23 outubro, 2007

Regiões de Turismo

Ouvi hoje o fórum TSF dedicado à discussão em volta da reorganização das Regiões de Turismo. Significativo foi verificar a ausência de intervenções por parte de responsáveis de regiões de turismo do Norte, em particular do Minho, que tão críticos se têm mostrado ao projecto do governo. Significativo também, foi verificar a oposição entre os que podemos chamar de burocratas e administradores nomeados - a Associação das Regiões de Turismo e algumas regiões propriamente ditas - e os operadores económicos do sector, personificados na Confederação do Turismo e na Associação das Agências de Viagem. Estes últimos mostram-se favoráveis à reorganização em 5 regiões, os primeiros não.

Sobre esta reorganização apenas conheço o que tem saído nos órgão de informação. Ainda não li o projecto do governo. Mas o que conheço leva-me a tirar algumas conclusões e tecer opiniões que poderão estar erradas. No entanto, assumo o risco.

Actualmente existem 19 regiões de turismo instituidas em Portugal. Dessas sobressaem duas - o Algarve e Lisboa - que monopolizam o grosso do investimento* no sector por parte do Estado Central. Nos últimos anos uma outra - Porto e Vale do Douro - tem vindo a crescer em termos de importância começando a disputar com Lisboa e Algarve o investimento, embora ainda se encontre a léguas de distância destas duas regiões. As restantes, o que recebem pouco mais dá do que para pagar os clips, lápis e salários.

Existe também uma grande confusão entre região e produto ou marca turística. Não existe interesse nenhum em eliminar marcas ou produtos como o Alto Minho, Guimarães, Braga - só para falar no Norte -, porque esses produtos e marcas são importantíssimos para a indústria turística regional. Segundo me informaram o projecto de reorganização tem isso em conta e permite que dentro das regiões possam ser criadas delegações com autonomia para gerirem as respectivas marcas e produtos.

Os defensores da pulverização actual (mais regiões turísticas (19) que distritos (18)) esquecem-se que o actual sistema só os prejudica. Quando à mesma mesa se sentam 19 entidades para repartir o bolo em 19 fatias, obviamente que aquelas que são demográfica, económica e socialmente mais importantes levarão a maior parte. A atomização exagerada privilegia os mais fortes. Aumenta-lhes a massa crítica relativa, enquanto diminui a dos mais pequenos. Aqueles que no Norte defendem a separação da Área Metropolitana do Porto do resto do Norte, por paroquialismo bacoco, nem se apercebem que apenas beneficiam o centralismo do Porto. Esquecem-se que a AMP contém metade da população do Norte e a sua força socio-económica não deixará de se fazer sentir se ela puder sentar-se à mesa sozinha com uma faca maior que a dos outros para cortar o bolo. Ficará com uma fatia maior sem margem para dúvidas. A atomização exagerada é tão perniciosa como o centralismo exacerbado.

Para finalizar, todo este processo tem um pecado original: está a ser feito de trás para a frente ou, se quiserem, primeiro pelo telhado em vez dos alicerces. Deviamos estar a discutir a Regionalização e a sua efectiva instituição e só depois, dentro das próprias regiões, se devia discutir a reorganização dos vários sectores e actividades tendo em conta as respectivas especificidades. Só a proverbial cobardia dos nossos políticos em tudo que concerne a este assunto, e da sua incapacidade para enfrentar as oligarquias centralistas e caciques locais, é que nos leva a estes caminhos.

* Penso que o grosso deste investimento se faz em campanhas de promoção tanto no estrangeiro como internamente.

3 comentários:

  1. Caro A.Alves,

    Subscrevo totalmente o seu artigo. Ele é de tal modo elucidativo, que se os tais paroquianos ditos "regionalistas", se dessem ao cuidado de auto-analisar o seu discurso reinvindicativo, depressa perceberiam que, por esse andar, qualquer dia, estão a coçar a cabeça para tentar descobrir em que "área regional" devem colocar o WC das suas casas e se ele é melhor que o do vizinho...

    Num momento como este, insistem em complicar,com complexos de subalternidade, em vez de arrepiarem caminho para o principal objectivo, que devia ser o de todos os regionalistas: o de conquistar a Regionalização.

    Abraço

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  2. Caro A. Alves,

    Perante o tipo de comentários que alguns colaboradores do "Norteamos" formulam sobre a Regionalização, começo a convencer-me que ela não passará de uma miragem...

    Com esta gente, não vamos lá! São uma verdadeira fraude.

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