21 agosto, 2013

Sobre a política, e as pessoas

É a minha opinião, e vale o que vale uma opinião. A questão é que, até ao momento, não encontrei opinião melhor, e que é a seguinte: enquanto o regime capitalista, goste-se ou não, continua - como disse Karl Marx - a inspirar-se na exploração do homem pelo homem e nas sociedades de consumo, o comunismo tem realmente uma ideologia, que não sendo perfeita, defende exactamente o contrário, isto é, a desmistificação feudal das sociedades elitistas. 

O grande defeito do regime comunista, como aliás de qualquer outra ideologia política, são os homens, frequentemente incapazes de seguir um ideal sem sucumbirem à sedução que a seguir ao poder os enreda na corrupção, e daí na ditadura. O capitalismo, não é humanista, é negócio puro e duro, de preferência desregrado. Não possui qualquer ideal social. É pragmático com o dinheiro, mas injusto e elitista com a sua distribuição. Não será por acaso que é nos países capitalistas do Norte da Europa mais civilizada, onde os assuntos de ordem social são mais respeitados, que também se vive melhor. Se os governantes e os empresários dos países latinos tivessem a mentalidade dos escandinavos, talvez as coisas fossem um pouco diferentes para melhor. Mas isso, é uma utopia, os latinos são geneticamente avessos à ordem e às questões de justiça social. Os latinos têm uma ideia de justiça e de dever muito individualista, praticamente só se preocupam com esses assuntos quando tal lhes interessa, particularmente.  Isto é um facto.  

Mas há um aspecto que me repugna em certos povos como o nosso, que é não  compreenderem que o presente mais venenoso que um governante lhes pode oferecer, é o elogio. Se há discurso que me enoja, é ouvir um político glorificar a serenidade do povo, ou orgulhar-se dos emigrantes. Mas pior, muito pior, é saber que ainda há muita gente a comover-se com estes piropos. Aí, meus caros, confesso, chego a ter vergonha de me saber português.

A propósito, e como falei de comunismo, vou citar um exemplo que extraí dum livro que estou a reler e que se relaciona com o conformismo e a cobardia de certos povos, neste caso, o russo. O livro chama-se "O Arquipélago de Gulag", fala do regime stalinista, das perseguições, de detenções indiscriminadas, e do medo. O autor [A. Soljenitsine], que também esteve preso e viveu portanto a repressão, sugere-lhe imaginar o seguinte:   "Em pleno dia, a detenção é inevitavelmente um momento breve, que não se repete, em que o levam através da multidão, entre centenas de outros homens, igualmente inocentes e condenados como você. E a sua boca não foi tapada. E você pode e deveria absolutamente GRITAR! Gritar que vai preso! Que há malfeitores disfarçados que andam à caça das pessoas! Que as apanham com base em denúncias falsas! Que uma surda repressão é desencadeada contra milhões de pessoas! E, ouvindo esses gritos, inúmeras vezes durante o dia, e em todas as partes da cidade, talvez que os nossos concidadãos se revelassem! E talvez que as detenções não se tivessem tornado tão fáceis!? 

Sejamos razoáveis, mas não masoquistamente paternalistas. Este pedaço de texto, onde o medo, a indiferença pelo outros é tão flagrante, reporta-se a uma época tenebrosa da história da ex-União Soviética. Havia uma ditadura e a polícia repressiva agia a seu bel prazer para levar sem explicação para a cadeia qualquer pessoa, mesmo que inocente. Em que patamar de valentia teremos de colocar o povo português quando aceita pacificamente a destruição das regalias sociais e a redução de reformas já de si baixas? Quando aceita, ou está disposto a aceitar ser governado por gente que se habituou a mentir-lhes sem lhes pedir garantias? Quando a pretexto da crise, diz que sim a salários cada vez mais reduzidos, sem exigir sacrifícios a quem os impõe? Que povo é este?  Nem as crianças são tão ingénuas. De um povo assim, tenho vergonha.


5 comentários:

  1. Sr. Rui Valente

    É por isso, mas não só, que sou regionalista convicto.

    Não estou. nem nunca estive, ligado a partido algum, precisamente, por compreender, que não representam, hoje em dia, quaisquer augustas gentes. Pelo menos, não me representam a mim. Acredite, talvez tenha perdido muito por ser como sou, mas não me arrependo. Houve um dia dia que tive os respectivos líderes da JS e JSD, bêbedos que nem dois cachos, cada um a tentar convencer-me, perante a vergonha a que os remeti. a entrar para o seu partido. Mas, a minha alma tripeira, não está, nem nunca esteve À venda.

    Posso morrer pobre...eu já nasci e vivo assim!Mas uma coisa lhe garanto...Serei um legítimo herdeiro bélico de Saldanha...para bom entendedor...

    Cumprimentos,

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  2. Há muitas ideologias falidas e outras assim assim, é um mundo falido. Há muitos idiotas e idiólatras, e pulhice política cada vez há mais. Cada povo tem aquilo que merece, e, este não foge à regra.
    O grande problema de muitos partidos ideológicos são os chefes e seus seguidores fanáticos que não ouvem ninguém. A democracia é o paraíso para estes dejectos políticos idiotas, que engordam com o dinheiro roubado de quem trabalha.
    Já não acredito em nada, a não ser em mim, e mesmo assim no meio desta corja, já começo a ter medo da minha própria sombra.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  3. Tempos de medo, remete-me para o Portugal de hoje e em certas situações, estes democratas, entre aspas, claro, são piores que o ditador Salazar.
    É uma vergonha o que se está apassar neste país.

    Abraço

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  4. Deacon Blue25/08/13, 14:02

    "...O capitalismo, não é humanista, é negócio puro e duro, de preferência desregrado. Não possui qualquer ideal social. É pragmático com o dinheiro, mas injusto e elitista com a sua distribuição...."

    Faleceu hoje 25 de Agosto, Antonio Borges!
    Alguém que na minha opiniao personificava o que acima retirei do post.
    Acredito que fosse um técnico de qualidade mas, lá está, lado humano muito dèbil, nos ultimos tempos deu n tiros nos pés.
    Uma pessoa que diz o que disse passando completamente ao lado e desprezando os que passam mal...
    Nao me revejo nestas mentalidades que reduzem tudo a numeros, estatisticas, resultados.

    Independentemente da gula para manter fachada, uma coisa é certa, a vida ainda nao se pode comprar!

    RIP!



    Deacon Blue

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  5. Deacon Blue,

    De facto, de "técnicos de qualidade" estamos nós fartos. Mas, do que nós precisamos, é de governantes de qualidade, que entendam de vez, que governar um país, não é um mero exercício de contabilidade, onde os números se confundem com pessoas. É muito mais do que isso.

    Lá estão os hipócritas dos jornalistas a forjar outro mito. António Borges, era um simples economista. Ponto. Que descanse em paz.

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