29 agosto, 2012

A respeito da credibilidade

Símbolo da Honra
O exercício de retórica que vos proponho acompanhar é especialmente dirigido a todos quantos vão conseguindo sobreviver nesta sociedade interesseira sem o favorecimento da velha "cunha", seja ela de origem particular ou política.

Estou ciente que todos nós alguma vez na vida tivemos que recorrer à ajuda de um familiar ou amigo para resolver aqueles assuntos tradicionalmente complicados em Portugal, como, arranjar emprego ou conseguir fiador para poder aceder a bens ou serviços de elevado valor. Mas não é bem a esse tipo de "favores" que me refiro, porque num país onde a burocracia é [ainda] muita e o mérito remetido para segundo plano, todos somos de alguma forma empurrados para o chamado "desenrascanço". A partir daí, do nosso temperamento e da nossa capacidade de adaptação a este "regime", depende muitas vezes o nosso futuro e a preservação da nossa própria integridade moral.

Alguns, menos zelosos com as questões de carácter, adaptam-se, aceitando naturalmente a regra do "vale tudo" para conseguirem viver melhor, e vão corrompendo na mesma medida em que se deixam corromper [são os chamados "videirinhos]. Outros, mais ingénuos ou se quiserem mais exigentes consigo mesmos, vão resistindo e vivendo o melhor que podem e sabem, nesta sociedade armadinhada, com a noção do alto preço que a preservação da honra lhes vai custando. 

Este quadro presta-se a todas as especulações. Os videirinhos dirão lá para eles: "se és honesto, não te queixes, tens o que mereces", ou, "só os burros se preocupam com a honestidade". A questão é que, há sempre um dia em que até os "videirinhos" necessitam que alguém seja honesto com eles, e às vezes a coisa corre mal... Mas também eles próprios alguma vez precisam de "ser" honestos, de reclamar para si uma imagem positiva, de serem tratados como gente de bem, e exigem-no até! E aí, só mesmo aqueles que conseguiram acumular fortuna é que se safam das malhas da Justiça, mas todos ficam com o estigma da desonra para toda a vida... Disso, não se livram.

Voltando ao exercício de retórica de que vos falei, o que sugiro para vossa reflexão, é o seguinte: já pensaram bem por que é que os Bancos exigem garantias para nos financiarem determinados valores? A resposta deles [Bancos] não é bem esta, porque é, digamos, pouco simpática e comercialmente incorrecta, mas a minha é simples: é porque não confiam em nós, mesmo que sejamos as pessoas mais sérias do mundo...

Literalmente falando, é a desconfiança que está na origem dos fiadores. E, partindo do pressuposto que nem toda a gente é fiável, perguntarão: como faria então você se fosse banqueiro? Eu responderia: faria exactamente o mesmo que todos os banqueiros fazem, exigia um fiador.

Agora coloco-vos a questão de outra maneira: se os bancos não têm que acreditar na nossa palavra, se nos pedem garantias para nos conceder crédito, por que razão teremos nós de acreditar na palavra de um político para o levar ao poder, sem lhe exigir garantias? Então nós não somos confiáveis, e eles são? A que propósito? Com que fundamentos? Serão mais respeitáveis que nós?

Provavelmente, serei eu que não atinjo o lado sublime da coisa, ou que desconheço de todo o histórico «irrepreensível» da classe política portuguesa. Serei um ignorante, um radicalista, um anarquista, o que entenderem... Mas vão ter de me explicar muito bem, onde estão as diferenças, que é para vermos se ainda vamos a tempo de ver gente capaz e com a coluna vertebral intacta a governar o país. 

Mas, é bom que nos apressemos, porque a nossa esperança de vida ainda não chega aos 100 anos...   

2 comentários:

  1. Eu não tenho duvidas nenhumas, que este país infelizmente é dos Chicos espertos, e agora, até é, do salve--se quem poder.
    Comesse-mos por os desonestos dos governantes que hoje dizem uma coisa, amanhã é dizem outra, que roubam a uns para dar outros que mais têm, dão uma de competentes e não passam de uns incompetentes. É certo que toda aquela ave rapina que por cá anda no meio dos honestos, aproveita a confusão da anarquia e se governa a dar picadas em tudo que mexe e dê dinheiro.
    Os Bancos são os maiores culpados da crise, quando vendiam dinheiro a todo o cão e gato sem se preocuparem muito se ele tinha ou não tinha, e hoje é aquilo que nós vemos. Não pagam a crise nem eles nem os reformados bancários que dizem não são funcionários públicos e eu reformado que também não sou público! pago. Isto é uns serem honestos e os outros desonestos.
    A bem da nação que os pariu...

    O PORTO É GRANDE, VIVA PORTO.

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  2. Acrescento: como é possível ter acontecido um BPP e BPN?
    Se me vierem vender um relógio que eu sei que é caro, por metade do preço, eu não desconfio que há marosca? Não foi isso que aconteceu com algumas acções do BPN? E não há consequências?
    Não, porque isto é uma república das bananas.

    Abraço

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