27 abril, 2015

Julen Lopetegui, o novo patinho feio da imprensa rasca

JULEN LOPETEGUI

Como  a memória amiúde é curta, mesmo para quem tem à frente do nariz um rol de posts a avivá-la, eu sempre respeitei e admirei o trabalho de Pinto da Costa no FCPorto, enquanto Presidente. Está feito, e não me arrependo de assim ter procedido, porque da minha parte, esses foram reconhecimentos honestos, justos e merecidos, tanto pela competência, como pela resiliência revelada como defensor-mor do grande clube da cidade do Porto. O que mais queria mesmo, era continuar a manter essa admiração por muitos anos, sendo certo que só a manteria se ela fosse merecida, se o presidente do FCPorto conservasse intactas as suas faculdades de líder, de primeiro baluarte do nosso clube. Mas, isso depende mais dele que de terceiros, da sua capacidade para perceber as suas próprias condicionantes físicas e intelectuais, e principalmente da sua capacidade para intuir os anseios do universo portista. Assim, como essa admiração foi ferida pela remissão ao silêncio, só me resta o respeito pelo que Pinto da Costa fez no passado recente.

Como tudo foi correndo bem nestes últimos anos, e porque muitos foram  os anos de sucesso, a tendência natural, foi concentrar em Pinto da Costa os louros do mérito, e secundariamente nas equipas técnicas e jogadores. Até fazia sentido que assim fosse. Pelas razões opostas, já não faz sentido que derive exclusivamente para o treinador, ou para a equipa, a responsabilidade pelos fracassos. Nesta linha de pensamento, tentarei não me contradizer por considerar Julen Lopetegui o menos culpado por tudo o que sucedeu de negativo esta temporada. E não se trata de mera simpatia, trata-se de avaliar a postura de um treinador personalizado, que dentro dos limites da sua função mostrou, fora do campo, mais coragem que aqueles que o deviam fazer e lhe estão acima na escala hierárquica.

Para o bem e para o mal, Lopetegui foi contratado pela SAD portista e Pinto da Costa. Quando chegou ao Porto era um estranho. Decorridas as primeiras jornadas do campeonato, percebia-se que continuava alheado da realidade chamada FCPorto, o que deixava transparecer alguma negligência da parte da estrutura portista em termos de apoio ao treinador na adaptação muito própria  a um clube como o FCPorto.

Como é sabido, esta época deram-se mudanças profundas no modelo de contratações de jogadores. Uns, chegaram emprestados pelos clubes de origem, com clausulas que, não afectando os interesses do FCPorto privilegiam também o retorno à origem, no caso desses jogadores se evidenciarem, o que numa primeira análise, debilita as condições negociais do clube contratante. Outros, como Brahimi, estão com os passes parcialmente detidos por fundos (a Doyen, creio que com 80%). Depois, vêm-me igualmente à memória casos de jogadores como, Óliver, Casimiro e Tello (só para falar destes 3). Curiosamente, todos eles, cedo tiveram momentos brilhantes na Champions League, o que fez com que os seus nomes começassem a surgir na imprensa internacional como potenciais alvos da cobiça de grandes clubes estrangeiros. Ainda mal tinham tido tempo para conhecerem os cantos à casa, e já as suas cabeças eram dominadas pela possibilidade de sair para clubes milionários... Como combater esta praga? Será esta situação compatível com uma entrega integral dos jogadores ao clube? A mim, parece-me difícil, e não deve ser por acaso que a famosa mística do jogador à Porto se viu pouco esta época, sobretudo nos jogos decisivos. Salta à vista a necessidade de acrescer mais qualquer coisa aos antigos paradigmas de ambientação (e contratação) dos novos jogadores, sob pena de para o ano voltarmos a assistir a "fenómenos" semelhantes, ou ainda piores.

Há outra questão relacionada com a anterior, que sustenta a ideia de alguns para ultrapassar estes problemas, que passa pela aposta na formação. É preciso ter em conta a dificuldade em formar jogadores competitivos com capacidade para jogarem na equipa principal, sobretudo portugueses. Por isso, é que eles tem de rodar noutros clubes, e quando o fazem, às vezes não se chegam a afirmar. Aliás, se olharmos para a equipa B, só meia dúzia deles parecem dar garantias de poderem impor-se como séniores, e nem todos são nacionais...

Portanto, para resumir, muito há para fazer no FCPorto na época que vem. Primeiro, será preciso saber que estratégia querem para defender o clube - e não se iludam com essa treta de que é dentro do campo que as coisas se resolvem - porque como se viu esta época, foi mais fora dele que o nosso principal adversário as resolveu -, e quem será designado para essa função. Sim, porque ficou provado (espero), que a estratégia do silêncio só beneficiou os adversários, e só acredita que o silêncio tenha sido uma estratégia quem não souber em que país vive, e quão colonialista se tornou. Segundo: como resolver o problema da aceleração/adaptação ao FCPorto de jogadores estrangeiros. Terceiro: como desenvolver o factor comunicação (dentro e fora do clube), e qual o papel do Porto Canal nesse projecto.

Por todas estas lacunas, e pela forma como deu o corpo às balas pelo clube, sem as subserviências de outros treinadores portugueses, e sem o apoio inequívoco da estrutura directiva em momentos chave, é que esta época endereço totalmente a minha gratidão ao basco Julen Lopetegui. Podia ter feito mais? Talvez, mas Pinto da Costa também.


2 comentários:

  1. Agora neste clube são os treinadores que têm que se manifestar das más (roubalheiras) arbitragens e de alguns porcos da imprensa que tratam mal o clube, porque os senhores administradores da SAD, andam mudos a tirarem cursos de cristandade, tal é o silêncio.

    Se não se ganhar nada, o treinador e jogadores não são só principais culpados, o presidente é que os escolheu e como tal tem que se assumir.
    Há muita coisa que tem que se mudar neste Clube, porque o inimigo sempre monopolizou as instâncias do futebol, e agora, anda com os tentáculos em tudo novamente, LIGA, FPF, Arbitragem, imprensa etc. Acorda Pinto da Costa, ou então, deixa alguém parar o inimigo se não não vamos a lado nenhum.

    Abílio Costa.

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  2. Depois de alguma tristeza, espero que profissionalismo dos jogadores do FCP, ainda impere até ao último jogo do campeonato com vitorias.
    Ainda não se ouviu por parte da direcção do FCP qualquer comentário destes dois últimos desaires. Esta regra do silêncio é uma das culpas da nossa posição no campeonato. As frases são muito bonitas quando dizemos "Somos Porto" "Sempre a ganhar desde..." mas depois vivemos à sombra do passado e do pecado do silêncio.
    Vêm aí eleições ou seja novo mandatos, mas os portistas têm que reflectir o que está bem e o que está mal e o que pretendemos para o futuro do nosso Clube, e não nos deixar-mos iludir por meia dúzia de lambe/botas.

    Costa do Castelo.

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