"Há falta de mão de obra, na indústria do calçado". Foi com este título que o JN abriu a página de economia do passado dia 30. Como podem imaginar, esta originalidade motivou logo a minha curiosidade, até porque abordava um assunto que já me se serviu de inspiração para vários artigos. Fiquei então a saber, que as indústrias de calçado não têm pessoal suficiente para satisfazer as encomendas internacionais, tendo por isso sido obrigadas a adiar encomendas do Verão para o fim do ano. Pela mesma razão, algumas empresas tiveram de assinar um protocolo com o Governo para dar formação ao pessoal e assim lhes facultar condições para serem admitidas. Até aqui, tudo bem.
Segundo o Secretário de Estado do Emprego, há falta de gente no sector inscrita nos centros de Emprego, e a formação é morosa e complexa. Ora, a ser verdade isto, não se consegue compreender o outro lado do problema, ou seja, que o salário máximo de um trabalhador não ultrapasse os 600 euros! O médio, anda pelos 475 euros, que é o valor do salário mínimo nacional! Se cada trabalhador tiver de pagar de renda de casa 300 ou 400 euros, é só fazer as contas para saber quando é que lhes sobra para o resto.
E é assim, entre contrastes desta natureza, que o leitor atento tem grande dificuldade em entender determinado tipo de perguntas, como aquelas que a jornalista do JN fez a um professor de Direito do Trabalho e que começava assim: como observa a prosperidade da indústria do calçado? O inquirido, lá foi dizendo que nem todas as fábricas precisavam de mão de obra, e que essa questão era apenas um sentimento, porque [cito] quando se contratam pessoas para cargos mais altos não se dá o problema dos salários, e o emprego já é interessante. Agora, se falarmos de um operário certamente que não vai ganhar sequer mil euros. [o sublinhado é meu].
Continua, lamentavelmente, a ser esta - medieval e exploradora -, a mentalidade do empresariado português. Fanfarrões, exibicionistas e novos-ricos, e sem qualquer respeito por quem para eles trabalha! A ideia de prosperidade é unipessoal, não admite partilha. Boas casas, bons Ferraris, e vida de sultão, em regime de exclusividade, é essa a sua noção da sociedade e da justiça! Ninguém os convence que um trabalhador mal pago, é potencialmente um trabalhador improdutivo, e alguém cujo poder de compra o impossibilita de contribuir para a prosperidade de outras empresas, logo, para o crescimento da economia nacional. Mas estas, são questões que os senhores jornalistas raramente se lembram de colocar aos sultões. PS e PSD, sabem-no, mas preferem as peixeiradas eleitorais do costume.
Eles sabem muito bem, o povo que têm...
PS-Resumindo: sempre que ouvirem políticos a atribuir aos subsidiários do Rendimento Mínimo as culpas de todos os males do país, risquem-nos imediatamente da lista de candidatos ao poleiro.
O mesmo se aplica aos "empresários" que andam para aí a convencer a plebe que as pessoas não querem é trabalhar. Não aceitem trabalhos mal remunerados, porque isso é aquilo que não devem fazer.
PS-Resumindo: sempre que ouvirem políticos a atribuir aos subsidiários do Rendimento Mínimo as culpas de todos os males do país, risquem-nos imediatamente da lista de candidatos ao poleiro.
O mesmo se aplica aos "empresários" que andam para aí a convencer a plebe que as pessoas não querem é trabalhar. Não aceitem trabalhos mal remunerados, porque isso é aquilo que não devem fazer.
Nem mais amigo Valente!
ResponderEliminarO trabalho neste país não é valorizado!
De cada vez que me lembro que a minha esposa arranjou um "emprego" onde auferia da enormidade do salário minimo e que gastava cerca de cento e vinte euros de gasóleo porque transporte publico estava fora de questão até me apetecia arrancar os pelos dum sitio que não digo!
Mas a culpa é minha e dela que não sabemos fazer contas!
Rui e é preciso acrescentar que, normalmente, é para apanhar umas alcabálas e os subsídios estatais, que mal terminam, rua com o trabalhador.
ResponderEliminarPara além do salário baixíssimo e horários para lá dos contratualizados.
Abraço