29 setembro, 2010

“Desconfiamos mais no Norte”, afirma reitor da Universidade do Porto


O reitor da Universidade do Porto, José Carlos Marques dos Santos, teve nos resultados da primeira fase de acesso ao Ensino Superior uma das primeiras alegrias do seu segundo mandato, iniciado há dois meses. A UP foi a mais procurada do país, com todas as vagas preenchidas e algumas das médias mais elevadas. A academia está em alta numa região em baixa, mas recusa o papel principal que, segundo o seu reitor, deve ser político.

O que significa esta grande procura da UP pelos estudantes?

Mostra a atractividade que tem, resultado de uma investigação cada vez mais reconhecida internacionalmente e de um esforço de ligação à sociedade. Uma universidade deve afirmar-se também pelo contributo que dá ao desenvolvimento da região e do país.

Esse prestígio é um contra-ciclo à perda de poder e de influência do Norte?

Pelo contrário, desejamos que seja uma alavanca. Não teria prazer nenhum em liderar uma universidade de referência mundial numa região desfavorecida. Queremos que ela se desenvolva e, na nossa incubadora de empresas, a UPTEC, estamos a trabalhar para criar empresas que podem mudar o paradigma de mão-de-obra barata e criar mais valor acrescentado. Mas é preciso que outros actores também o façam e que haja liderança na região.

Defende a regionalização?

Sim, desde que não seja para criar novos poderes. Tem que ser um governo de pessoas competentes, mais interessadas na região do que nos seus partidos. Temos que evoluir para um governo regional que olhe pela região e que não se importe de perder o poder se estiver a contribuir para o progresso do país.

Os directores das Faculdades de Medicina do Norte, entre elas as da UP, apelaram à construção do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN), temendo que, sem ele, a formação de médicos fique em risco. Está solidário?

Estou de acordo que o CMIN é necessário. Há qualquer coisa estranha por detrás desse assunto, já se arrasta há tantos anos. Isto é típico da região Norte, passarmos a vida a lutar porque alguém tem uma ideia e outros não querem que ela vá para a frente. Deixemos os interesses particulares e lutemos pelo interesse geral.

Não o conseguir é o pior defeito do Norte?

Nao sei se é o pior, mas há muito disso. Todos desconfiamos uns dos outros e isso no Norte parece mais arreigado. Temos que saber a cada momento abdicar de algo que não é tão essencial e que pode conduzir-nos a uma situação melhor. O CMIN é uma necessidade. Costumo dizer que uma mudança que não tem contra si 15 a 20 por cento das pessoas, não é uma grande mudança. É tão consensual que o avanço é pequenino.

Falando em mudanças, como está a universidade a responder ao apelo do Governo para aumentar o número de portugueses que regressam ao Ensino Superior?

Estamos a responder desenvolvendo a formação contínua, criando cursos de formação para os antigos estudantes. Tem crescido essa procura, mas em Portugal ainda se pratica pouco a formação ao longo da vida. Num encontro, uma universidade francesa contava que tinha 30 mil estudantes de grau e 11 mil de formação contínua, estamos muito longe de atingir esses números, na UP temos quatro mil estudantes em formação contínua.

A quebra nos rendimentos poderá limitar o acesso das famílias com menor poder económico à universidade ?

Aí, é a parte social que tem que intervir. Estamos num país que não produz riqueza, embora o Ensino Superior e a Ciência estejam ao nível dos países mais desenvolvidos. Não podemos reduzir o custo do Ensino Superior porque nos vamos enterrar. O que falta é mudar o nosso paradigma económico para que toda a gente possa ganhar mais.

Fala muito da ligação ao mundo empresarial. A UP já criou cursos a pedido das empresas?

A nossa Escola de Negócios tem tido cursos específicos para empresas e estamos disponíveis para formar quadros para elas. Também estamos abertos a projectos de investigação em conjunto.

Um empresário pode ir à UP e dizer “queria falar com alguém”?

Pode, é simples. Temos uma entidade, a UPIN, que faz a ligação às empresas. Mas têm que saber o que querem, não podem ser problemas para daqui a dois meses, tem que ser investigação estratégica, de médio e longo prazo, como criar um novo produto, podendo até candidatar-se a um programa de financiamento. Fazemos isso muitas vezes e queremos que venham mais vezes.

[Fonte: JN]

1 comentário:

  1. Sr reitor da Universidado do Porto, se Portugal fosse governado daqui do Norte por gente bem formada como se faz nesta Universidade; este país estava diferente para melhor. Assim vamos ver muitas vezes estes governantes que eram Leões a fazerem discursos de Sendeiros com o rabo entre as pernas por serem uns incapacitados
    a governar e uns mentirosos sem remorsos.

    O PORTO È GRANDE VIVA O PORTO.

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