29 maio, 2013

E o Eça, tão dramaticamente actual

Alguém, que um dia decidiu criar um blogue, concerteza que o fez para ser lido, para transmitir e partilhar com outros a sua opinião sobre determinado(s) assunto(s). Depois, terá de perceber que, a partir desse momento hipotecará um pouco da sua privacidade. Para não ficar decepcionado, convirá também saber, que para ser muito lido, e comentado, deverá escolher um tema que agrade de preferência a toda a gente, que seja simpático, politicamente correcto, e que não obrigue o leitor a pensar muito. E, se mesmo assim, não conseguir ter um grande número de leitores, sempre pode procurar outras "montras", como registar-se no Facebook, ou no Twitter, como aliás, fazem o Presidente da República e o Primeiro Ministro...

Como não sou fã das redes sociais, por considerá-las algo invasivas e muito folclóricas para o meu gosto, tenho desde logo comprometidas as audiências do Renovar o Porto, e o leque de "amigos" condicionado [o que não é o caso das figuras públicas atrás mencionadas]. Mesmo assim, intriga-me, o que é que poderá levar o P.R. e o P.M., a frequentarem as redes sociais, quando tanto mal têm feito à sociedade. A menos que sejam masoquistas e gostem realmente de ser insultados.

Se para um blogue ter muita visibilidade só conta o futebol, os lugares comuns vazios dos políticos, e a superficialidade da comunicação social, então o Renovar o Porto não terá grande futuro, mas o país também não. Se repararem bem [e seria espantoso que não tivessem reparado], tanto os jornais, como os governos não passam de clones uns dos outros. Nada de verdadeiramente inovador podemos esperar deles. Podem ouvir as pessoas que quiserem, os peritos que entenderem, ninguém se distingue de ninguém. Da esquerda à direita, há oposição, mas não há solução, nem uma verdadeira vontade de mudança.

O Renovar o Porto nasceu com o intuito de se constituir um pouco a voz que o Porto perdeu com a chegada de Rui Rio à Câmara. Sem presunção, procurou alertar os portuenses e nortenhos para esse cancro chamado centralismo, chegando mesmo a influenciar a criação de um Movimento [Movimento do Partido do Norte] a favor da regionalização, que lamentavelmente acabou por não ter o êxito que se esperava, quer por falta de meios, quer pela tradicional pasmaceira da população. Entretanto, à crise política nacional, juntou-se a crise financeira, dita global, cujas consequências estamos agora a pagar, sem termos a menor ideia de quando terá fim. E quem nos governa, também não...

Aqui chegados, não perco tempo a discutir os detalhes, a ouvir quem quer ser ouvido, mas nada diz. A mim, que estou cansado desta política suja, praticada por gente de carácter obscuro, só me interessa a discussão dos problemas a montante, na fonte. Não nesta foz lamacenta, de fedor e lixo, e pactuar com ela. Essa política, para mim está morta e não é de agora. Há criminosos [e não me refiro apenas aos crimes mais mediáticos], e se há crime, tem de haver castigo. Depois, então sim, haverá que gerar novos paradigmas para a democracia, torná-la mais sólida e respeitável. Cavalgar por cima disto, não estou disposto a cavalgar.

O problema chama-se Portugal, e é antigo. Já Eça de Queiroz o denunciava no século XIX. Senão leia-se esta pequena "amostra" retirada de OS MAIAS ao João da Ega, amigo de Carlos Maia, principal protagonista do romance: "-É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos «têm imenso talento». A oposição confessa sempre que os ministros, que ela cobre de injúrias, têm, à parte os disparates que fazem, um «talento de primeira ordem»! Por outro lado, a maioria admite que a oposição, a quem ela constantemente recrimina pelos disparates que fez, está cheia de  «robustíssimos talentos»! De resto todo o mundo concorda que este país é uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país é governado «com imenso talento», que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estupidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!».

Ainda gostava de saber se os actuais políticos, lendo Eça, se acham muito diferentes dos daquele tempo... Se não acham, também nunca o vão dizer.


4 comentários:

  1. Silva Pereira29/05/13, 20:24

    Boa tarde,
    E faz muito bem, sou um dos que não consegue passar um dia sem fazer pelo menos uma visita.
    E já agora também sou dos que não me associo às redes sociais, embora confesse que já fui tentado algumas vezes (SOMOS PORTO; PORTO SEGURO…).
    Foca o Eça muito, há dias também reli As Farpas de Eça/Ramalho e como está atual.
    Já agora deixei de comprar jornais por sistema, uns pela sua opção editorial como os do grupo do Balsemão (tinha assinatura da Exame, Ex informática, Executive Digest) raramente não comprava o Expresso, Courrier International , jornal de Letras, e tinha na empresa acesso a todos os diários.
    O que começou por me saturar com algumas opções editorias fez-me a cada vez mais a selecionar a informação na internet o que me levou a não ter grande paciência para a leitura das edições em papel (o que refletiu em poupança e espaço)
    Também na TV felizmente está a mudar e cada vez mais podemos selecionar e cancelar assinaturas de imediato.
    Penso que também nesta área algo está a mudar.
    Quando acabou o campeonato cancelei a assinatura da SPORTV e desta vez foi acompanhado por um mail (diferente dos anteriores) dizendo que era portista e o seu envio era para que não associassem a um benfiquista.
    Pois para meu espanto fui contactado pela MEO questionando-me das razões. Após 30 minutos de conversa tentaram aliciar-me com a oferta de 2 meses grátis que recusei pois a razão principal não era a económica mas sim parcialidade editorial, mas o espanto ainda foi maior quando recebi um mail da SPORTTV dando-me conta de que o mail tinha sido encaminhado para área editorial.
    Sei por conhecimento direto que raramente os meus protestos não têm consequências diretas mas verifico que tem havido alguma alteração tem tido respostas e por vezes pedidos de desculpas.
    Mais uma vez excedi-me, peço imensa desculpa
    E um bem aja

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  2. Caro Silva Pereira,

    Esteja à vontade! Escreva o que achar necessário. É importante "lavar a alma".

    Louvo a sua decisão em relação à Sport TV. Era isso que outros portistas deviam fazer, porque s SporTv ganha também dinheiro no Norte, mas discrimina-o, sobretudo o FCPorto.

    Um abraço

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  3. Infelizmente ou felizmente, nem só de futebol vivem os portugueses.
    Mas já agora, parece que está em moda, os políticos ou pessoas importantes pelo menos bem colocadas, mandarem uns bytaites de azia relacionadas com o futebol. À dias um tal Mexia, queria entregar a Taça de Portugal aos batoteiros vermelhos, agora o ascensorista Victor Gaspar, disse que andava deprimido por causa do benfica!... por estas razões é que o país está a ser governado por uns Merdas medíocres, já não bastava o Pepegrino da República para agora vir este senhor com conversa da treta futeboleira.

    A empresa onde trabalhou o Relvas e o Coelho está a ser investigada... será que isto vai prá frente, ou como sempre, fica tudo em águas de bacalhau!?...

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  4. O Porto é Grande,

    A arrogância deles relativamente ao Porto e a outras cidades do Norte, é tão descarada que já nem se dão ao cuidado de a esconder.

    O Benfica está para eles como os airbags para os automobilistas. Não porque se sintam absolutamente protegidos dos inconvenientes impactos, mas porque vão anestesiando com muito benfiquismo bacôco, alguns "milhões" de fanáticos.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...