07 novembro, 2012

Crónica de Manuel Serrão. A não perder.


De quem o Porto não precisa

Publicado às 00.20

 
O Porto não precisa de políticos que só estariam disponíveis para combater por ele em fim de carreira, dr. Rangel! Ainda o país não descobriu como e onde vai cortar os fatídicos 4 mil milhões, que pelos vistos nos separam de mais uma grande classificação na "escola" da Europa e já as próximas eleições autárquicas no Porto estão na ordem do dia. E ao rubro!

A primeira coisa que se discute é se já é tempo para discutir. Claro que é! Para um portuense que se preze, discutir o futuro da sua cidade está sempre a tempo e vem sempre a horas.

Por um lado, mais vale tarde do que nunca, em relação às questões e problemas que se vêm arrastando com os anos, como é o caso, por exemplo, da perda de importância da cidade e dos seus protagonistas nos contextos nacional e internacional.

Por outro lado, nunca é cedo de mais para pôr em cima da mesa questões estruturais que possam alavancar o futuro, como pode vir a ser o caso da fusão do Porto com Gaia.

Sem menosprezar o excelente trabalho contabilístico dos últimos anos (e também sem reduzir a esta dimensão as únicas mais-valias dos atuais e anteriores responsáveis autárquicos do Porto) a nossa cidade precisa de mais e melhor. Diria, até, de muito mais e muito melhor.

Quem pensa assim não pode achar que falta muito tempo para as eleições municipais de 2013 e não pode defender que o lançamento de discussões deste cariz são intempestivas.

Como me parece descabido agitar fantasmas como o despesismo, numa cidade que conheceu os melhores anos da sua história recente, quando Fernando Gomes soube pôr ao serviço do desenvolvimento do Porto o "pé de meia" que Fernando Cabral juntara, mais por falta de engenho e visão, que por cálculos contabilísticos.

Acontece que ainda existe mais uma razão ponderosa que recomenda que se abram cedo estas hostilidades no Porto. A lei de limitação de mandatos (que já tem quase mais "pais" do que artigos) precisa de ser clarificada de uma vez por todas. Não que a mim me ofereça alguma dúvida (sendo eu, aliás, contra uma lei que considero uma entorse à democracia autárquica), mas porque já foram publicitados tão "doutos" pareceres sobre as suas possíveis interpretações, que não seria de estranhar que um qualquer juiz viesse a aceitar discutir a coisa em tribunal uns dias antes das eleições. Com as consequências inerentes.

Como até parece que a clarificação desta lei de limitação de mandatos só interessa no caso do Porto (e para já só à anunciada candidatura de Luís Filipe Menezes) nada melhor do que iniciar atempadamente esta discussão para ver se ela acaba em tempo útil.

No terreno já temos o ainda presidente da Câmara de Gaia e Manuel Pizarro pelos socialistas. Era bom que a eles se juntassem todos aqueles que se andam a insinuar e a pôr a jeito, ou a pedir que os candidatem, porque esta discussão só ganha em se alargar.

Como aqui já escrevi em tempos que já lá vão, o Porto precisa de gente para quem o Porto seja bastante. De candidatos que sintam e amem o Porto, mas que não se deixem ficar nessa contemplação amorosa, afirmando ideias novas e interessando-se por uma cidade que não tenha como principal objetivo ser a miss Simpatia num concurso nacional.

Praticamente vencida a "guerra" das obras, o Porto precisa de candidatos disponíveis para se bater por ele e pelas suas gentes, nas guerras de defesa dos seus interesses, que não param de ser atacados. A crise, tenha ela a dimensão que tiver, agora ou no futuro, não pode continuar a servir de desculpa para capitulações perante o Poder Central, seja na questão do aeroporto, seja na constante mudança para a capital dos principais centros de decisão públicos e privados.

Do que o Porto não precisa, caro Paulo Rangel, é de gente que só se interessaria por ele em fim de carreira. Carreira essa, a sua, que, no que dependesse de mim, teria acabado no dia em que um político do Porto, eleito pelo Porto, prestou tais declarações.

Nota do RoP:
Por manifesta falta de tempo, só agora me foi possível publicar este oportuno artigo de Manuel Serrão, que considero bem contundente, e realista. 

3 comentários:

  1. "o Porto precisa de gente para quem o Porto seja bastante"

    E com esta frase Manuel Serrão diz tudo. O Porto não pode ser doca para políticos corridos da capital, nem para políticos fazerem o tirocínio a caminho de algum Ministério. Os Portuenses precisam de abrir os olhos e votar de acordo com este principio. Não chega um candidato se apresentar como o "melhor" é preciso saber quais as suas ambições politicas.

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  2. Sem dúvida, Rui, oportuno e que toca em vários pontos que estou de acordo.
    Chega de contabilistas e bons moços. Não queremos nada a que não tenhamos direito.

    Abraço

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  3. O Porto não precisa de gente a cheirar a mofo e que venha para cá para calçar umas pantufas, Nem de gente servil ao partido.

    Nós precisamos de gente que os tenha no sítio e faça obra e afronte Lisboa. Estamos cansados de guerrinhas e paneleirices com gente do mesmo burgo.

    Quanto a junção do Porto a Gaia, tem que ser os portuenses e os gaienses a manifestarem-se.

    A cidade do Porto já tem uma grande marca que é o FCP sigam-lhe o exemplo.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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