09 setembro, 2013

Mercenarismo em política



Se eu estivesse recenseado em Lisboa ou no Porto não votaria em António Costa ou em Luís Filipe Menezes. Ambos pertencem àquela espécie de políticos de plasticina, sem coragem para grandes decisões nem sinceridade quando falam ao povo. A sua principal característica é a inegável capacidade para criar clientelas que, aliás, gerem de forma magistral. Quando lhes interessa um determinado apoio, eles têm sempre algo irrecusável a dar em troca, à custa do património público, claro. Geralmente, só agem pela certa e só vão, verdadeiramente, a jogo quando têm todos os trunfos na mão. Quando há condições para um combate leal e aberto, mas cujo resultado favorável não lhes está à partida garantido, eles hesitam, encolhem-se e nem mesmo empurrados lá vão. Às vezes até fogem a sete pés, como aconteceu com Luís Filipe Menezes, quando, há anos, se pirou para Vila Nova de Gaia com medo de enfrentar o Golias de então, Fernando Gomes, nas eleições para a Câmara Municipal do Porto, deixando todo o campo de batalha ao David Rui Rio.
António Costa é um caso claro de oportunismo e de aproveitamento da CML como trampolim para a realização de outros desígnios pessoais. Ele deveria dizer, agora, claramente, se vai cumprir integralmente o seu mandato ou se, a meio, o vai trocar por qualquer coisa melhor, como fizeram Fernando Gomes com a Câmara do Porto e Durão Barroso com a chefia do Governo. Se o seu compromisso eleitoral com o povo de Lisboa não é postiço, ele devia garantir, agora, que o vai cumprir até ao fim. Mas isso é pedir de mais a quem tem claramente uma agenda pessoal que se sobrepõe a todos os compromissos políticas.

Por isso, em Lisboa, eu nunca votaria em António Costa, mas antes no único candidato que, em minha opinião, possui as qualidades humanas para ser um bom presidente da Câmara e que jamais abandonaria as pessoas que o elegessem: João Semedo. Votaria nele não por ser do Bloco de Esquerda, mas apesar de ser do Bloco de Esquerda.

Quanto a Luís Filipe Menezes, ele pertence, justamente, àquele tipo de políticos oportunistas que nunca assumem as suas responsabilidades. Ele é um dos principais sustentáculos do atual Governo, juntamente com outro «Luís, também do Norte» - Marques Mendes. A fação que tomou o poder dentro do PSD e formou governo nunca o conseguiria sem o apoio desses dois homens. Mas, agora, na sua candidatura à Câmara do Porto, Menezes parece nada ter a ver com o seu partido. Quase precisamos de uma lupa para ver o símbolo do PSD nos seus cartazes de campanha. Mas aonde ele é mesmo bom é a gerir a teia imensa de clientelismos e de promiscuidades que foi criando ao longo dos anos à custa do erário público. Os seus fiéis, tal como os seus familiares, têm sempre os seus problemas resolvidos e subirão facilmente na vida (leia-se: no Estado, numa Câmara ou no Partido).

Há quase vinte anos, num congresso do PSD, ele teve a coragem de dizer umas verdades em Lisboa, denunciando o elitismo e o liberalismo de uns barões políticos do Sul. Alguns minutos mais tarde, já chorava em público arrependido dessa audácia. Não há muitos anos conseguiu ser eleito líder do PSD, mas pouco tempo depois já fugia assustado para o Norte com medo desses mesmos barões, abandonando todos os compromissos que estabelecera com os militantes do partido e até os que se propunha assumir com o povo português. Hoje, apoia com desvelo e muita eficiência esses mesmos «sulistas, elitistas e liberais», porque isso o ajuda a manter e a ampliar ainda mais o gigantesco polvo clientelar que criou no Norte, sobretudo à volta do Porto.

Não sei qual será o resultado das eleições do próximo dia 29 para a Câmara Municipal do Porto, mas se Luís Filipe Menezes for eleito seu presidente, isso significa que a população do Porto quer o mesmo populismo obreirista e irresponsável que levou este país (e a Câmara de Gaia) à situação deplorável em que se encontra. Um presidente da Câmara do Porto como Menezes, com a coluna vertebral de uma crisálida, poderá fazer muitas coisas, mas a cidade deixará, inevitavelmente, de ser Leal a si própria e, sobretudo, não voltará a ser Nobre e Invicta como foi no passado.

Nota de RoP:

Marinho e Pinto tem razão no que diz respeito aos candidatos "plasticina", eu também não votaria em nenhum deles. Mas, equivoca-se se pensar que Rui Rio não é da mesma estirpe. A plasticina deste é doutro género, mais camaleónica, mas é plasticina na mesma. Se não, como é que Rui Rio desprezou, como toda a gente sabe, o FCPorto, alegando a famosa promiscuidade entre o futebol e a política, e não fez o mesmo com as corridas da Foz, que ele próprio apadrinhou? Terá a promiscuidade alguma relação com preferências desportivas [e clubísticas], e no automobilismo será tudo limpinho, limpinho?

2 comentários:

  1. Gosto de Marinho Pinto, um homem "sem medo".

    Mas deste artigo não gostei, ocupou-se essencialmente de Meneses e isso não me cheira bem.

    tendo em conta a oferta parece-me que Meneses é o homem que apesar da crise pode dar a finalmente a volta à cidade do Porto e conferir lhe outro protagonismo.
    Tem defeitos ? Claro mas no actual momento é de longe a melhor escolha.

    ResponderEliminar
  2. Silva Pereira11/09/13, 18:31

    Boa tarde,

    Nisto estou de acordo com o MP e também comungo do seu pensamento.
    Como estou a comentar numa ordem temporal diferente, não fiz referência a esse texto no seu post posterior para o fazer aqui.
    Tudo o que o MP mais o seu comentário consubstanciam o meu pensamento sobre as próximas eleições.

    Nota: ao contrário do 1º comentador estou pouco preocupado com duplas intenções (se é que as há de MP) desde que pense da mesma maneira não tenho problema em aplaudir, quando não o é também não tenho problemas em discordar.

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...