11 março, 2008

A fobia antiregionalista do MST

Já vão perceber porquê, mas tenho de confessar que gosto muito de animais. Não há pitbull que me assuste, o que me assusta, são alguns dos seus donos, que os treinam e usam para fins pouco nobres, como por exemplo, para disfarçar a sua própria cobardia.
O problema, é que, apesar de gostar de animais vivos, ainda não atingi um patamar de elevação cívica capaz de me privar do sabor de alguns deles mortos e assados no meu prato, como o incomparável leitão da Bairrada do "Rocha", no Luso (passe a publicidade). É uma questão de tempo, quando chegar aos 80, é possível que só lá vá para comer a salada mista ou a sobremesa...
Contudo, já fiz alguns progressos, que não são de agora ou sequer foram penosos de alcançar. Sempre gostei de animais e, excluindo os meus pecaminosos hábitos alimentares (os meus pais não eram vegetarianos...), detesto ver alguém divertir-se à custa do sofrimento de um animal.

Reconhecida a minha ambivalência emocional com a bicharada, ainda assim, cabe-me alguma vantagem moral em relação àqueles que em pleno século XXI e à sombra de tradicionalismos quase pré-históricos, pagam para ver touradas.

Vem isto a propósito da posição assumida há uns anos atrás por Miguel Sousa Tavares em relação à festa de touros da vila alentejana de Barrancos que, como é sabido apoiava a "tradição" local que culminava com a morte do bicho

Diga-se o que se disser, uma coisa é sabermos que um animal foi morto longe da nossa vista para o podermos comer, outra sadicamente diferente, é pagarmos para supostamente nos divertirmos e vermos uns patetas judiarem o animal até à morte. Nunca aceitarei este tipo de tradições.

Ora, o Miguel Sousa Tavares cujas opiniões costumo subscrever maioritariamente, às vezes, deixa-me um bocadinho decepcionado dada a credibilidade que justamente alcançou na opinião pública. Às vezes, acha que a liberdade de fumar é um direito muito importante e que é um crime de lesa-majestade "proibir-se" a intoxicação pulmonar dos cidadãos pelo tabaco (e eu fumei durante muitos anos).

Não sei o que pensará o Miguel da saúde do planeta aonde ainda vai podendo enegrecer os pulmões com a nicotina do cigarro, nem do boicote americano ao protocolo de Quioto, mas não acredito que leve a sério todos os que seguindo o seu exemplo, consideram um atentado à liberdade individual proibir a emissão de gases poluentes, mas, enfim...

O Miguel tem destas coisas, defende o Futebol Clube do Porto mas não compreende o povo do Porto, nem a alternativa da Regionalização. Enveredou pela tese dos medricas centralistas com o perigo da desintegração nacional como se ela já não estivesse a ser forjada com total autismo pela própria macrocefalia centralista.

Insiste na descentralização, apesar de a ver sistematicamente sonegada e recusa-se a procurar novas alternativas. Mal comparando, faz lembrar aquele treinador de futebol que durante anos não consegue vencer um único jogo nem se atreve a alterar o sistema, apenas porque se convenceu que um dia o ganhará. O "clube e os adeptos" podem esperar...
Esta não pode ser a solução. Isto não é futebol e os adeptos são pessoas que estão cansados de "esperar" por uma descentralização que nunca mais se faz. E aquilo de que o Porto precisa não é de nenhum Messias, nem do colo do Estado, mas tão só de tratamento igual.

O Porto foi tudo isso, mas numa época onde ainda não existiam (várias) estações de televisão ao serviço do Centralismo a sugar-lhe todo o tipo de recursos, incluindo os humanos. As "armas"que o Porto tinha - apesar do obscurantismo - eram mais equilibradas em relação à capital, as distâncias eram maiores, os tempos mais longos, e os eventuais boicotes mais lentos. O Porto tinha o seu próprio espaço, menos contaminado, longe da lupa castradora das tvs lisboetas de agora, e as pessoas não viam por isso muita necessidade de sair daqui. Objectivamente, por incrível que pareça, o Porto foi muito menos causticado na ditadura do que actualmente. É a minha firme convicção.

O Porto tem sido tratado como o patinho feio do país e a marca de modernidade que Sousa Tavares exemplifica como única excepção à regra da depressão actual - o Futebol Clube do Porto - prova exactamente o contrário do que diz. O Futebol Clube do Porto de Pinto da Costa tem tido sucesso porque trabalha bem, porque é irreverente e mais organizado que os adversários, mas também porque bate o pé, não se intimida, tem orgulho e afirma-se sem complexos. E será bom não esquecermos as perseguições e os boicotes de que há anos a fio tem sido alvo (e isto não é nenhuma mania, há provas) até aos dias de hoje, tão bem retratados no Processo Apito Dourado.

Todo este clima de menorização do Porto, algumas vezes próximo do desprezo, deixou sequelas, incluindo na cabeça dos próprios políticos locais, que começaram a ser menos reinvindicativos mal perceberam que podiam comprometer a sua carreira se fossem demasiado "regionalistas".

O Dr. Fernando Gomes foi o primeiro a pagar as consequências por ser portista, bairrista e "provinciano"(e demasiado ingénuo, digo eu).
O Engº. Belmiro de Azevedo perdeu a OPA da PT só por ser do Porto e Luís Filipe Menezes que não é pior do que os que lhe antecederam também já está a pagar a factura.
E que dizer das nomeações para a Direcção da PJ do Porto aqui tantas vezes abordadas? E das muitas pessoas que já se inibem de se identificar como portuenses para não correrem o risco de serem penalizados nos seus negócios quando têm de se deslocar a Lisboa? Foram só os portuenses que geraram estas súbitas transformações económicas e sociais para pior? Alguém de perfeito juízo será capaz de acreditar neste mito? De repente, perdemos todas as qualidades?

E Rui Rio? Porque terá ele entrado "a matar" quando, sem saber ler nem escrever, foi parar à Câmara do Porto? Porque sabia bem que a ovelha negra do regime centralista, o alvo a abater, era Pinto da Costa e teve engenho para aproveitar muito bem a crise camarária e para lá se instalar.

Quem pensar que estas águas são de ribeiros diferentes, engana-se. O sucesso do Futebol Clube do Porto foi o pretexto que fez expandir as práticas centralistas para os demais sectores.

O Miguel Sousa Tavares, engana-se. Só tem razão num pormenor: é que, a muitos tripeiros falta a coragem e o desassombro de Pinto da Costa. E isso sim, é que é preocupante.

3 comentários:

  1. Como vê começo a ser um habitué.
    Subscrevo tudo o que disse e acrescento: eles ainda gozam com a nossa cara.As primeiras scuts a terem portagens são as do litoral norte. Só por má fé ou desconhecimento absoluto, alguém pode dizer, por exemplo, que a estrada nacional 13 é uma alternativa à A28. Porque não criam portagens no Algarve na A22?
    Não primeiro arranja-se a estrada nacional 125 e depois lá mais para a frente vê-se.
    O Porto não tem voz, não tem que se afirme, quem dê a cara...reginalização?...fica para as calendas gregas.
    UM abraço

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  2. Meu caro,

    Quantos mais melhor. Tenho muito gosto que faça os seus comentários.
    Traga os seus amigos também.

    Abraço

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  3. Cheguei aqui pela mão do "dragão de vila pouca".

    PARABÉNS !

    Gostei do que li (na generalidade estamos de acordo).

    Quanto à questão da regionalização penso que o problema maior não é a falta dela .

    Para mim , temos as elites "divorciadas do país"
    e um problema cultural grave por resolver .

    Salvo raras excepções não temos tido governantes clarividentes e com visão de futuro.

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