05 março, 2008

"ACERCA DOS OPTIMISMOS AVULSOS"

Há quem diga que o Norte, e o Porto em particular, se queixa demais do que não faz e, em vez de reagir e lutar contra as adversidades para as vencer e ultrapassar, se refugia na lamúria e no "sacudir a água do capote próprio", responsabilizando Lisboa e o Governo por tudo de negativo que aqui vem acontecendo de há umas décadas para cá.

Algo me diz que os efeitos da ressaca pós-centralismo (se é que, alguma vez terá fim) estão para dar e durar. O centralismo vigente é como um tumor, deixa metástases por onde passa, e se há organismos que lhe resistem, outros há, que supondo tê-lo controlado já estão contaminados sem disso se darem conta.

Vejamos: começando por Belmiro de Azevedo no tôpo da pirâmide da sociedade civil, passando pelo senhor António da padaria da esquina, prosseguindo por todos aqueles que estão empregados, até à imensa fila dos que não têm essa sorte, seria bom que, definitivamente, soubéssemos a qual destes quadros se referem os "optimistas" deste país.

Este hábito - que já se tornou doentio - de carregarmos na tecla do pessimismo para justificar a depressão do Porto e do Norte, tem der ser refreado quanto antes, sob pena de nos vermos ainda mais privados da atenção do Estado Central do que já estamos. Além de mais, não é rigoroso nem sequer honesto, cair-se sistematicamente na esparrela de fazer-se do positivismo uma espécie de caldeirada onde se misturam peixes de tipos e qualidades diferentes.

Com o respeito que lhe é devido, pela idade e pela reputação que conseguiu granjear, haverá pessoa mais optimista que o Dr. Mário Soares? E daí? Esse optimismo, foi-lhe porventura suficiente para evitar a estagnação social e económica do país?

Ainda hoje, podemos ver na página do JN com a rúbrica "Termómetro", dedicada a frases de figuras públicas, como é o caso de uma do Dr. Soares a confirmar o seu típico optimismo: "tenho confiança no futuro de Portugal e dos portugueses, sempre tive". Fica-lhe bem, mas não chega. Os portugueses precisam de factos, de resultados optimistas, não de previsões otpimistas. As previsões optimistas quando repetidamente defraudadas soam como uma burla.

Já sabemos que não é com derrotismo e lamentos que se progride, mas para lá chegarmos não é suficiente reclamarmos a livre iniciativa dos cidadãos ou o apelarmos ao empreendedorismo sem dizermos concretamente para quem estamos a falar.

Perguntem aos milhões de portugueses que, durante décadas a fio, entre os 50 anos de ditadura e os quase 34 que já viveram de "democracia" (as aspas são incontornáveis), se viram obrigados a sair do país para não morrerem de fome. Perguntem agora, aos milhares de jovens licenciados que não conseguem empregar-se nem vislumbram possibilidades a medio prazo de o conseguirem e que começam também eles agora a procurar alternativas no mercado estrangeiro. Perguntem-lhes se é de optimismo que eles querem ouvir falar quando andam a exigir-lhes mais e mais qualificações. Para quê? Para se verem depois empurrados para a emigração?

Ontem mesmo, a RTP mostrou um documentário sobre emigrantes portugueses em Vancover, no Canadá, onde aparentemente prosperaram; mas o que seria feito deles se se deixassem ficar por cá? Que oportunidades lhes teriam sido dadas neste país de burocratas e corruptos?

Não foi, seguramente, o "optimismo" nacionaleiro que os ajudou a contornar os obstáculos, foi algo mais concreto, como a coragem de partir e a fé nas condições oferecidas por um país que não era o seu.

Deixemo-nos sim, é de lamúrias falsamente optimistas, porque essas mais do que constituirem um estímulo para a superação de dificuldades, são um subterfúgio para não ver a realidade e um óptimo aliado das (ir)responsabilidades do Estado.

É nestas ambiguidades que o Centralismo aposta e se conserva. Na germinação de dúvidas sobre as nossas próprias capacidades e valores.
Já quase conseguiu retirar-nos a fama de povo trabalhador (o portuense), só falta mesmo é limparem-nos o cérebro.

2 comentários:

  1. 15:17 - Actualidade
    Almeida Pereira não favoreceu FC Porto ou Pinto da Costa

    A Procuradoria-Geral da República considerou, em despacho, que o procurador Almeida Pereira, que recusou dirigir a PJ/Porto, não teve "qualquer comportamento processual de favor" relativo ao FC Porto ou ao seu presidente, Pinto da Costa. Esta é a conclusão expressa num despacho do Procurador-geral adjunto Agostinho Homem, titular de um inquérito sobre a alegada parcialidade de algumas decisões de procuradores do DIAP/Porto, em resposta a requerimento do próprio Almeida Pereira. Segundo o despacho de Agostinho Homem, datado de ontem e a que agência “Lusa” teve hoje acesso, Almeida Pereira acompanhou a equipa do FC Porto a Sevilha para a final da Taça UEFA de 21 de Maio de 2003, a convite do presidente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa. "Não se apurou, no entanto, que tivesse havido, da sua parte, qualquer comportamento processual de favor", lê-se no despacho do procurador. “Também não há nos autos elementos que apontem para a prática de qualquer ilícito criminal, nomeadamente corrupção", segundo o mesmo documento onde, no entanto, está salvaguardado que o inquérito "ainda não terminou". Almeida Pereira recusou, a 28 de Fevereiro, assumir o cargo de director da PJ/Porto, que tinha anteriormente aceite, justificando a recusa, em comunicado, pelo ambiente gerado na sequência da comunicação pública da aceitação. No documento, Almeida Pereira afirma ter entendido "adequado" comunicar às entidades competentes a sua decisão de "recusa do convite aceite" para substituir Vítor Guimarães. O magistrado sublinhou que, desde o anúncio público da sua aceitação do convite do ministro da Justiça para assumir a direcção da PJ do Porto, foi "objecto de calúnias, infâmias e vilipêndios de proveniência nunca assumida".
    Eis um bom exemplo, das razões porque nos queixamos.Esta nota veio fora do prazo de validade.
    Cumprimentos

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  2. Meu caro,

    Oportunamente abordarei ainda este tema.

    Cumprimentos

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