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28 maio, 2008

Mitos versus pragmatismo

De mito em mito, até à "realidade" final. É com este slogan, que podemos dizer que se "faz" a cabeça do povo e se estruturam opiniões, supostamente públicas.

O director do JN, na sua crónica semanal "Preto no Branco", fornece-nos sobre a matéria atrás citada, uma excelente amostra, aplaudindo os conselhos de Mário Soares ao Governo e fazendo um generoso apelo para que aquele o leve a sério.

Mário Soares, pertence a um escasso e priveligiado grupo de pessoas que, sem que nada de racional o justifique, gozam da simpatia generalizada do povo (incluindo a minha), que têm boa imprensa e a quem poucos gostam de fazer críticas. De mais a mais, agora, que tem 80 anos, numa idade em que quase todos os pecados são permitidos. Enfim, Mário Soares tem a graça dos carismáticos, seja lá o que isso queira dizer.

Porém, seria uma enorme injustiça não reconhecer o papel activo e moderador no período pré e pós-25 de Abril74, bem assim - como JLP recorda -, desprezar o seu importante contributo para o desbravar do caminho que permitiu a Portugal a integração na Comunidade Europeia. Tão injusto, como esquecer a colaboração de outras figuras como: Álvaro Cunhal, Sá Carneiro e o próprio Freitas do Amaral, na altura conotado com as forças mais conservadoras do novo regime.

Outra injustiça - que paulatinamente tem vindo a ganhar forma -, é esquecer o Movimento das Forças Armadas, sem o qual não havia democrata que nos pudesse valer. Daí que, para podermos aderir à CEE a parte mais difícil da tarefa já estava feita com a Revolução. Mário Soares, foi indiscutivelmente o grande negociador da adesão de Portugal ao tratado, mas ele era praticamente inevitável; foi só uma questão de tempo, até deixar maturar o processo revolucionário em curso (o famoso PREC). O mesmo sucedeu afinal, alguns anos mais tarde, com o desmoronar do comunismo com quase todos os países saídos do bloco à excepção da Rússia, precisamente a potência socialista dominadora do conjunto das repúblicas soviéticas.

Parece-me sempre demasiado empolada e preconceituosa esta adoração inexplicável por um homem válido, afável (mas não tanto como aparenta), mas que, na minha opinião, esteve sempre muito longe de corresponder aos parâmetros de qualidade exigíveis a um governador e a um estadista.

O director do JN realça a capacidade de visão política e social de Mário Soares de "ler como poucos" "os sinais, interpretar descontentamentos e de perceber saídas", mas relativiza o fundamental, que foi a sua incapacidade para resolver todas essas percepções. Se os elogios que lhe dirige reportam apenas as suas performances sensoriais, então é pouco, e talvez isso explique em parte a razão dos portugueses continuarem a ser tão mal governados. Somos pouco exigentes, como se vê.

Para perceber o que se passa no país não é preciso chamarmo-nos Mário Soares ou ter nome de figura pública. Nós também percebemos, e muitos de nós, na própria pele. Enfatizar o valor de alguém por inventar termos como "animal político", pode até ser jornalisticamente interessante, mas não me parece no momento a melhor forma de agitar consciências. Urge preferencialmente, contestar esta democracia para se lhe poder extrair todas as potencialidades.

Mais uma vez a política se assemelha à mentalidade futeboleira de Lisboa. Uma e outro, gostam de enfatizar falsos sucessos. Antes do Europeu de 2004, todos vimos saír à rua motards e cavaleiros com campinos enrolados na bandeira, em eufóricas e despropositadas manifestações de patriotismo. No fim, quem teve razões objectivas para a festa, foi a Grécia...

Na política é parecido. Como político - no sentido pragmático do termo que às populações interessa - Mário Soares pouco contribuiu para o seu bem estar. Como ele, todos os que se lhe seguiram. E só esse factor de bem estar social (positivo ou negativo) é que pode servir como bitola para uma leitura séria e independente da valia intrínseca de um grande político ou de um grande Governo.

Respeitado esse factor valorativo da acção política, podem então baptizá-los como quiserem. "Animais" ou "dinossauros políticos", tanto faz, é puro romantismo jornalístico.

11 março, 2008

A fobia antiregionalista do MST

Já vão perceber porquê, mas tenho de confessar que gosto muito de animais. Não há pitbull que me assuste, o que me assusta, são alguns dos seus donos, que os treinam e usam para fins pouco nobres, como por exemplo, para disfarçar a sua própria cobardia.
O problema, é que, apesar de gostar de animais vivos, ainda não atingi um patamar de elevação cívica capaz de me privar do sabor de alguns deles mortos e assados no meu prato, como o incomparável leitão da Bairrada do "Rocha", no Luso (passe a publicidade). É uma questão de tempo, quando chegar aos 80, é possível que só lá vá para comer a salada mista ou a sobremesa...
Contudo, já fiz alguns progressos, que não são de agora ou sequer foram penosos de alcançar. Sempre gostei de animais e, excluindo os meus pecaminosos hábitos alimentares (os meus pais não eram vegetarianos...), detesto ver alguém divertir-se à custa do sofrimento de um animal.

Reconhecida a minha ambivalência emocional com a bicharada, ainda assim, cabe-me alguma vantagem moral em relação àqueles que em pleno século XXI e à sombra de tradicionalismos quase pré-históricos, pagam para ver touradas.

Vem isto a propósito da posição assumida há uns anos atrás por Miguel Sousa Tavares em relação à festa de touros da vila alentejana de Barrancos que, como é sabido apoiava a "tradição" local que culminava com a morte do bicho

Diga-se o que se disser, uma coisa é sabermos que um animal foi morto longe da nossa vista para o podermos comer, outra sadicamente diferente, é pagarmos para supostamente nos divertirmos e vermos uns patetas judiarem o animal até à morte. Nunca aceitarei este tipo de tradições.

Ora, o Miguel Sousa Tavares cujas opiniões costumo subscrever maioritariamente, às vezes, deixa-me um bocadinho decepcionado dada a credibilidade que justamente alcançou na opinião pública. Às vezes, acha que a liberdade de fumar é um direito muito importante e que é um crime de lesa-majestade "proibir-se" a intoxicação pulmonar dos cidadãos pelo tabaco (e eu fumei durante muitos anos).

Não sei o que pensará o Miguel da saúde do planeta aonde ainda vai podendo enegrecer os pulmões com a nicotina do cigarro, nem do boicote americano ao protocolo de Quioto, mas não acredito que leve a sério todos os que seguindo o seu exemplo, consideram um atentado à liberdade individual proibir a emissão de gases poluentes, mas, enfim...

O Miguel tem destas coisas, defende o Futebol Clube do Porto mas não compreende o povo do Porto, nem a alternativa da Regionalização. Enveredou pela tese dos medricas centralistas com o perigo da desintegração nacional como se ela já não estivesse a ser forjada com total autismo pela própria macrocefalia centralista.

Insiste na descentralização, apesar de a ver sistematicamente sonegada e recusa-se a procurar novas alternativas. Mal comparando, faz lembrar aquele treinador de futebol que durante anos não consegue vencer um único jogo nem se atreve a alterar o sistema, apenas porque se convenceu que um dia o ganhará. O "clube e os adeptos" podem esperar...
Esta não pode ser a solução. Isto não é futebol e os adeptos são pessoas que estão cansados de "esperar" por uma descentralização que nunca mais se faz. E aquilo de que o Porto precisa não é de nenhum Messias, nem do colo do Estado, mas tão só de tratamento igual.

O Porto foi tudo isso, mas numa época onde ainda não existiam (várias) estações de televisão ao serviço do Centralismo a sugar-lhe todo o tipo de recursos, incluindo os humanos. As "armas"que o Porto tinha - apesar do obscurantismo - eram mais equilibradas em relação à capital, as distâncias eram maiores, os tempos mais longos, e os eventuais boicotes mais lentos. O Porto tinha o seu próprio espaço, menos contaminado, longe da lupa castradora das tvs lisboetas de agora, e as pessoas não viam por isso muita necessidade de sair daqui. Objectivamente, por incrível que pareça, o Porto foi muito menos causticado na ditadura do que actualmente. É a minha firme convicção.

O Porto tem sido tratado como o patinho feio do país e a marca de modernidade que Sousa Tavares exemplifica como única excepção à regra da depressão actual - o Futebol Clube do Porto - prova exactamente o contrário do que diz. O Futebol Clube do Porto de Pinto da Costa tem tido sucesso porque trabalha bem, porque é irreverente e mais organizado que os adversários, mas também porque bate o pé, não se intimida, tem orgulho e afirma-se sem complexos. E será bom não esquecermos as perseguições e os boicotes de que há anos a fio tem sido alvo (e isto não é nenhuma mania, há provas) até aos dias de hoje, tão bem retratados no Processo Apito Dourado.

Todo este clima de menorização do Porto, algumas vezes próximo do desprezo, deixou sequelas, incluindo na cabeça dos próprios políticos locais, que começaram a ser menos reinvindicativos mal perceberam que podiam comprometer a sua carreira se fossem demasiado "regionalistas".

O Dr. Fernando Gomes foi o primeiro a pagar as consequências por ser portista, bairrista e "provinciano"(e demasiado ingénuo, digo eu).
O Engº. Belmiro de Azevedo perdeu a OPA da PT só por ser do Porto e Luís Filipe Menezes que não é pior do que os que lhe antecederam também já está a pagar a factura.
E que dizer das nomeações para a Direcção da PJ do Porto aqui tantas vezes abordadas? E das muitas pessoas que já se inibem de se identificar como portuenses para não correrem o risco de serem penalizados nos seus negócios quando têm de se deslocar a Lisboa? Foram só os portuenses que geraram estas súbitas transformações económicas e sociais para pior? Alguém de perfeito juízo será capaz de acreditar neste mito? De repente, perdemos todas as qualidades?

E Rui Rio? Porque terá ele entrado "a matar" quando, sem saber ler nem escrever, foi parar à Câmara do Porto? Porque sabia bem que a ovelha negra do regime centralista, o alvo a abater, era Pinto da Costa e teve engenho para aproveitar muito bem a crise camarária e para lá se instalar.

Quem pensar que estas águas são de ribeiros diferentes, engana-se. O sucesso do Futebol Clube do Porto foi o pretexto que fez expandir as práticas centralistas para os demais sectores.

O Miguel Sousa Tavares, engana-se. Só tem razão num pormenor: é que, a muitos tripeiros falta a coragem e o desassombro de Pinto da Costa. E isso sim, é que é preocupante.