09 setembro, 2013

Votar em branco/abstenção

Nem todos terão vivido tempo suficiente para se certificarem da credibilidade dos homens que  andam na política e da forma como lá chegam. Contudo, para um jovem de 39 anos, com a mesma idade da implantação da democracia em Portugal, e daí para cima, é imperdoável que continue a ignorar a real valia daqueles que lhes garantiram possuir competências para a governação, ou alegar sentir-se enganado, sem correr o risco de passar por parvo.

Não sei, não faço a menor ideia, que mais será preciso acontecer para os eleitores compreenderem que não podem voltar a passar cheques em branco na hora de ir às urnas. Andamos, durante os primeiros anos de democracia, a ser mentalizados para a importância do voto em contraponto com as décadas de obscurantismo que a antecedeu, como forma de nos pressionarem a votar. Mas creio que já chega de banha da cobra. Hoje, só a dois tipos de eleitores interessa esta treta da importância do voto: os beneficiários directos e indirectos do pardirarismo político, e os idiotas.

Como a rede de compadrios está muito enraizada em Portugal, é improvável esperar alguma vez por uma abstenção generalizada, por mais danos que nos causem. Haverá pois que contar com os votos de "gratidão" partidária, esses são dados como certos pelos respectivos aparelhos. Contra isso, é mais complicado lutar, mas não é impossível, basta começarmos a fechar-lhes as portas... Aos eleitores descomprometidos com o regime, àqueles que estão habituados a contar somente consigo, caberá decidir o que fazer com o seu voto. 

Sabemos que as mesas de voto são constituídas por membros dos vários partidos políticos, o que em teoria devia garantir a isenção da sua contagem. Em clima de confiança política, a intervenção dos presidentes de junta, mais o aval dos presidentes das câmaras municipais deveriam, em princípio, bastar para nos deixar descansados com o destino dos votos em branco, mas depois de tanta trafulhice, será sensato continuarmos a confiar? Objectivamente, qual será a vantagem de votar em branco? Que interesse real, a não ser de ordem estatística, terá o eleitor com o número de votos em branco? O que é que poderá fazer de útil com eles?  Demonstrar que apesar de nos sentirmos defraudados, continuamos a acreditar na democracia? Para quê? E que democracia? Uma democracia meramente eleitoralista? Provocará o voto em branco alguma alteração comportamental relevante, numa classe política já de si destituída de valores democráticos e até educacionais?

Não terá mais impacto uma grande abstenção?   Por que não podemos nós inverter o preconceito da abstenção e a sua lógica impactante? Por que teremos nós  de os autorizar a interpretar uma decisão que é só nossa? De votar em branco, ou de simplesmente, não votar? Entre muitas outras razões, podíamos deixar à classe política esta elucidativa mensagem: nós até gostamos de votar. Mas não votamos em branco, porque vocês nem sequer merecem uma deslocação às urnas! Outros motivos? Por que vivemos em austeridade, porque as viagens estão caras, e os sapatos também! Haverá argumento mais forte?

Uma única condição bastaria para trocar a abstenção por um voto de protesto: que sobre este se pudesse plasmar sucintamente o que pensamos dos governantes, com direito a divulgação na Assembleia da República.    

4 comentários:

  1. Voto para as autarcas e provavelmente vou engolir um sapo porque não gosto de políticos e muito menos em quem vou votar, mas, no meio daqueles anjinhos, talvez seja o político mais experiente que não vai poupar dinheiro para os outros.

    Votar nas legislativas é dar pérolas a porcos por isso nem apareço.
    Esta gente não merece os poucos minutos que se possa perder, são vendedores de banha da cobra e vampiros do povo, todos eles estão bem de vida à custa da política.

    Está decidido autarcas sim (para já, depois logo se vê)legislativas não.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  2. o voto em branco ou nulo, que tem o mesmo tratamento, ou ainda a abstenção, serve à medida, aos profissionais da política, onde se movimentam por toda ela!
    Só deixaria de exprimir a minha posição, se os lugares correspondentes na AR fossem salvaguardados!

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  3. Silva Pereira11/09/13, 18:16

    Boa tarde,
    Meu caro Rui Valente acho pertinente e oportuno o seu post.
    Mas para mim essa questão há muito que ficou esclarecida:
    1º O voto em branco (esses sim é que deveriam ser considerados na abstenção) é junto (com intenção) estatisticamente aos votos nulos;
    2º Os votos em eleições para a Assembleia contribuem para financiar os partidos, logo contribuem para o status quo;
    3º Mesmo quem pense como o seu leitor, o anónimo do 1º comentário para mim também deixou há muito de ser opção, pois que a maioria dos eleitos pertencem, contribuem e mantêm o estado do regime em que estamos. Pessoalmente até com conhecimento direto considero que são o cancro deste país.
    Por fim e que já o escrevi PC fez-me mudar essa postura referida nos 3 pontos e veja-se como fui enganado.
    Não digo que nunca mais votarei mas acho pouco provável, pois que neste momento penso que uma abstenção (não ir votar) acima de 65% conseguida num dia sem mau tempo, talvez os fizesse repensar o estado das coisas.
    Nota: talvez vote se algum dia se votar num representante (não em grupos) que dê a cara aos eleitores.

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  4. Tenho um candidato...se me defraudar é culpa minha: Rui Moreira!

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