12 março, 2008

O Mercado do Bolhão

Tendo acompanhado com interesse e alguma reserva toda a polémica em torno da remodelação do mercado do Bolhão concluí aquilo que sempre pensei sobre a capacidade de Rui Rio para gerir os interesses da cidade do Porto, que é manisfestamente negativa.

Independentemente da valia dos projectos apresentados a concurso, Rui Rio não foi capaz de dar deles o devido conhecimento público, ou sequer promover uma comissão mista de experts constituída por elementos das partes interessadas na busca de uma solução tão consensual quanto possível.

Como não o soube fazer oportunamente, o que se assiste agora, é uma espécie de lavar de roupa suja, entre promotores imobiliários, arquitectos, comerciantes, vendedoras do mercado e público em geral, onde alguém terá razão mas ninguém parece querer entender-se. É para situações como esta, geradoras de conflitos em que o interesse público deve nortear as prioridades que a mediação da autarquia se impõe, e mais uma vez não está a saber fazê-lo.

O oportunismo dos promotores imobilários, que a coberto da rentabilização do projecto, vem beneficiando de créditos como sendo o sector mais importante das negociações, não pode prevalecer sobre os interesses da cidade e principalmente de quem trabalhou toda uma vida no mercado do Bolhão.

Salvo honrosas excepções, os projectos previamente anunciados como mais valias para a cidade têem-se revelado inferiores às expectativas criadas. O paradigma mais recente é o complexo comercial Porto Plaza, de cuja integração arquitectónica na Baixa não nos podemos queixar, mas com um comércio pouco condizente com o local e a grandeza da infra-estrutura, o que contraria um pouco o entusiasmo inicial à volta do projecto e até da sua própria precisão. Mesmo ao lado, está o Catarina Shopping.

Esta corrente unanimista de erguer grandes centros comerciais e hotéis de luxo (ex.o Palácio das Cardosas) como meio para atrair pessoas à Baixa parece-me errada. As cidades não podem ser construídas para atrair turistas sem gente lá dentro. São as pessoas que lhe dão vida.

Na minha opinião, a prioridade das prioridades devia ser dada totalmente à reabilitação urbana residencial. O casario reabilitado que a conta-gotas se consegue ver é insuficiente para aliciar a procura. As pessoas por norma não gostam de viver em "palácios" rodeadas de lixo e prédios em ruína. Os espaços reabilitados devem criar uma área envolvente relativamente grande (quarteirões) e limpa de modo a dar a ideia à população que está num ambiente novo e digno.

Quando a solução discutida do projecto RCN é dominada pela "inevitabilidade" do retorno do investimento com a imposição de edifícios de habitação, à volta e sobre o mercado do Bolhão, o resultado final só pode ser a total descaracterização do projecto original enquanto mercado.

O que será então edificado, será uma zona residencial com fachadas de mercado tradicional, mas com o mercado do Bolhão adulterado e morto.


PS-Sendo adepto da modernidade e defensor do progresso, ainda hoje estou para perceber as "supremas" razões que levaram à destruição do magníficoPalácio de Cristal para construir o Pavilhão do Desportos (hoje Rosa Mota). Com tanto terreno à volta não teria sido possível conciliar os dois edifícios? Há obras que, pela sua beleza e carga simbólica merecem ser preservadas e a memória dos seus autores também.

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