Cada vez me capacito mais que quando alguém avalia a democracia como algo imutável, socorrendo-se de belas declarações produzidas por reputadas figuras históricas, é porque, à falta de melhores argumentos receia perder qualquer coisa. E dessas coisas não falam publicamente... Esta gente fica de tal maneira obcecada com as suas carreiras e negociatas que se torna incapaz de usar o mesmo tipo de argumentação com algo que vá contra as suas convicções. Se Winston Churchill disse que "a Democracia é a pior forma de governo exceptuando todas as outras", Luís de Camões escreveu que "todo o mundo é composto de mudança". O que levará então alguns a valorizar uma frase sábia mas ambígua, produzida num contexto de pós guerra, e a negligenciar outras cujo realismo é patente na contemporaneidade? A chegada do Homem à Lua e os projectos de vôos tripulados para Marte não serão argumentos de peso? Por que será que a Democracia não pode evoluir como seria exigível e natural?
Uma das mais frequentes críticas à democracia representativa, além do galopante desencanto com os políticos, é que a opinião
do povo só é consultada uma vez em cada quatro anos. Após serem
eleitos, os políticos tradicionais actuam como bem
entendem, até às próximas eleições. Pergunta-se: em 38 anos de democracia têm os governantes dado provas consistentes para merecer dos eleitores um tão folgado período de estado de graça? Acaso se justificará uma tão grande separação entre dirigentes e dirigidos, assente nos pressupostos conhecimentos técnicos dos primeiros? Mas, aonde é que eles se fizeram sentir em 38 anos de democracia?
A resposta não dá lugar a sofismas: casos como a Freeport, o Face Oculta, o mafioso polvo do BPN / SLN, a espionagem descontrolada, homicídios praticados por políticos, a corrupção, a decadência económica e social do país, a pobreza acelerada, o desemprego galopante, a degradação dos serviços de saúde, a perda de regalias das classes média-baixa, as reformas de miséria em contra-ponto com as pensões milionárias de políticos e ex-políticos, tudo isto não chegará e sobrará para nos convencer [e os convencer] que algo tem de mudar, depressa e radicalmente? Onde estará o pessimismo aqui? Descobrem-no? Ou preferem inventá-lo?
Churchill, muito citado nos últimos tempos pelos senhores "Não mexam no meu tacho", não pode deixar-nos prisioneiros do fatalismo do seu conceito sobre a democracia representativa. O fosso entre representantes e representados tem afastado os cidadãos das práticas rotineiras da política, e isso desanima-os, mas ao mesmo tempo revolta-os. Cornelius Castoriadis, bem disse: «a representação "política" tende a "educar" - isto é, a deseducar - as pessoas na convicção de que elas não poderiam gerir os problemas da sociedade, que existe uma categoria especial de gente dotada de capacidade específica para "governar"».
Tudo isto para dizer que, para muitos, a democracia é como a vida, tem a inevitabilidade do fado. Só a espaços, quando ela começa a andar para trás é que estão abertos a revoluções ou evoluções, se preferirem. A Democracia é mesmo um bicho de sete cabeças. Pois é...
Bom dia,
ResponderEliminarUm tema off-topic, a proposito das tendencias centralistas lisbonarias!
Desde ha cerca de 6 meses, viajo com alguma frequencia na TAP.
Será impressao minha ou a revista que temos à nossa disposicao nos avioes promove Lisboa e zonas circundantes (Cascais, sintra, etc...) como se nao existisse mais Portugal!?
Alguém pode confirmar se estou certo ou nem por isso?
(descupar falta acentuacao mas estou num teclado espanhol...).
Deacon Blue
A democracia é quando mandamos nos outros. Quando são os outros a mandarem em nos é uma ditadura da maioria.
ResponderEliminarCaro Lino Babo,
ResponderEliminarnão me incomoda a obediência.
Incomoda-me, e muito, é "dever" obediência a quem não tem categoria nem competência para governar. Nesse sentido, nunca classificaria de ditador um governo que soubesse desempenhar o seu papel com honra, sabedoria e respeito. Nesse caso, a questão da "maioria" seria irrelevante.
Deacon Blue,
ResponderEliminarnão me diga que precisou de viajar na TAP para descobrir as marcas do centralismo. O que você viu foi isso. Mas elas estão por todo o lado, até no ar que respiramos.
Caro Rui Valente,
ResponderEliminarEfectivamente nao preciso de viajar na TAP para descobrir o centralismo. O que encontrei foi, isso sim, como diz e bem, mais uma marca.
Gostava é que alguém confirmasse se é verdade a impressao que tenho pois estou a preparar uma reclamaçao e queria suportá-la o melhor possivel.
Abraço!