09 outubro, 2007

ATÉ QUANDO O CENTRALISMO?

Colóquios, debates, artigos, comentários. A exposição pública dos problemas do Porto e do Norte têm conhecido um aumento de actividade, similar ao das manchas solares. Há no entanto uma diferença: nestas últimas, o aumento de actividade tem repercuções na Terra. No outro caso, a influência na nossa "terra" (o Porto e o Norte) tem sido nula.



O figurino habitual dos debates é imutável. De um lado, uma série de personagens mais ou menos conhecidas, normalmente de valor firmado nas suas respectivas áreas, que desfiam o rol das queixas que temos, queixas estas que normalmente não trazem nada de novo. Como contra-ponto, um personagem oficial ou então um representante do partido no poder, que, qual caixa de ressonância do governo, tenta explicar que não é bem assim, que o governo de modo algum favorece Lisboa e Vale do Tejo, antes pelo contrário, que se preocupa com as assimetrias do país, que não quer um país a duas velocidades, blá, blá, blá... pelo que os queixumes, dizem eles, são infundados. Segue-se um diálogo de surdos e depois ... bem, depois o debate ou o colóquio acaba, cada um dos participantes vai a sua vidinha, e tudo continua rigorosamente na mesma, na santa paz do Senhor. Uma completa inutilidade.



Esta fase de "queixas e lamúrias" não nos tem levado - e não levará - a lado nenhum. Por isso é chegada a altura de compreender que uma nova estratégia é indispensável, sob pena de caminharmos de mal a pior. Qual será então, a solução? Honestamente, não sei.



Reconheço apenas - o que não é novidade - que o grande problema se chama centralização excessiva do poder, e que a solução tem de passar por um qualquer tipo de descentralização, simultaneamente com uma mudança de atitude, que nos faça deixar de aceitar como normal a atitude colonialista do Terreiro do Paço (falar de "colonialismo" não é excessivo.Grande parte dos aspectos que o caracterizam, está presente no relacionamento entre Lisboa e o resto do País).



Mas quando se fala de "descentralização" não se deve esquecer que, na realidade, se fala de distribuição de PODER. Ora só por excepção o poder é partilhado voluntariamente por quem o detém, o que significa que se queremos uma parte dele, temos de conquistá-lo. Não será fácil, porque do outro lado está gente decidida a mantê-lo na totalidade e que mostra ter uma organização poderosa. Esta não é pois uma batalha para franco-atiradores nem para esforços isolados.



Por tudo isto, penso que a definição de uma estratégia adequada que acabe com o centralismo exagerado, passará provavelmente pela criação de um " think thank" que, com entusiasmo, persistência e talvez com ajuda especializada externa, seja capaz de elaborar um plano de marketing político coerente e viável que, na realidade, terá de acabar por nos conduzir à regionalização. Indispensável será a aparição de alguém que, como dizia o Prof. Alberto Castro em recente artigo no JN, "ouse tentar", e que consiga "congregar forças e vontades", para que seja dado o pontapé de saída. Haverá alguém?



O êxito da luta anti-centralismo passa também pelo sistema de funcionamento da nossa democracia representativa, tema que me proponho abordar em próximo post neste blogue.

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