04 fevereiro, 2011

Medos, ou conveniências?



Vou-me repetir, agora, e tantas vezes quantas considerar necessário. Sinto-me confortável neste capítulo e sem receio de me tornar cansativo, considerando os infindáveis testes feitos à tolerância dos portugueses durante anos a fio por gente mais repetitiva que eu, falsa e com outras responsabilidades públicas.

Não simpatizo mesmo nada com os apreciadores do politicamente correcto. Diria mais: desconfio quase sempre deles. Mas cuidado, não se confunda isso com desprezo pelas boas maneiras. Acontece, que a má Democracia que criamos levou muita gente a confundir o politicamente correcto com a boa educação, sendo coisas substancialmente diferentes. O modo politicamente correcto implica o não compromisso, o não falar claro, a omissão subtil da verdade - com ou sem um sorriso nos lábios -, a boa educação pode expressar-se com toda a simpatia e frontalidade sem ter obrigatoriamente de recorrer à farsa. Esta, não é uma diferença menor, meus senhores.

Vejo, com desgosto, que continua bem presente no espírito de alguns portuenses um determinado tipo de complexo relativamente ao que a opinião publicada de Lisboa pensa de nós, coisa  que me custa imenso a compreender. Na política, na cultura ou no futebol, esses medos inexplicáveis são cada vez mais visíveis. Na política, o Homem do Norte morreu. Muitos que hoje estão no Governo são do Norte e revelam-se incapazes de levantar um dedo para o defender. São a nossa vergonha, o argumento que dá força àqueles que tudo fazem para destruir as nossas características e transformá-las em mitos. Na cultura, já não há "heróis". Os Adrianos Correia de Oliveira de hoje confundem-se com os Marcos Paulos da pimbalhada pós Democracia sem qualquer vocação para a luta política. No futebol, um clube resiste, substituindo-se à própria cidade, qual aldeia gaulesa do Astérix, mas sem a valentia do seu povo [falta-lhe a poção mágica...]. O FCPorto, com todas as imperfeições, como clube, consegue ser melhor do que muitos dos seus adeptos. Melhor ou pior, luta, resiste e vai vencendo. Estará algo distante dos adeptos? Talvez. Mas... e os adeptos? Estarão assim tão perto do clube? Estarão dispostos a tudo para o defender politicamente das investidas centralistas? Enquanto ganhar, talvez... Veremos como será quando o clube perder o protagonismo das victórias, para onde irão esses adeptos canalizar as frustrações...

Há medos, curvares de espinha inqualificáveis para um povo que se diz tão orgulhoso da sua história. Mas, sejamos precisos. Não é propriamente só o povo que curva a espinha ao centralismo, são também as elites sem fibra nem carácter, capazes até de vender a cidade para sua promoção e proveito pessoal. O Porto, são elas. As elites trairam o Porto e jamais invertirão o sentido da traição se o Povo não se revoltar. As elites lutam por si e para si, não lutam para o Povo. Logo, são descartáveis. Mas ao menos, podiam ter o bom senso de nos poupar aos discursos fedorentos do politicamento correcto. Se insistirem na fraude, na cobardia, podem bem preparar-se para, num dia não muito distante, terem de aguentar com o impacto perfumado  de uns ovos, ou tomates pôdres.    

5 comentários:

  1. Rui, parabéns pela coragem, pela frontalidade, por nunca se cansar nem desistir, de chamar a atenção, alertar, combater. Um dia e por este caminho, mais cedo que tarde, alguém vai dizer baixinho: bem dizia o Rui Valente.

    Bom fim-de-semana

    ResponderEliminar
  2. É Vila Pouca,

    a razão nem sempre está no conformismo do silêncio. Às vezes temos de falar por muitos...É cansativo, mas vai valer a pena.

    Um bom fim de semana para si também e para todos os leitores do RoP!

    ResponderEliminar
  3. Exactamente, focou aspectos fundamentais que explicam o progressivo enfraquecimento do Porto e do Norte. Tem de mudar a "democracia" que dizem existir em Portugal, pois não é um governo do povo mas dos directórios e aparelhos dos partidos políticos.

    ResponderEliminar
  4. Os políticos do Norte estão acomodados nos partidos:- nos tachos.
    Alguns até querem quebrar a disciplina de voto no Partido, mas ladram com o rabo entre as pernas.
    É um país de políticamente correctos, mas dá-lhes muito jeito serem assim.
    Só uma Intifada é que resolve o nosso problema; e eles estão mesmo à nossa porta. Cuida-te Sócrates e companhia.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

    ResponderEliminar
  5. Força Sr. Rui, coragem e dê forte e feio nesses que, através da politica, conseguiram favores e se olvidaram da sua terra.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...