15 maio, 2012

Os direitos adquiridos sem "ilhas" nem estigmas

Ilha de Páscoa = direitos adquiridos...
Regra geral, quando decido copiar e republicar no Renovar o Porto artigos de opinião, é porque os considero interessantes e intelectualmente honestos. Tenho preferência por crónicas satíricas e bem humoradas [como as de Manuel António Pina e Jorge Fiel], embora nem sempre concorde com elas. Já sou menos tolerante com os escritos superficiais, sem consistência nem respeito pela inteligência dos leitores, e nestes casos opto por não os publicar. Abri uma excepção com o post anterior de Paulo Ferreira para tornar mais fácil a leitura daquilo que ele escreveu e o que eu vou dizer.

Para começar, não sei onde o jornalista foi encontrar a relação fonte/alvo na analogia direitos adquiridos / Ilha de Páscoa, porque é tão absurdo como ligar a decadência do império romano a madre Teresa de Calecutá. Falar em direitos adquiridos como uma espécie de vício no qual só entra quem quer, e porque quer, é dar um tremendo pontapé de desprezo em todas as regalias sociais conquistadas pelo homem desde a idade média até aos nossos dias. É não perceber que tais direitos foram criados para encurtar o fosso social e económico entre pobres e ricos e como forma de travar os abusos praticados ao longo de séculos pelos mais poderosos sobre os mais desprotegidos.

Além de mais, é abusivo, para não dizer inqualificável, responsabilizar os povos, falando sempre na 1ª pessoa do plural, pelas más decisões políticas dos líderes. Embora pareça, em Portugal como em toda a Europa não reina a anarquia, existem chefes de Estado e governos democraticamente eleitos. Portanto, há responsáveis, e seria da mais elementar coragem assumí-lo sem as tibiezas dos puxa-sacos. Se a União Europeia e [principalmente] Portugal não são capazes de cumprir as garantias e os direitos que prometeram, então os culpados são facilmente detectáveis: todos os governos que nos (des)governaram. E é sempre bom lembrar que os governos são desempenhados por homens e mulheres, todos com bilhete de identidade e alguns ainda estão vivos. O senhor jornalista devia pois pedir-lhes a eles, e não a todos nós, as respectivas responsabilidades, porque quem decidiu foram sempre os governantes. A nós, meros cidadãos, só nos é permitido votar e pouco mais. E isso é muito pouco para se dar à libertinagem de nos exigir responsabilidades sobre decisões de carácter governativo. 

É por estas e por outras que eu, que nem sequer sou jornalista, continuo a defender outras garantias e ferramentas para exercer com mais eficácia os meus direitos de cidadania. Se já as tivesse, seguramente que não me limitava a abster-me de votar nos últimos actos eleitorais. Se assim fosse, nem Sócrates nem Passos Coelho ousariam fazer tanta asneira. Não lhes dava tempo, corria de lá com eles, sempre que se desviassem do rumo. Talvez assim hoje me estivessem a agradecer a "vassourada", em vez de me imiscuírem numa "guerra" [a dívida pública]  na qual nunca me perguntaram se queria combater.

Obs. - Este post foi hoje enviado para o correio do leitor do JN

4 comentários:

  1. Vou copiar este seu ultimo paragrafo...só para me sentir melhor...

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    É por estas e por outras que eu, que nem sequer sou jornalista, continuo a defender outras garantias e ferramentas para exercer com mais eficácia os meus direitos de cidadania. Se já as tivesse, seguramente que não me limitava a abster-me de votar nos últimos actos eleitorais. Corria de lá com eles, sempre que se desviassem do rumo, e assim talvez hoje me estivessem a agradecer pela vassourada, em vez de me incluírem numa "guerra" [a dívida pública] sobre a qual nunca me perguntaram se queria ser combatente.

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  2. Este Paulo Ferreira é um vómito!
    Se em vez de andar a branquear certas poucas vergonhas, se debruçasse sobre algumas escandaleiras que estiveram na origem de muitos dos direitos adquiridos tivessem ido para o galheiro, é que fazia bem, mas era pedir de mais a este ratinho...

    Abraço

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  3. Zé da Póvoa15/05/12, 19:19

    O problema é que há cada vez mais jornalistas a portarem-se como "a voz do dono".
    Conforme a cor dos governantes, aí estão eles a "puxar sacos" porque a sua espinhela se molda fàcilmente aos interesses imediatos.
    Sou leitor diário do JN há muitos anos, desde que aprendi a ler, e nunca o vi tão conivente com os poderes instituidos no momento!

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  4. Este devia ter ido trabalhar com dez anos e meio como eu fui, para depois falar sobre gastar mais do que aquilo que ganha, estes gajos vêm dar recados do primeiro ministro,outro trabalhador,sem sequer fazerem ideia daquilo que estão a dizer, possívelmente nunca fez nada na vida até agora, então com o peito feito aqui vou eu navegar sem carta nem sextante,ó senhor bem na vida, você faz alguma ideia daquilo que muitos portugueses têm feito para poderem viver o dia a dia? Se alguém gastou demais, foram os seus amigos,sim porque quem fala assim está a defender aqueles que arrasaram este país!
    manuel moutinho

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...