12 agosto, 2013

Almoços grátis?




A atual maioria PSD /CDS prepara-se para reduzir em 10% os montantes de todas as pensões do setor público. A medida, que estará inserida no tão propalado corte de quatro mil milhões de euros nas despesas do Estado (montante posteriormente reduzido para dois mil milhões), constitui um ato brutal contra quem trabalhou e descontou durante o período da vida ativa e que, chegado à velhice, acaba sendo alvo de um verdadeiro assalto aos seus rendimentos. Não está só em causa o princípio republicano da solidariedade, um dos valores matriciais de qualquer República Democrática (cfr. Artigo 1.o da Constituição). O que esta maioria se prepara para fazer constitui a negação dos mais elementares princípios do direito. Com essa medida, o PSD e o CDS retiram a milhares de idosos as condições de dignidade para o fim das suas vidas, pois com esse corte muitos idosos terão de reduzir ou eliminar despesas pessoais absolutamente essenciais à sua existência, tais como alimentação e medicamentos. Mas, com tal medida, o PSD e o CDS violam também, de forma acintosa, o contrato de cidadania que o Estado havia celebrado com os seus servidores, mediante o qual estes teriam, no fim da sua carreira contributiva, direito a uma pensão proporcional às respetivas contribuições. O PSD e o CDS, chegados ao poder, não só violam todas as promessas eleitorais que lhes permitiram precisamente alcançar o poder, fazendo justamente aquilo que em campanha eleitoral garantiram que nunca fariam, mas violam ainda as mais basilares regras jurídicas, já que, com uma pusilanimidade estonteante, rasgam os contratos vitalícios que o Estado havia celebrado. Tudo sem qualquer culpa dos prejudicados, com a exceção, porventura, de terem permitido que pessoas sem palavra e sem honradez política chegassem ao poder.



Mas, ao mesmo tempo que se preparam para cortar impiedosamente nas pensões dos aposentados, incluindo daqueles que auferem apenas algumas centenas de euros mensais, o PSD e o CDS propõem-se, com a mesma insensibilidade, isentar desses cortes magistrados e diplomatas, muitos dos quais auferem pensões superiores a cinco mil euros mensais. Trata-se da consagração, na nossa República Democrática, de um privilégio de casta que, numa sociedade decente, deveria envergonhar tanto quem o concede como quem o recebe. Um privilégio que, no caso dos magistrados, acrescerá a muitos outros verdadeiramente escandalosos, como subsídios de habitação a quem vive em casa própria, isenções de impostos, etc. Mas, como a cultura dos nossos magistrados é a de quem se julga acima dos simples mortais, tudo o que sabe a privilégios é sempre bem-vindo para eles.

Porém, como não há almoços grátis, a prebenda que o PSD e o CDS se preparam para oferecer aos magistrados deve ter, obviamente, por detrás, negociatas malcheirosas. Para além de poder constituir um aliciamento por parte de quem não tem a consciência tranquila e procura favores ou indulgências judiciais, ela não pode deixar de ser encarada como um prémio pelo contributo que os magistrados deram para desgastar o Governo anterior com processos vergonhosos, assim contribuindo também para antecipar a chegada ao poder do PSD e do CDS. Mas, por outro lado, ela surge não muito tempo depois de um dirigente do sindicato dos juízes ter insinuado publicamente que se os juízes portugueses tivessem de suportar os sacrifícios da crise como todos os outros cidadãos, eles poderiam deixar de ser independentes e, provavelmente - pensámos todos nós - corromper-se-iam e (pelo menos alguns) passariam a vender sentenças.

É claro que agora não faltarão os habituais magistrados papagaios tentando justificar essa ignomínia com os mais estúpidos argumentos (lembram-se daquele em que, além das férias de Natal e da Páscoa, se justificava a existência de dois meses de férias no verão para os magistrados trabalharem?). Mas isso só demonstra a conta em que eles têm os cidadãos desta República. Por mim, repito: nestas coisas (como em muitas outras da vida), não há almoços grátis, só faltando apurar o que os magistrados, sobretudo os juízes, darão em troca ao PSD e ao CDS, além do que já deram no passado recente.

4 comentários:

  1. Isto tudo é, de facto vergonhoso. A separação de poderes, princípio fundamental de um Estado de Direito é uma falácia. Como pode ser uma realidade quando são os partidos a nomear, salvo erro, 3 juízes do plenário do Supremo Tribunal de Justiça. Andaram a brincar aos investidores com o fundo das pensões da segurança social e, agora, para além de roubarem quem tanto trabalhou e descontou obrigam estas mesmas pessoas, já espoliadas do que era seu por direito, a trabalhar ainda mais anos,com base na chantagem de, ou isso ou uma reforma ainda menor. E isto com tanta gente no desemprego.

    Antes de mais, precisamos de nos questionar se não podemos recuperar o dinheiro a quem o fez levitar para um qualquer paraíso, depois renegociar as PPP`s e,só se for mesmo necessário e não como primeira alternativa, é que podemos atacar os rendimentos das pessoas. E isso tem que incluir magistrados. Mas também tem que haver equidade nas tabelas indemnizatórias em caso de despedimento. Tanto caminho a caminhar...

    Cumprimentos,

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  2. Silva Pereira13/08/13, 15:35

    Boa tarde,
    Eu gosto de ouvir e ler o que diz A Marinho Pinto e relativamente ao que diz neste texto estou 100% de acordo, no entanto por vezes também falha ou por outra o que diz já não se aplica alguns dos “seus correligionários”. Mas todos fossem como ele e estes pais não estava como está.
    Relativamente ao mote do texto como diz o povo quando se perde a vergonha só lá vai com medidas drásticas. A clique mandatária vigente na capital do império é muito grande e voraz para o pobre pecúlio que ainda existe para arrebanhar, por essa razão essa corja que frequentam os mesmos clubes, os mesmos restaurantes vão-se protegendo uns aos outros.
    Infelizmente este país já não tem hipótese de mudar porque a classe etária para o fazer que são os jovens (como no Brasil) representam cada vez um estrato da população menor e os mais velhos não contam, dado que ou já não têm energia ou condição para o protesto relevante.
    Restava as forças com poder (fora da politica) e a esses vão-se distribuindo (ou não prejudicando) algumas benesses.
    A somar a tudo isso há que nunca esquecer que essas classes (politica, judicial, militar, informação/propaganda e económica) estão miscigenadas, ou são do mesmo clube ou família ou amigos, não nos podemos esquecer que o 25 Abril só aconteceu porque existia um grupo de oficiais que estava descontente pelo que se passava no “governo” das forças armadas.
    A minha última esperança é de que possa haver um milagre e se descubra petróleo e nesse caso o bolo será grande para distribuir e assim talvez possa chegar umas migalhas ao povo (talvez mesmo aqui me possa enganar pois os latinos são diferentes dos nórdicos).
    Isto é quase como quando jogo no euro milhões (e para quem estudou estatística) sei que a probabilidade é infinitésima de sair, mas vou jogando sempre com aquela pensamento se não jogar não sai e assim vamos vivendo de semana em semana, pelo menos evito a ida ao psiquiatra. Já me esquecia o FCP também vai dando uma ajuda.

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  3. Sim, Marinho não devia "proteger" tanto o PS, porque isso é um facto.

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  4. Partilhei no Facebook.
    Cumprimentos
    Manuel moutinho

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