26 outubro, 2011

Fêcho do dossier Villas Boas


Villas Boas
Para fechar de uma vez com o dossier Villas Boas, gostaria de começar por dizer o seguinte: o direito à crítica é tão legítimo como o direito ao louvor, desde que obedeça a critérios de justiça e coerência.

Pessoalmente, sou mais vulnerável à sabedoria popular, do que à verborreia político-conservadora, que não se importa nada  de recorrer ao discurso populista quando lhe convém...

Se há coisa que me chateia solenemente, é ver alguém sentenciar categoricamente, como decidiria quem não se conhece, se estivesse no lugar de determinada pessoa. É um pressuposto, no mínimo abusivo, porque  intui e impõe a terceiros desconhecidos a sua opinião pessoal como sendo a única válida, e possível.

Vem tudo isto a propósito da forma abrupta como o ex-treinador do FCPorto, André Villas Boas entendeu deixar o clube. Até pessoas de quem tenho a melhor opinião, como é o caso do escritor Álvaro Magalhães, cometem esse lamentável erro. Senão, vejamos o seu comentário sobre a entrega do Dragão de Ouro a Villas Boas: "Foi bonito. O clube fez o que tinha que fazer: agradecer e dar o Dragão de Ouro. É uma atitude que enobrece. Foi ultrapassado o rancor. Qualquer um no lugar de Villas Boas tinha feito o mesmo, isto é mudar de cadeira, para outra mais bem paga e de maior prestígio. Ficar no Dragão seria estar a atrasar o seu destino".

Vamos lá a ver se nos entendemos. Ninguém pode censurar Villas Boas sobre o legitíssimo direito de olhar pelo seu futuro, e eu não o censuro por isso, e pelos vistos [agora], Pinto da Costa também, que mesmo assim, na altura não se coibiu de lhe chamar medroso... Critico-o sim, pelo timing, que sendo embora pertença exclusivamente sua, colidiu com o timing do clube, que ainda por cima era o do seu coração. E quando digo que colidiu com o timing do FCPorto, quero dizer com os interesses do clube, entre os quais se releva a escolha do treinador. Ainda falta saber, só o futuro esclarecerá, que consequências e preço terá de pagar o FCPorto pelo recurso ao SOS/Victor Pereira, para treinador principal. Pinto da Costa é mestre a arriscar, mas já se tem enganado...

Ainda sobre a decisão de Villas Boas, não creio que se ele tivesse optado por ficar só mais uma época, corresse o risco de hipotecar a sua carreira. Jovem, confiante, competente e com o talento que tem, não creio que, mesmo admitindo uma segunda época menos feliz ao serviço do FCPorto, faltassem as propostas. Já entenderia bem melhor a decisão se ele fosse mais idoso, se tivesse 40, 50 ou 60 anos. Podem-me dizer, que jogou pelo seguro e aceito o argumento, mas não me podem é garantir que outro não teria tomado decisão diferente, e sobretudo, repito, tratando-se de um treinador que fez questão de exaltar a sua condição de portista. Então, como é? Como ficam aqueles teóricos que dizem que: se pode trocar tudo, de mulher e automóvel, só não se troca de clube? Não faltará acrescentar ao ditado, "excepto por dinheiro?". Alguma coisa não bate certo, nesta lengalenga.

Agora pergunto: e se em vez do Chelsea, os milhões que o cegaram viessem da Luz, o discurso contemporizador seria igual, ou era outro? Que raio de portismo conformista é este como o de Álvaro Magalhães que considera a cadeira do Chelsea mais prestigiante do que a do FCPorto? Terá ele confundido o campeonato inglês com clubes? Que o Chelsea tem mais dinheiro, tem, mas... prestígio?! Além de que, salvaguardando o facto relevante de André Villas Boas ter desenvolvido um trabalho sério, vitorioso e competente ao serviço do FCPorto [uma extraordinária atenuante], não vejo uma diferença muito grande entre a sua fuga do FCPorto e a deserção de Durão Barroso para Bruxelas ou de Guterres para Comissário das Nações Unidas. Ambos foram olhar pela vida, não é assim...

É certo que a estes últimos, como altos representantes do Estado, se exigiria uma outra elevação, outra noção de ética, mas não foi o vil metal que também aqui esteve em causa? Será que Álvaro Magalhães também considerou prestigiantes estas decisões? Que no lugar deles fazia o mesmo?

É preciso pensar melhor antes de pormos a boca no trombone de outros. Porque, apesar do oportunismo ser cada vez mais global e descaracterizante, ainda há outros, e... outros.

7 comentários:

  1. "Não me comoveu"

    "O que me surpreendeu foi terem-lhe entregue o prémio. Depois disso, era óbvio que ninguém assobiaria e que seria bem recebido. Quanto ao que André Villas-Boas disse, foi um discurso de adepto, bem escrito, mas sem qualquer significado. Leu um poema heróico ao portismo, mas não me comoveu. Se calhar, fazem falta discursos assim a Vítor Pereira.... Como Helton disse, a equipa nem sempre tem alma."

    Rui, este foi o comentário do Álvarom Magalhães no Jogo e é totalmente diferente do que diz no Jn.

    Quanto ao Borrado, não dou mais para o peditório.

    Abraço

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  2. manuel moutinho26/10/11, 18:12

    Estou totalmente de acordo com o que escreveu,se isto fosse feito por um treinador que não fosse portista ainda compreendia agora feito por um homem que fez jura de amor eterno ao clube e logo a seguir trocá-lo por outro é feio.Por mim está perdoado mas isso não me tira a vontade de mandá-lo para um sítio que eu cá sei. VIVA O PORTO!

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  3. sobre estes considerandos sobre o que qualquer um faria, tem muito a ver com o carácter de cada um.
    Por isso a Aristides de Sousa Mendes ocorreu o que sabemos, antes e depois da morte.
    A memória lá está, a ver se se decide a apagar-se.
    O Mundo está cheio de gente pequena

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  4. Porque diabo, ele tinha uma cláusula de rescisão de 16 milhões? será que o presidente, mesmo depois de ele ter dito que estava numa cadeira de sonho não acreditou nele? o que quis dizer aquele grande abraço de PC a AVB?
    Esta historia está mal contada.
    Se fossemos por aí, o que seria do F Gomes e do António Oliveira etc etc.
    O FCP perdeu o treinador mas ganhou 16 milhões. Ele é um jovem, e "como disse" que não quer ser treinador por muitos anos, por isso aproveitou esta grande oportunidade, que não acontece todos os dias.
    Como sócio do FCP, estou muito grato ao AVB por tudo que ele num ano deu ao FCPorto, o resto são tretas.
    O sr VP se não inventar muito de todo um trabalho que ficou do AVB porque trabalhou com ele, também pode ser campeão. No FCP qualquer treinador sujeita-se a ser campeão, há muitos exemplos disso.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  5. Caro:

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO
    [já reparou como é ridículo tratá-lo como pessoa (que é), com um "nome" destes?]

    Respeito a sua opinião. Mas, pergunto-lhe: quando alguém tem consciência da sua "vulnerabilidade" a um punhado de euros, e esse alguém é inteligente, precisa de apregoar o seu portismo da maneira como Villas Boas o fez? Precisa de dizer que até ficava 20 anos no clube? Não fazia melhor figura se estivesse calado?

    É que,não sei se já se deu conta, quem defende a atitude do André, está de certo modo a proibir-se a si próprio de grandes manifestações de amor eterno ao clube, porque implicitamente, está também a admitir que por uns milhões até vendia a alma ao diabo...

    E se a milhões oferecidos não se olha a clube, até podem vir do Benfica, que no pása nada... Ai, ai!

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  6. Alguém dizia: que no futebol o que hoje é verdade, amanhã é mentira.
    Acredito como diz, que era melhor estar calado.
    Não acredito, se fosse o Benfica a convidar o AVB, este sai-se do FCPorto, não é bem a mesma coisa.
    A minha opinião, é só uma opinião, e vale o que vale.
    Vender a alma ao diabo! o que é isso...
    O meu clube foi sempre o FCP e defendo-o sempre com bastante intensidade, agora intendo que AVB como um profissional que é, tomou a atitude que tomou. Reconheço o tempo da decisão não foi a melhor, mas não lhe chamo nomes. Será que no clube ninguém sabia atempadamente da sua saída!?
    Se calhar um dia destes lá está o AVB a treinar o FCP e ganhar títulos e fica tudo na paz do senhor.
    Por opção sou anónimo, e por outro lado presto homenagem à cidade e ao clube.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  7. Essas verdades futeboleiras e "à la pimenta machado", podem ser muito realistas, mas a mim dizem-me pouco.

    Sendo certo que a vida não é uma linha recta, que às vezes temos de engolir uns sapinhos e contornar muitas ratoeiras, preferia que essa linha fosse encarada com mais seriedade, e não "curvar" à exacta medida das conveniências de cada um...

    Assim, qualquer um é "íntegro".

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...