Leio, sem compreender muito bem, na coluna Frases de Ontem, do Público, esta expressão do director do JN, José Leite Pereira:
"Portugal é infelizmente, um país que gosta de dizer mal. E dizer mal do país é uma forma de diminuir quem está no Poder, quem tem as rédeas na mão. Como qualquer generalização, é má política."
Começo pelo fim da frase de JLP, perguntando aos leitores, se, dizendo, como disse JLP, que "Portugal é, infelizmente, um país que gosta de dizer mal", não está, ele mesmo, a produzir outra generalização? A palavra "infelizmente", será a única de toda a frase, com a qual estarei de acordo. Portugal é, de facto, um país infeliz, não é um país derrotista.
É um país infeliz, por múltiplas razões. Uma delas, é também por ter uma comunicação social oportunista e pouco corajosa, que confunde a "crítica" que ela própria produz, com a da opinião pública, o que não é a mesma coisa. A outra razão, está à vista de todos: o país vai, de facto, de mal a pior. Se alguém ousar dizer que alguma vez se viveu bem em Portugal (mesmo excluindo a época anterior a 25 de Abril), mente, ou gosta de filmes de ficção muito pouco científicos.
Portanto, o que é que sobra a Portugal para gostar de "dizer bem"? Auto-estradas? Hipermercados? Centros Comerciais com emprego precário? Centralismo? Incumprimento constitucional da Regionalização? Off-shores? Escândalos financeiros, na Banca? Altos salários de quadros administrativos ocupados em grandes empresas por políticos incompetentes? O baixo nível de vida da grande maioria dos portugueses? O escândalo Casa Pia? Corrupção informativa dos media, como na RTP? Perseguição afrontosa e descarada ao Porto e suas instituições mais populares, como a que está a ser movida ao FCPorto? Educação? Saúde? Enfim, o quê?
Sejamos sérios, deixemos essa fantasia do optimismo para os psiquiatras. Para se ser sério, não é obrigatório usar paninhos quentes, nem pintar de rosa o que continua negro. Pior seria, neste mundo cão, em que o povo observa, impotente, o pântano de corrupção política onde gente com responsabilidades (mas, irresponsável), está envolvida, se não existissem indivíduos ou pequenos grupos de pessoas, que vão conseguindo sobreviver e até destacar-se com algum sucesso em várias áreas!
Se é a essa gente, mais ou menos anónima, que José Leite Pereira se quer referir quando diz que "Portugal só sabe dizer mal", então é mau analista. A árvore não faz a floresta, como um bom médico, não faz um bom Hospital, como um bom ministro não faz um bom Governo. Então, como quer o Director do JN que os portugueses "elogiem", em lugar de "diminuirem" quem está no Poder, se as rédeas que o detêm são de papel e nada fiáveis?
Tenham paciência, mas o meu orgulho nacional não se alimenta de folclore à La Scolari, com bandeirinhas na janela para no final da festa me limitar a apanhar as canas dos foguetes que outros lançaram. Nem tão pouco se alimenta com um Governo mais centralista do que o de Salazar, a desprezar cronicamente o canto da terra onde vivo e nasci.
O meu orgulho nacional em nada se parece com o do Sr. Presidente da República que disse uma vez orgulhar-se dos emigrantes portugueses. Eu, se fosse Presidente da República, lamentava a emigração, não me orgulhava dela. Porque a emigração, não é mais do que um símbolo da falta de trabalho e da sua baixa remuneração, em Portugal. Se eu fosse emigrante não depositava um cêntimo num Banco Português. Entregava-o à confiança do país que me deu a oportunidade para sobreviver e ser gente. Esse, é que é o verdadeiro país dos emigrantes. O outro, é o da fantasia, do coração. É o país a quem nós gostaríamos de pertencer de corpo e alma, mas a onde só nos resta ligada a alma.