24 outubro, 2012

Votar é um totoloto, mas não devia ser


Manuel Pizarro
Nem de propósito! O JN de hoje publicou uma interessante entrevista com o candidato pelo PS à presidência da Câmara do Porto, que li com a maior atenção. De modo geral, gostei do que li. E daí? Que garantias me dá uma simples entrevista onde são dadas respostas pertinentes a questões embaraçosas, mas que depois podem não ser levadas a cabo, como sucede frequentemente?





Luís Filipe Menezes
O post que ontem publiquei, se calhar demasiado idealista, ou se preferirem, um tanto ingénuo,  procurou precisamente focar-se nesse ponto: credibilidade.

Acho uma certa piada àqueles cavalheiros que muito se incomodam, com aquela sobranceria de quem tudo sabe, quando alguém enfatiza as questões de carácter dos governantes, como se os eleitores fossem profundos conhecedores da suas carreiras profissionais e sobretudo do seu lado humano. Afinal de contas não será essa a maior das qualidades? E a competência, dirão alguns, não conta? Na minha escala pessoal de valores a competência vem logo a seguir, e por uma razão muito simples. É que um Homem de carácter na acepção positiva do termo, é inevitavelmente dotado de uma consciência cívica e de um sentido de honestidade que as pessoas vulgares não podem possuir. A diferença entre quem tem e não tem carácter, está na consciência do dever. Se entregares o Poder  nas mãos de um oportunista competente, o mais certo é que ele use as competências em seu próprio proveito, descurando inevitavelmente o interesse público, levando-o a agarrar-se ainda mais ao poder até que veja realizadas as suas ambições pessoais. Ao passo que, uma pessoa de carácter e sensata, sabe muito bem o momento de resignar quando percebe que, por limitações próprias ou alheias, não pode pôr em prática os projectos que tinha em mente. A resiliência é contraproducente se for confundida com teimosia irresponsável.

Manuel Pizarro até pode ser um excelente candidato à Câmara do Porto, mas tem pela frente um forte opositor, como Luís Filipe Menezes, com obra feita notável [apesar de muito endividado] em Vila Nova de Gaia. Pizarro tem a vantagem de não pertencer ao partido do Governo e é dos poucos socialistas capaz de inspirar alguma confiança aos portuenses. É um homem afável e aparentemente humilde. Revela uma capacidade para socializar que não parece falsa, o que lhe pode ser de grande utilidade para negociar e empreender. Vive sob o espectro desastroso do Governo anterior. Na entrevista ao JN, teve uma frase inteligente e factual:  "Se votar Menezes, o Porto premeia o Governo PSD". Contará também ele com a curta memória do povo para ter esquecido o legado que Sócrates deixou? É bom que não se fie.

Tenho a impressão que Menezes vai ultrapassar o estigma de violar o prazo legal dos mandatos numa Câmara, mesmo usando o buraco legal que a Lei deixou em aberto para se poder candidatar noutra cidade [Porto]. Como o governo central e o Estado são maus pagadores [e agora estão sem dinheiro], não condeno um autarca que contraia algumas dívidas, desde que justificadas e controladas, para o bem das cidades. Por isso, não é por aí que não votarei em Menezes. Tenho contudo uma espinha entalada com LFMenezes: não gostei do volte-face que deu quando como líder do PSD desvalorizou a Regionalização mal aterrou em Lisboa. Disso, não gostei nada.

Como tal,  para votar só posso mesmo intuir, ou fechar os olhos... Se votar, talvez aposte em Manuel Pizarro. E se ele me sair um outro aldrabão, o que é que faço? Demito-o? Como?

É por não conviver muito bem com estas dúvidas que às vezes prefiro abster-me. Se há coisa que me chateia é passar por anjinho, ou contribuir para promover o estatuto de pessoas sem qualquer qualidade. Ainda tenho muito tempo para me decidir.  


  


8 comentários:

  1. frentes de esquerda?!
    Já veem tarde, e afigura-se-me tentativa de ganhar o poder. Só!
    Assim sendo, não há credibilidade nenhuma nestas putativas abrangências...

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  2. Não é fácil escolher para Câmara do Porto qualquer um destes candidatos, é preciso reflectir bem, porque ambos têm muitas diferenças em comum.
    Para já, temos um défice de obra na cidade do Porto dos doze anos do mandato deste sr presidente RR que é preciso recuperar.

    Manuel Pizarro pessoa educada de bom trato com que eu até simpatizo, mas, parece-me ser um individuo que não tem nervo para afrontar o governo de Lisboa quando for necessário. A cidade do Porto necessita de uma voz forte para a cidade e para o Norte.
    Eu não li a entrevista, mas todos nossos sabemos estes srs políticos fazem tudo e mais alguma coisa, e depois, é o que nos já sabemos...

    Quanto ao Filipe Menezes, pessoa que eu até não simpatizo, mas que sabemos que fez obra. Gastou muito dinheiro na câmara de Gaia, e depois!... e a obra não ficou feita? e Lisboa que é um poço sem fundo a gastar dinheiro...
    Agora, o ignorante o invejoso RR usando os seus servidores como Rui Moreira que dá entrevistas dizendo mal FMenezes, o CDS que é uma areia na política nacional por intermédio do rapaz da distrital e sendo amigo RR, diz, que não vai fazer coligação com Menezes. Pobre política de tachos e invejosos.
    Já disse e volto a dizer não gosto de Filipe Menezes, mas vou votar nele, para ver se esta cidade do Porto sai da inercia.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  3. Zé da Póvoa25/10/12, 15:02

    O objectivo do Menezes, em termos pessoais, é brilhante.
    Ganhando a Câmara do Porto, fica com excelentes condições para criar uma grande cidade Porto/Gaia.
    Resultado imediato dessa junção: consolidação de contas. Sendo Gaia uma das Câmaras mais endividadas do país (à volta de 500 milhões) e o Porto ter dívidas muito menores (não chega a 200 milhões) é fácil de ver que Rui Rio andou a esmifrar os portuenses para no futuro pagar as dívidas que o Menezes em Gaia contraiu com as suas obras faraónicas.

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  4. Menezes, não, porque quem fez 3 mandatos consecutivos numa Câmara, não devia poder passar para outra.
    Sobre as dívidas, a minha opinião é a seguinte: se o dinheiro for mal gasto, em obras faraónicas, OK, merece forte censura, se for bem aplicado e melhorar a cidade, nada a opor. Gaia tem obras faraónicas, até pode ter, mas também há uma diferença notória entre a Gaia do passado e ade agora, principalmente, é a que conheço melhor, desde azona ribeirinha até quase aEspinho.

    Manuel Pizarro, gosto. Sério, competente, discreto, mas e como diz o Porto é grande, viva o Porto, terá a capacidade reivindicativa e será a voz que o Porto precisa para voltar a ter força e protagonismo que já teve?

    ABRAÇO

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  5. Meu caro Rui Valente,

    Fico aziado com comentários que primeiro ilibam O LFM do despesismo no Municipio de Gaia e depois não tenham o mesmo principio com o governo Socrates. Como se o despesismo fosse bom de uma maneira e mau de outra.

    Saiu agora um livro que aconselho e que desmistifica o que ouvimos todos os dias na TV nos ultimos 18 meses. O Livro chama-se "Sem Crescimento Não Há Consolidação Orçamental:
    Finanças Públicas, Crise e Programa de Ajustamento", de Emanuel Santos.

    Deixo só algumas perolas:

    1. Para começar, 47% da chamada despesa pública de 2011 consistiu em transferências, ou seja, redistribuição de recursos que o estado opera de uns cidadãos para outros, incluindo pensões e outras prestações sociais. Não é pois verdade que o estado se aproprie de metade da riqueza do país, visto que metade dessa metade é devolvida às famílias.

    2. As despesas de funcionamento das administrações públicas (salários mais consumos intermediários) representam 39% dos gastos totais.
    Porém, como abrangem a produção de serviços como a saúde, a educação ou a segurança, a verdade é que o custo da máquina burocrática do estado central se fica pelos 12 mil milhões (15,5% da despesa pública ou 7,2% do PIB). As gorduras do estado são afinal diminutas.

    3. Os juros da dívida pública deverão absorver no próximo ano 5% do PIB. É imenso, mas em 1991 chegaram aos 8,5%.

    4. O estado português foi recentemente obrigado a corrigir as suas contas incluindo nelas défices ocultos em anos anteriores, o que teve como consequência um aumento brusco da estimativa da dívida pública acumulada. O curioso é que essa dívida escondida foi praticamente toda contraída até 1989. Logo, as revisões recentes emendam falhas cometidas há muitíssimos anos.

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  6. F. Couto,

    Era bom que no futuro qualquer candidato(a) fosse impedido de prometer sem antes dar sérias garantias que pretende cumprir.

    Todos os políticos, mas todos mesmo, assimilaram essa estratégia como a única forma de persuadir o eleitorado a entregar-lhes o voto. É a mais fácil...

    Haveria muitas questões a levantar aos candidatos que "normalmente" não se levantam, como por ex., apurar qual o conhecimento da situação económica e financeira da autarquia a que concorre.

    Naturalmente, só depois de serem apossados nas respectivas Câmaras é que os candidatos podem ter elementos mais aprofundados sobre o seu estado.

    Por isso, deviam ser punidos sempre que incumprissem com o programado.

    Talvez por isso, e como, repito, o Estado nunca foi exemplo para ninguém,e é quem tem lançado na sociedade este hábito indecente de pagar tarde e a más horas, percebo, embora por princípio não aprove a acumulação de dívidas, que alguns recorram a esse expediente para poderem trabalhar.

    Rui Rio tem uma dívida muito inferior a LFMenezes, mas em contrapartida não foi capaz em 3 mandatos de empreender nada de verdadeiramente importante, tanto em termos políticos e estratégicos como em obra realizada. O Oceanário é muito pouco. São amendoins...

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  7. Meu Caro Rui Valente,

    Tenho para mim que o melhor Presidente de Camâra que o Porto já viu foi Fernando Gomes. Porquê?
    Porque tinha uma ideia estrategica para a Cidade, a saber: Colocar e manter o Porto como a Cidade referência do Noroeste Peninsular.
    Como? Atraves de eixos economicos, culturais e politicos.
    Economicos - Aeroporto do Porto e Portos de Leixões e Viana do Castelo. Ligações estrategicas ferroviárias (TGV) e rodoviárias A7que nos ligariam ao Noroeste.
    Culturais - Casa da Musica, Serralves, FC Porto, Fantasporto, Porta de entrada do Douro vinhateiro, Capital Cultura, etc...
    Politicos - Sede de organizações regionais e internacionais, diplomacia de influência para fundos de apoio ao desenvolvimento regional, regionalização, etc...

    Pela primeira vez tivemos um rumo, uma direcção estrategica. Depois, depois, chegou o complexo de inferioridade que lhe desconhecia, chegou a ambição. Quis ser Ministro da Republica, abandonou o Porto e os Portuenses, e foi o descalabro. Nunca mais tivemos esta visão, este designio. O RR é o menor dos nossos problemas. O RR é um populista, um demagogo que sendo politico, abomina os politicos. De LFM, tenho o discurso num celebre Coliseu de Lisboa, onde se referiu aos sulistas e elitistas e onde saiu vergado aos insultos. Lamento, mas comparo-o ao Fernando Gomes, um individuo que quer a Camâra do Porto para dar o "salto".

    Abraço

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  8. Caro F. Couto,

    de modo geral estou de acordo consigo. O único senão de F. Gomes foi, como disse, o excesso de vaidade e também alguma ingenuidade, porque só ele parece não ter percebido que o lugar que lhe ofereceram no Ministério da Adm.Interna era um presente envenenado, como se veio a confirmar.

    Esqueceu-se de mencionar foi o Metro do Porto...

    Abraço

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...