A mulher de César |
Luís
Noronha Nascimento deixou este mês (dia 12) a presidência do Supremo
Tribunal de Justiça e jubilou-se, ou seja, deixa de trabalhar, mas
continua com todas as regalias dos juízes no ativo, incluindo as
remuneratórias. O trajeto que o levou a presidente do STJ começou no
início dos anos noventa. Primeiro conquistou o sindicato dos juízes,
depois o Conselho Superior da Magistratura e, finalmente, o STJ.
Noronha
Nascimento é daquelas pessoas que não olha a meios para atingir os
fins. Os seus princípios estão orientados para os seus fins.
Ideologicamente, é um estalinista puro, ou seja um indivíduo que é capaz
de fazer alianças com o próprio diabo, se isso for útil ao que
pretende. O seu granítico corporativismo judicial é como que uma síntese
entre Béria e Torquemada. Os direitos dos cidadãos pouco interessam
perante os privilégios dos juízes.
De uma ambição sem limites,
instrumentalizou o sindicato dos juízes e o próprio CSM. Muitos
acusam-no de, a partir do CSM, ter controlado o acesso ao STJ e, assim,
ter formado, com amigos seus, o colégio eleitoral que haveria de o
eleger presidente desse tribunal. O caso chegou a ser denunciado, mas
sem quaisquer consequências. Todos se calaram, ou melhor todos
comentavam em privado, mas publicamente agiam como se nada estivesse a
acontecer, mostrando, assim, o que é, desde há muitos anos, o principal
(des)«valor» da nossa República Democrática: a cobardia.
A sua
ilimitada vaidade levou-o a contratar, mal chegou a presidente do STJ,
uma agência de comunicação e a alterar o site do tribunal para aparecer,
logo na abertura, em lugar de destaque, a sua fotografia em pose
provinciana de estadista. Enquanto todos os outros tribunais mostravam
aquilo que se procura no site de um tribunal, o do STJ exibia a figura
mefistofélica do seu presidente ladeado de bandeiras.
Em
encontros promovidos por titulares de outros poderes de estado, Noronha
Nascimento dava sempre nas vistas pelo seu protagonismo de
circunstância, normalmente exibindo aos anfitriões uma cultura geral do
tipo Reader's Digest. Essa vaidade pessoal levou-o a degradar a própria
dignidade de juiz, pois aceitou incumbências incompatíveis com o seu
estatuto funcional, designadamente a de representar, em atos políticos
no estrangeiro, titulares do Poder Político que ele poderia vir a ter de
julgar.
Mas foi a decisão de mandar destruir as escutas de José
Sócrates no processo «Face Oculta» que levantou dúvidas sobre a sua
imparcialidade como juiz, já que o suspeito era nem mais nem menos o
primeiro-ministro e líder da maioria política que aprovara, contra toda a
nossa tradição judicial, algumas medidas tão queridas pelos
conselheiros do STJ, nomeadamente a célebre «dupla conforme», ou seja, a
impossibilidade de se recorrer para o STJ da decisão do tribunal da
relação que confirme a decisão de primeira instância.
Portugal é
dos países que tem mais conselheiros, porque, no final dos anos oitenta,
o atual código de processo penal previa um recurso direto da primeira
instância para o STJ. Isso foi aproveitado pelos juízes para aumentar o
número de conselheiros de cerca de vinte para mais de setenta. Esse tipo
de recursos acabou há muito, mas os conselheiros mantiveram-se (como se
mantém o subsídio de habitação do tempo em que os juízes não podiam
permanecer mais de seis anos no mesmo tribunal). É certo que, devido à
crise económica e financeira, Noronha Nascimento só realizou
parcialmente o binómio sindicalista de «menos trabalho e mais dinheiro».
Os juízes do STJ têm hoje muito menos trabalho do que tinham quando ele
foi eleito presidente e mantêm os seus principais privilégios.
Por
outro lado, o filho de Noronha Nascimento conseguiu, durante o tempo em
que o pai foi presidente do STJ, arranjar um emprego num organismo do
Estado que dependia diretamente de José Sócrates. Pode ser apenas
coincidência, pode tudo ter corrido dentro da mais estrita legalidade e
normalidade, mas, até por isso, Noronha Nascimento deveria ter-se
recusado a apreciar o caso das escutas de José Sócrates e, sobretudo,
não deveria andar a fazer insistentes declarações públicas sobre a
irrelevância criminal de conversas telefónicas cujo conteúdo as pessoas
ignoram. É que a um juiz não basta ser honesto, é preciso parecê-lo.
se só lhe chamassem "chato", até ele pensava que estavam a elogiá-lo.
ResponderEliminarA última que lhes ouvi, é que o Marinho é um recalcado, pois chumbou quando quis ser juíz!