11 abril, 2010

A Baixa do Porto

Os portugueses viciaram-se em centros comerciais, e deixaram de frequentar os centros das suas cidades. Os portuenses estão incluídos nesta apreciação e eu também estou. Para me redimir desta tendência, ontem, dia de sol bonito, resolvi ir à Baixa.

Os grafitti continuam soberanamente, perante a indiferença municipal, a emporcalhar a cidade. Ruas pedonais, como Sta. Catarina ou Sto. Ildefonso, continuam a ter trânsito automóvel e a servir para estacionamento. Obviamente a CMP revela incapacidade em resolver não só este problema, como o dos horários das cargas e descargas dos estabelecimentos comerciais. A praça da Batalha continua a pedir uma correcção aos trabalhos da Porto 2001, mas não deixa de estar agradável. O velho Águia D'Ouro ( quantas coboiadas vi naquele cinema!) está em obras para ser transformado em hotel, mas a sua fachada será preservada. O relógio do edifício do ex-Café Palladium, agora Fnac, continua a dar horas acompanhadas pela música dos sininhos, mas pareceu-me que as figuras que aparecem, estão com um qualquer problema de mobilidade. Imensa gente de nariz no ar, gozava o espectáculo, e muitos tiravam fotografias. Na realidade nota-se que os turistas são muitos, e numerosos autocarros, daqueles de deck superior desoberto, circulam cheios deles que, por pouco que gastem, representam actividade para vários sectores da economia da cidade. A base da Ryanair no Porto, tem com certeza influência nisso. Valeu a pena o combate travado por todos aqueles que lutaram contra a decisão do governo centralista, que se opunha à criação desta base no ASC.

Mais abaixo, verifico que o Il Café di Roma, junto à Brasileira, está fechado, dizem que para obras. Será? E a velha Regaleira também está fechada, sem que apresentem explicação. Será o fim? Há muitos, muitos anos quantos fabulosos pregos de lombo autêntico, ali comi! Parece que a Regaleira foi também o berço da inimitável francesinha, mas não me apercebi disso enquanto cliente. Para compensar, ali naquele mesmo troço inicial do Bonjardim, o Rei dos Queijos continua firme, cheio de coisas boas que não apenas queijos. Ao olhar para o idoso proprietário, atarefado atrás do balcão, pergunto-me se ele terá alguém que garanta a continuidade do estabelecimento, que faz parte da memória colectiva da cidade e como tal deve ser preservado.

Um pouco mais abaixo, a travessa dos Congregados continua a ser ninho de casas de comida, agora aumentado por um novo restaurante de aspecto agradável, com ementas de preços fixos a evitar surpresas desagradáveis. Não entrei, experimento numa próxima vez. Na Praça, nova surpresa: o Embaixador está de portas fechadas. Em compensação o McDonalds ( o "meu" antigo Imperial cuja sacristia tanto frequentei) continua cheio. Do outro lado da Praça gostei de ver as agradáveis esplanadas, desde a tradicional Sá Reis até a um novo restaurante de comida ligeira (onde almoçámos a contento e por pouco dinheiro) situado no edifício onde os mais velhos se lembrarão que existiam os telefones da TLP.

Feito o balanço, gostei da "excursão". Penso repetir em breve e recomendo que o façam também.

8 comentários:

  1. Rui
    Imagine se o Porto tivesse outras condições, se aquele casario antigo estivesse devidamente restaurado e habitado.

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  2. Caro Farinas, eu também vou cada vez menos para o Porto. Não sei se é de ver a Avenida dos Aliados assim, se é de olhar para a Câmara e lembrar-me do homem que tem projectado a cidade pelos quatro cantos do Mundo e arredores...

    Ai que saudades dos pratinhos de tripas num restaurante? que tinha à entrada da travessa dos Congregados e que agora não me lembra o nome...

    Um abraço

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  3. Será A Flor dos Congregados? Se é, ainda existe, só não sei se as tripas continuam a ser boas! Um abraço.

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  4. Caro Rui Farinas!

    Gostaria que o Amigo desse uma volta dessas, durante a noite (depois de jantar), ou mesmo ao Domingo de tarde, para assistir ao "Deserto" criado no coração da cidade!

    Um abraço

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  5. O que o Renato sugere é pertinente.

    Apesar da animação de fim de semana nas ruas Galeria de Paris e Cândido dos Reis, das «movidas» e dos copos, o centro da cidade do Porto continua a secar de residentes.

    A reabilitação urbana é um floop, não ata, nem desata. Uma vergonha!

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  6. "E a velha Regaleira também está fechada, sem que apresentem explicação. Será o fim?"

    continuam a "gerir" como se estivessem em plenos anos 70. continuando assim um dia também fecharão. também há muita culpa de comerciantes sem visão estratégica.

    entretanto novas opções têm surgido tanto nas galerias de Paris e Cândido dos Reis como inclusivamente nos Aliados e Praça onde recentemente dois cafés de alta qualidade abriram portas. No campo da animação nocturna a coisa até nem está má.

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  7. Se eu porventura tinha alguma ideia pré-concebida ao escrever este post, seria apenas passar a mensagem que, pelo menos durante o dia, "há vida para além dos centros comerciais". Ressuscitar o centro das cidades uma vez caidos em coma, como no caso do Porto, é dificil demorado e caro. Pressupõe conjugação de esforços entre entidades oficiais e particulares e também,imagino eu, uma certa mudança na mentalidade dos potenciais interessados em ali viver. Não sou conhecedor da matéria, mas há uma coisa que gostaria de ver e que penso que ajudaria :a instalação no centro do Porto de uma nova Loja do Cidadão. A que existe hoje em dia, além de muito excêntrica, tem instalações acanhadas e está sempre tão cheia que se torna um sacrifício ter de lá ir. O Porto indiscutivelmente que necessita de uma segunda Loja e o Centro parece-me o local ideal. Esta pretenção deveria ser, em minha opinião, uma das bandeiras da CMP. Da actual câmara já não espero nada, mas pode ser que daqui a 4 longos anos as coisas fiquem diferentes...

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  8. Portucalense12/04/10, 19:54

    Bem Francesinhas há trinta e tal anos comiam-se de"chorar por mais" no café MUCABA à saída da Ponte de D.Luis (Gais) .


    Que saudades...

    De facto vêm-se turistas na cidade e isso é bom e a RYnair deve ter a ver com isso.

    Oxalá haja planos integrados para tirar partido desse fluxo turistico e deixar satisfeito quem nos visita.

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