Eu sei que a Europa está em crise. Já quis ser Comunitária, e agora tudo tem feito para não consolidar a União (a Alemanha de Merkl que o confesse). Mas sei também que a crise não é uma crise, são vários géneros de crises, e não se limitam à Europa. Podemos dizer, sem risco de exagerar, que as crises são globais. Até o clima no planeta parece ter entrado em crise... Abordemos a mais importante: a crise de valores.
Nos ideários político-partidários, fora dos dossiers programáticos, não se vislumbram preocupações genuínas com as questões éticas e sociais. Os partidos de esquerda conhecem-nas, é verdade, mas nunca como agora tiveram oportunidade para delas se servirem e poderem afirmar-se como alternativa aos vetustos e viciados partidos do chamado arco do poder (PS, PSD e CDS). Comentam com pertinência, mas são incapazes de fazer aquilo que lhes competia, que era persuadir o eleitorado, através de propostas de compromisso realistas, provando que possuem capacidade para governar o país com competência e seriedade. Mas para isso resultar, deviam tentar a "utopia" de encaixar no regime actual sem assustar os eleitores com as fórmulas caducas (comunistas) que os condenam à condição exclusiva de partidos de oposição. Pode-se-lhes louvar a coerência doutrinária, mas não se lhes pode reconhecer a objectividade como alternativa ao poder que, com razão, criticam. Isso, torna-os uma espécie de figuras decorativas da política que pouco mais servem do que para roubar alguns votos à direita conservadora, sem no entanto a poder substituir.
Outro ponto que me faz desconfiar dos partidos da oposição, é o silêncio cumplíce com os partidos do Poder nessa questão tão importante para o país, e para o Norte em particular, como é a Regionalização. Mostram estrategicamente o mesmo oportunismo que os partidos de governo, ou seja, preferem abdicar do potencial eleitorado, esclarecendo, desmistificando fantasmas, e alinham com a mesma hipocrisia e o mesmo conservadorismo daqueles que dizem combater. E a desculpa é sempre a mesma: não é oportuno. A ladaínha é sempre igual, o que para mim é suficiente para concluir que naquelas cabeças não há luras donde possam sair coelhos... E portanto, eu não arrisco a dar-lhes o meu voto só para lhes satisfazer as vaidades pessoais.
O Manuel Serrão é um portista castiço, a quem até acho piada, que não é burro, mas não consegue ocultar a veia ultra-conservadora dos seus escritos. Ontem, decidiu lançar areia para os olhos dos leitores do JN quando, pegando numa frase do seu amigo Miguel Esteves Cardoso - "quem se abstém dá um voto de confiança nos que votam para decidirem por ele" - decidiu enfatizar a tese . Fazer tal afirmação é tão absurdo como dizer que quem não frequenta como eu as redes sociais (porque não gosto), é porque estou a querer dinamizá-la. Não pode haver maior contradição e falta de respeito pela opinião de alguns que confundí-las com a opinião de todos. É misturar a árvore com a floresta.
A abstenção lamenta-se, mas não se discute, porque é uma atitude tão válida, ou mais, que outra qualquer. E ao dizer que se lamenta, digo-o exactamente porque gostaria mesmo muito de votar. Mas para mim o voto é uma coisa demasiado séria, não pode servir para satisfazer o ego e os interesses de alguns. O voto para mim tem obrigatoriamente de ter retorno. Sem isso, não há voto. Ora, quando no passado o retorno dos meus votos teve como resposta a abdicação sucessiva de promessas, quando retratou como nenhuma outra coisa a falta de honradez de quem deles beneficiou, a minha decisão para com os líderes dos partidos está tomada: hipotequem a palavra, dêem-me garantias (como os bancos, sim), e depois conversamos.
Só assim me disporia a arriscar. Até porque o voto de um cidadão nunca devia ser uma decisão de risco, e lamentavelmente é.
Só assim me disporia a arriscar. Até porque o voto de um cidadão nunca devia ser uma decisão de risco, e lamentavelmente é.
Espero ter sido suficientemente eloquente. Se não fui, paciência, porque vou continuar neste caminho. Gostem ou não.
Caro Rui Valente!
ResponderEliminarÉ indubitável que é um espírito intelectualmente superior com grande capacidade de argumentação, mas cujos argumentos, mesmo que para si a atitude que defende seja coerente, não deixa de revelar desconfiança para não dizer preconceitos relativamente a algumas forças políticas em (confronto) questão.
Mas mais! Com todo o seu discurso bem elaborado, não consegue dar-me uma alternativa válida à minha intenção de participar, de tentar influenciar o rumo dos acontecimentos.
Depois revolta-se contra uma esquerda portuguesa impotente que não consegue transmitir confiança ao eleitorado de modo a poder ser alternativa aos partidos do arco da governação...!
Pois não, e, não consegue porque personalidades lúcidas e esclarecidas como o Rui Valente logo à partida, vá-se lá saber porquê, nem sequer lhe concedem o benefício da dúvida.
Ainda por cima com toda a propaganda da imprensa super conservadora (quem manda nas redacções dos jornais e das televisões não são os detentores do dinheiro?), contrária às propostas da esquerda, como é que quer que os políticos de esquerda como por exemplo: Carlos Carvalhas que anos antes previu a factura que forçosamente iríamos pagar, Carvalho da Silva, João Ferreira...etc...etc...se imponham?!
Mais ainda! Como é que os comunistas servem para governar nas autarquias, mas não servem para governar o País?!
Rui Valente, eu proponho-me votar na CDU, e sabe porquê?
1) Creio não haver dúvidas que é a única força política que defende efectivamente os trabalhadores (já alguma vez participou em reuniões sindicais de modo a ficar a saber de que lado da trincheira está?)
2) É a força política que mais coerentemente/consistentemente defende as regalias sociais: boas condições de trabalho justamente remuneradas, o acesso à saúde para toda população ( os melhores hospitais são os estatais) o acesso à educação em igualdade de oportunidade para todos, transportes públicos acessíveis para todos...etc...etc.
3)Diga-me faço mal em confiar e optar por votar na acima citada força política?! Até pode pensar que faço mal, mas eu conscientemente tenho a certeza que estou no caminho certo e que se contribuir para que a CDU obtenha melhores resultados do que o CDS, já dou por justificada a minha opção, que quanto mais não seja servirá para impedir uma nova maioria de direita, depois da actual tanto mal ter feito, entenda-se empobrecimento, ao País.
Cordiais cumprimentos
Armando Monteiro.
Bom dia,
ResponderEliminarHonestamente, sobre o tema da abstençao, com os políticos que temos, parece-me irrelevante estarmos a discutir se fazemos bem ou mal em nao ir votar. Estes políticos incompetentes têm o que merecem e eu, que obviamente nao estou disponivel para pactuar com gente deste calibre, nao admito sequer que me questionem por isso.
Eles que provem que sao serios e ai falaremos de outra maneira, até lá, desprezo total. Era o que mais faltava ter de sair do aconchego da minha casa para ir votar em gente sem carácter.
Só me disponho a isso em assuntos serios e como eles (os políticos)nao sao serios, ir votar neste momento em Portugal é um embuste, é uma brincadeira e eu nao alinho em brincadeiras deste tipo. Quero que eles se f&%$G$am..
Desculpe Rui Valente mais este desabafo.
Deacon Blue
Tem razão quando diz que sou desconfiado. Sou. E vou continuar a ser pelas razões que apresentei.
ResponderEliminarJá não tem razão nenhuma para falar de preconceitos porque é na história da política que sustento as minhas convicções.
O comunismo é teoricamente uma doutrina mais humanista que qualquer outra, mas foi (e é) desvirtuada pelos POLÍTICOS! Em Portugal e no resto da Europa passa por uma crise pior que a capitalista. Além disso, o PC em Portugal, também não é grande entusiasta da Regionalização. Por que será?
Enfim, desculpe, mas não posso estar aqui a escrever um livro para o convencer, porque não é isso que pretendo. As convicções são minhas. Quem as aceitar muito bem, quem não entender assim, paciência.
Cumprimentos
Não vou votar, e não vai ser um Coelho pelado, um partido Comunista conservador ou um outro qualquer partido charlatão, que me mude de tudo que eu penso destes senhores.
ResponderEliminarSão todos uns democratas! mas sempre primeiro eles, e depois os outros.
Estamos a bater no fundo e aqui é que estão as minhas preocupações. Aqueles senhores do parlamento Europeu, estão-se a borrifar com Portugal, nós não contamos para nada. Enquanto não mudarem estas políticas de destruição nacional, não há voto para ninguém...
Abílio Costa.
Meus amigos!
ResponderEliminarVamos lá a saber: estão satisfeitos com a governação do actual executivo? Se estão, força é altura de apoiar, caso contrário há que contribuir para a mudança...!
No espectro político nacional há forças que ainda não governaram, mas que têm dado provas nas autarquias... quem só reconhece: CDS, PDS e PS como forças políticas de intervenção, tenham lá paciência, mas têm graves preconceitos.
Nos últimos 40 anos de democracia os que se abstiveram, como não intervieram no processo, só conseguiram foi demonstrar indiferença... até voltar ao fascismo...se fosse o caso...
Cada um é livre de pensar e agir como entender, "cada cabeça sua sentença" , mas uma coisa eu sei: não foi com os abstencionistas que se conquistaram as regalias sociais, o progresso da sociedade, o desenvolvimento do país...; foi com a participação, a luta dos povos; caso contrário ainda estaríamos na escravatura, no trabalho de sol a sol; e eu quero acreditar que os meus bons amigos não são apologistas do regresso a um passado lúgubre.
Só um pequeno exemplo: para se passar do horário de sol a sol para as 48 horas semanais morreu gente...
E acreditem, são as pessoas que se manifestam na rua, que reclamam por melhores condições de vida, que se indignam com os farsantes, são esses que têm mérito e obtêm vitórias...
A política é isto mesmo: escolher/optar por soluções, por filosofias de vida...
E aqueles que não intervém por inércia são inócuos...
E isto recuso-me a ser
Cumprimentos,
Armando Monteiro
Rui Valente!
ResponderEliminarLonge de mim ter a veleidade de tentar convence-lo...
Unicamente aposto no debate de ideias...e no esclarecimento
Armando Monteiro
Perdoem mas volto a repetir.
ResponderEliminarVotar?
Marinho PINTO
Em tantos anos já demonstrou muito do que falta:
seriedade, coragem, sentido de justiça.
Leiam com atenção por favor a ultima cronica no JN do DanielDeusdado:
ResponderEliminarhttp://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=3863958
Boa tarde,
ResponderEliminarExcelente estou completamente de acordo.
Os seus argumentos para mim são suficientes e penso o mesmo.
Só acrescentaria aos defensores acérrimos da participação o seguinte quando muitos (como eu) se deram ao trabalho de ir votar em branco e verificar que a leitura do "sistema" é juntar esses votos aos nulos para mim fica claro o que o "sistema" quer.
Já agora se há eleições menos transparentes e que na minha opinião não significam nada são estas. Para os distraídos deveria ser esclarecedor a entrevista da Merkel.
Cumprimentos
Sr. Armando Monteiro,
ResponderEliminarnão insista. Releia se quiser o meu post e tem lá a resposta para tudo.
Se votasse nestas condições, desculpe dizê-lo, sentia-me um cidadão obediente, mas também um idiota. Sem ofensa para quem acha que deve votar...
Raul,
ResponderEliminarMarinho Pinto inspira confiança, mas com disse e repito, agora quero ver para crer.
Perdi a confiança nos políticos e só voltarei a votar quando mostrarem "serviço", ou quando derem garantias aos eleitores. A palavra não basta. Já dei oportunidades suficientes no passado, confiei, mas hoje estou arrependido.
Sr.Rui Valente!
ResponderEliminarTal como sugere voltei a ler o seu post e sabe o que entendi:
a) Das a suas afirmações, no que se refere à CDU está mal informado...
b) O termo "caducas comunistas" revela perfeitamente o que lhe vai no espírito, e na minha opinião (vale o que vale) mas não vou dizer, porque de certeza se iria zangar comigo e não vale a pena. Por isso continue a pensar e agir como afirma...
C) A mim conseguiu enganar-me com os seus anteriores "posts" sobre as suas posições políticas.
Se me dei ao trabalho de debater consigo certas questões foi por acreditar que era um intervencionista de esquerda.
Mas na realidade o seu último "post" definiu-o com muita precisão, e sim, por isso, não voltará a preocupar-se com os meus comentários.
Armando Monteiro
PS - É melhor intervir mesmo que as condições não sejam as ideais do que não fazer nada.
Já agora, um desafio, elabore um POST sobre qual é para si o país e o sistema político ideal, exemplar no mundo, a fim de eu ver se consigo compreender a sua óptica,ou seja, a sua visão de progresso para uma sociedade mais justa...
A abstenção na prática corresponde à manutenção do Status Quo vigente
Sr. Armando,
ResponderEliminarjá percebi que o "bem informado" é você, e os seus camaradas da CDU. E por quê? Porque quem não pensa como o senhor, é contra si.
Lamento, mas não estou para alongar mais esta conversa consigo. Mas devo dizer-lhe que se está a exceder dizendo que o enganei, mas enganei-o por quê? De onde é que me conhece? Fiz algum pacto político-partidário consigo? Ou tenho de ter um rótulo do PC na testa para lhe agradar?
Respeito ainda muito a figura de Àlvaro Cunhal e o próprio PC, mas não alinho absolutamente na doutrina comunista. Tenho as minhas reservas.
Portanto, fique com as suas convicçôes que eu fico com as minhas, okey? E encerremos aqui a discussão.
Boa noite!
Um argumento a favor da abstenção: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1231653
ResponderEliminarUm argumento contra: enquanto não mudar a sério, corremos o risco de 1% de votantes eleger quem decida pelos 100% da população. Eleições deveriam ser como os referendos: só seriam vinculativas se o número de votantes ultrapassasse os 50%.
Cumprimentos,