A avaliar pelo bulício gerado pelas declarações de António Borges, anda meio mundo preocupado com a privatização da RTP. Mas, objectivamente, haverá razões para tanto chinfrim? Objectivamente, sim. Agora, especificamente, não passa de mais uma, entre muitas outras trafulhices com que os figurões dos nossos governantes têm brindado o país. Nada mais.
Não fosse isto coisa séria, quase me apetecia rir desta peleja entre adeptos da privatização da RTP e os defensores da sua manutenção como empresa integralmente estatal. A primeira coisa a fazer para acabar com este circo é manter a cabeça fria e procurar esclarecer duas coisas. Primeiro, saber concretamente o que se entende por serviço público de televisão, e depois disso extrair consensos, isto é, concluir se alguma vez predominou no já longo currículo da RTP, uma lógica de serviço público ou, pelo contrário, um histórico de políticas comerciais privadas.
No site da RTP, sobre a Missão, os objectivos e obrigações de serviço público, podem ler-se vários itens passíveis de se contradizerem entre si, fazendo de certo modo lembrar os artigos da Constituição Portuguesa, cujas consequências continuamos a sofrer na pele [o referendo da Regionalização é uma delas]. Quanto mais artigos mais confusão. Como tal, citarei apenas as 3 primeiras:
• Assegurar uma programação variada, contrastada e abrangente, que corresponda às necessidades e interesses dos diferentes públicos.
• Assegurar uma programação de referência, qualitativamente exigente e que procure a valorização cultural e educacional dos cidadãos.
• Promover, com a sua programação, o acesso ao conhecimento e à aquisição de saberes, assim como o fortalecimento do sentido crítico do público.
• Assegurar uma programação de referência, qualitativamente exigente e que procure a valorização cultural e educacional dos cidadãos.
• Promover, com a sua programação, o acesso ao conhecimento e à aquisição de saberes, assim como o fortalecimento do sentido crítico do público.
Por mais que custe aceitar a quem legisla, na prática, é impossível conciliar estas 3 pretensões, principalmente a primeira, com as duas seguintes. Porque, nas actuais condições, para garantir estas últimas [de facto as mais importantes], é uma perfeita utopia tentar harmonizá-las com os "interesses dos diferentes públicos". E quando digo as mais importantes, não estou a falar dos meus gostos, estou a dizer que alguma cultura não é de "fácil assimilação" popular, e que devia ser induzida aos poucos, mas efectivamente servida.
A RTP2 já faz, em parte, esse papel, mas é precisamente por estar escondida no 2º.canal, tapada pela RTP1, onde está implantada a "cultura" fácil das telenovelas e dos reality shows, que ninguém a vê. O que significa que se a RTP, estivesse vocacionada de facto para o serviço público, podia perfeitamente ter dispensado o canal 2 e ter concentrado boa parte do seu conteúdo num só canal, para um público heterogéneo, ao mesmo tempo que reduzia custos e induzia "públicos diferentes" a apreciarem outras áreas da cultura. Não sendo assim, é difícil de reconhecer como válido o trabalho produzido pela RTP em termos de serviço público. Se falarmos então da RTP 1, é pior do que qualquer dos privados existentes. Diria mesmo que é anti-democrática, sectária e profundamente centralista.
A RTP2 já faz, em parte, esse papel, mas é precisamente por estar escondida no 2º.canal, tapada pela RTP1, onde está implantada a "cultura" fácil das telenovelas e dos reality shows, que ninguém a vê. O que significa que se a RTP, estivesse vocacionada de facto para o serviço público, podia perfeitamente ter dispensado o canal 2 e ter concentrado boa parte do seu conteúdo num só canal, para um público heterogéneo, ao mesmo tempo que reduzia custos e induzia "públicos diferentes" a apreciarem outras áreas da cultura. Não sendo assim, é difícil de reconhecer como válido o trabalho produzido pela RTP em termos de serviço público. Se falarmos então da RTP 1, é pior do que qualquer dos privados existentes. Diria mesmo que é anti-democrática, sectária e profundamente centralista.
O "apalpar de pulso"ao público para que António Borges foi mandatado com o anúncio da privatização da RTP teve o seu climax com a revelação da transferência garantida da taxa audio-visual para a futura empresa que vier a adquiri-la, mas devia servir sobretudo para as pessoas perceberem que, mais importante do que privatizar ou nacionalizar a RTP é acabar com estas práticas abomináveis de fazer política. Desta maneira, temos tantas garantias na qualidade do serviço público do Estado como teremos se ele for desenvolvido por privados [alguém se revê no serviço prestado pelos canais privados existentes?]. Precisamos é de garantias.
Podíamos começar por nos recusarmos a votar enquanto a lei não nos permitir expulsar [é o termo correcto] com a canalhada que nos tem desgorvernado.*
Podíamos começar por nos recusarmos a votar enquanto a lei não nos permitir expulsar [é o termo correcto] com a canalhada que nos tem desgorvernado.*
*Para quem ainda não tenha entendido, para mim o problema já não é a RTP, ou o que quer que seja que esteja mal no país. O problema de fundo, são os políticos que temos, que precisam de ser controlados, mesmo antes de chegarem ao poder. De outra forma, mais assuntos como o da RTP se irão repetir. Querem apostar?
Por mais conversa que possa haver, no sentido se é legal ou não,- ou uma trapalhada de troca de opiniões,- uma coisa é certa, com esta corja de gente que nos governa, o negócio só é bom para eles e para os amigos, os outros que somos nós o povo é vamos sofrer na pele ainda mais. Como diz o proverbio "Gato escaldado de água fria tem medo".
ResponderEliminarTodos os dias falo com pessoas de idades diferentes, e o sentido da opinião, vector é: Estamos cheios desta canalhada.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.
Eu sempre fui a favor da RTP Pública,até a algum tempo atrás,mas depois mudei de opinião,porque não estou para manter os carlos danieis do benfica,e outros que por lá andam a ganhar grandes ordenados,e serviço público,pouco ou nenhum,mas também não defendo que entreguem a RTP aos amigos para encherem os bolsos à nossa custa,se querem privatizar,privatizem, mas quem ficar com aquilo tem que pagar o preço justo, e deve ser através de concurso público,não deve ser feito para dar emprego aos catrogas deste país de chulos, à beira-mar plantado.
ResponderEliminarcumprimentos
manuel moutinho
a conversa de serviço público é uma balela para ninar meninos. Nunca este canal, que custa demasiado dinheiro ao erário público, fez qualquer tipo de divulgação cultural nessa perspectiva, pelo que o seu fecho, enquanto nestes moldes, se impõe. Já tarda até.
ResponderEliminarRui e restantes comentadores, que o serviço público não presta, estamos de acordo e o Rui mostra-o bem. Mas atenção, acabar com o serviço público e entregar um património daqueles, mais as nossas taxas?, aos amigos, vai uma grande diferença.
ResponderEliminarDepois, acho o máximo, o Ministro mandar dizer qual o modelo para apalpar terreno. É esta gente que nos governa, não têm coragem, escondem-se... como pode este país ter futuro, com gente desta num período tão difícil?
Abraço
Vila,
ResponderEliminarmas eu não disse que o serviço público devia acabar ou ser entregue aos privados. O que disse, e repito, é que em primeiro lugar é preciso definir muito bem o que se entende por serviço público, que é coisa que até hoje creio que ainda ninguém entendeu exactamente o que é [incluindo a própria RTP],e depois, que não confio na idoneidade, quer dos representantes do Estado [que tornaram a RTP no nojo que você sabe], quer dos privados que nem sequer conheço. Aliás, para mim, isto é válido para qualquer gajo dos partidos do poder. Não confio neles e tenho imensas razões para isso.
Abraço