"?  O "mel" não será mais  eficaz que o "fel"? Sei que não é de moscas que falamos. É de homens desintegrados, desesperados, dispostos a tudo para se sentirem importantes, ainda que para isso tenham de morrer e  matar inocentes. Eles não têm causas, fazem a causa. Nem que seja espalhar o terror pelo Mundo. Acham que gente com esta mentalidade é confiável, que se conquista (ou domina) com cartunes? Que valerá a pena desenhar uns bonecos incompreensíveis aos destinatários, arriscar a própria vida, e sobretudo a vida de quem nunca fez nada para ofender quem quer que fosse?

Há quem tome o bom senso por medo. Que confusão, que estupidez. No caso da barbárie parisiense não houve heróis. Os que assassinaram, também já foram mortos. Quem ganhou? Sabem? A Liberdade? Errado! Já o disse infinitas vezes, mas nunca cansarei de repetir: toda a Liberdade será uma fícção enquanto houver fome no Mundo. E quem diz fome, diz desemprego, diz também Portugal, diz Passos Coelho, diz Troika, diz Angela Merkel, diz União Europeia.

As religiões,  são o bode expiatório da maior das tiranias: o capitalismo. Dêem-lhes uma vida digna, que com o tempo, os fundamentalistas em vez de se fanatizarem por Alá, de decapitarem cabeças, e de se perderem aterrorizando Mundo, vão querer é regressar cedo a casa, para junto da família, depois de um dia de trabalho. Mas para isso precisam de paz duradoura e de progresso social.

Era por esta LIBERDADE que gostava de ver o Mundo lutar.  Unido. Os cartunes não vão libertar nada, vão apenas abalar consciências, temporariamente. Depois, tudo voltará à (a)normalidade.