Venceu a Holanda, mas se fosse a Dinamarca era igual. Venceu a dignidade e o futebol sério |
Assisti, por mero acaso, à final do Campeonato Europeu de futebol feminino entre a Holanda e a Dinamarca, e fiquei francamente impressionado. E não foi por se tratar do belo sexo das nórdicas e das holandesas. Foi muito mais do que isso.
Quem quiser ficar agarrado a preconceitos machistas como aquele que por aí ainda anda, afirmando que o futebol é um desporto exclusivamente para homens, pode continuar a pensar assim, mas parou no tempo com certeza.
A evolução técnica do futebol feminino, comparada com o masculino, levando em consideração a antiguidade dos machos, é muito superior em muitos aspectos. Há na nossa 1ª. Liga, e mesmo nos escalões mais altos dos juniores, jogadores que rematam e dominam a bola muito pior que muitas mulheres.
O facto de este jogo ter sido disputado entre duas equipas de países do Norte da Europa é de per si uma das razões que explica o fenómeno. E não se pense que as mulheres evitam o jogo "viril" muito peculiar nos homens. Não senhor, dão o corpo à bola com valentia, mas com muito mais fair play. Tive oportunidade de ver noutros jogos, jogadoras marcarem golos sem deixarem pousar a bola na relva verdadeiramente espectaculares! Golos que raramente, muito raramente mesmo, vemos no futebol masculino em Portugal. Para mim, são os golos mais sensacionais, porque não dão grandes hipóteses de defesa aos guarda-redes.
A cerimónia final deste evento foi sóbria, de uma dignidade tal, que ao vê-la, lembrei-me do esgôto descapotável em que se tornou o futebol nacional. Chegou-me logo aos neurónios a qualidade postiça dos nossos árbitros e a promiscuidade entre estes e um certo clube, abençoada e partilhada pelo Estado. Senti-me profundamente triste por ter nascido neste país, e simultaneamente (confesso), com ciúmes daqueles dois pequenos/grandes países (apesar de todas as crises).
Caros amigos, não precisam evocar a universalidade da imperfeição humana, porque cá o rapaz já tem uns anitos, e já correu um pouco do mundo. Não há países perfeitos. Mas que diabo, podíamos ser um bocadinho mais amigos da rectidão e dos bons hábitos.
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