21 maio, 2018

Um enigma chamado jornalismo


Calculo que os nortenhos habituados a ler o Jornal de Notícias já se tenham apercebido da alteração editorial do histórico matutino portuense nos últimos anos. Foi uma alteração aparentemente subtil no conteúdo, mas muito perceptível em colaboradores, jornalistas, e articulistas. Pode dizer-se sem exagero que para a maioria dos portuenses o pessoal que integra agora o JN é constituído por autênticos estranhos. Alguns dos jornalistas são de outras paragens, incluindo a região de Lisboa...

Sendo um jornal criado por portuenses, e sediado no Porto, caracterizou-se durante muitos anos por se dedicar preferencialmente à vasta região do Norte, sempre com grande sucesso e popularidade. Tal como outros jornais da cidade (já desaparecidos), foram concebidos para dar à região a informação que faltava, dado que os de Lisboa, tal como hoje, dominavam  o mercado e marimbavam-se para o que passava no Norte. Fundamentados num cosmopolitismo espúrio, e numa amplitude territorial oportunista, os resultados  do "novo" JN resumem-se a isto: muito mais Sul que Norte. Precisamente o inverso do que faz a imprensa lisboeta, muita Lisboa, muito sul, e pouco norte, só quando lhes dá jeito.  Eis a razão pela qual não vejo com bons olhos a inclinação centralista de Júlio Magalhães para dar mais palco a Lisboa, quando Lisboa nos rouba o pouco que temos. Não consigo digerir a argumentação que a sustenta, porque é quase como dar pérolas a porcos... 

Por que havemos então de nos espantar, que até o Jornal de Notícias se tenha aliado ao grupo imenso e silencioso de jornalistas, no que à corrupção do Benfica respeita, e agora já fazem artigos sobre o tema "Sporting" nas primeiras páginas do jornal com a maior descontração? Dir-me-ão que o JN foi dos poucos jornais a divulgar o que se ia passando sobre o caso dos emails baseando-se na fonte através do Universo Porto da Bancada, no Porto Canal, mas fizeram-no por razões estratégicas, não espontâneas. Eles sabem que não devem imitar o silêncio dos media de Lisboa, porque daria muito nas vistas, que talvez fosse correr um risco elevado sabendo que a maioria dos leitores é do Porto e do Norte . A verdade é que os jornalistas de 1ª-página sempre se furtaram a falar do Benfica e agora já não lhes falta a "coragem" com o que se passa com o Sporting (ler aqui, e aqui) ! Mas que medos são estes? Que tipo de ameaças receia esta gente toda que a faz falar às vezes até à exaustão com uns, e as remete a um silêncio enigmático com outros?  Que valores éticos explicam comportamentos tão aberrantemente antagónicos? Que descaramento lhes dá o direito de criticar terceiros? Por que não escrevem sobre eles próprios?

A sociedade está minada pela hipocrisia e pelo medo, e quem manda é tudo aquilo que está próximo do vil metal (o eterno Grande Irmão).   

2 comentários:

  1. Caro Rui Valente,

    A propósito do JN,Jornalistas,Norte, inclinações centralistas e demais desvios, aqui vai a última pérola do CENTRALISMO em todo o seu nefasto esplendor:

    "A Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa vai realizar no próximo fim de semana, dias 25, 26 e 27, o IV Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro, que este ano é subordinado à temática “Agir no presente, alcançar o futuro”.

    A iniciativa arranca na sexta-feira, às 16h, com a chegada dos congressistas ao Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações em Lisboa. Às 17h45 destaque para as inaugurações dos stands da Semana de Trás-os-Mo ......... "

    Eu sei que há mais transmontanos em Lisboa que em Trás-Os-Montes mas manifestações de submissão colonialista como esta é demais.

    REGIONALIZAÇÃO? Como disse o meu Presidente um dia "vou esperar deitado"

    Cumprimentos

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  2. É isso, caro Guilherme Olaio, podemos esperar sentados pela Regionalização. Para perceber as dificuldades em avançar com o assunto para a frente basta comparar o interesse pela causa com o interesse pelo futebol...

    Um abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...