Os psicólogos lidam com frequência, nos vários campos e domínios institucionais em que trabalham, com o sofrimento
psicológico e com a dor mental. Os técnicos de intervenção social,
quando trabalham em certas áreas e franjas populacionais, lidam com a
vitimação colectiva e o sofrimento social. Pois há ainda um outro
sofrimento que anda agora a alevantar-se e a que vou chamar sofrimento democrático. É menos óbvio, é mais insidioso e só atinge quem interiorizou a democracia
enquanto liberdade, responsabilidade, compromisso ético e atitude
cidadã – o que não é nada que se adquira automaticamente nem vá lá com
discursos de boas intensões.
A expressão pode ser equívoca. O sofrimento democrático, para um saudoso do salazarismo, é o mal-estar que vive
desde 1974. Para mim, seria passar horas intermináveis na Assembleia da
República a ter de escutar certos parlamentares. Se mandasse,
encarregava uma empresa de recursos
humanos de fazer uma selecção profissional competente, exigente e
rigorosa – quantos dos atuais ficariam nas bancadas de S. Bento?
Sofrimento democrático foi também o que aconteceu a não poucos portuenses durante os últimos doze anos de gestão autárquica do Porto.
Não me fez mossa a mim, mas fez à cidade – o que é um modo também de me
fazer mal. Mas tocou-me sobretudo o que sofreu muita gente da que, por
capricho de decisões no campo das políticas sociais, se viu obrigada a sair dos seus contextos de vida com o falso argumento de que se estava a resolver o problema
dos “bairros das drogas”. Para quem duvidar, é só ir agora ver como já
está resolvido… Num mundo a alta velocidade, dir-me-ão que isto já não é
notícia. Pois não. Notícia é uma torre do Aleixo a ser implodida, são
os gritos entusiasmados dos que vêem ao longe e os gemidos de dor de
quem via de perto. Agora, o sofrimento democrático prossegue em
silêncio. Porque aquela gente não se evaporou, continua a viver todos os
dias, em muitos casos pior do que antes da inteligente solução que a
câmara ofereceu ao seu bairro… Entretanto, Rui Rio deve andar já a
preparar o próximo lugar de onde nos oferecerá mais sofrimento
democrático.
Sofrimento democrático é ver um governo em que o vice-primeiro ministro
recolheu 12% dos votos nas urnas – quer dizer, 88 em cada 100 dos que
votaram não o escolheram a ele. Sofrimento democrático é estar quase a
vê-lo ir-se embora ao som dum “irrevogável” e vê-lo depois reentrar com
poderes reforçados. Sofrimento democrático é ver José Sócrates
instalar-se em pezinhos de lã
em Paris, fugindo assim à queda no abismo que ajudou a cavar, e ter
agora de o ver trepar outra vez ao palco televisivo como se a sua
opinião fosse fulcral para os nossos destinos. Até onde trepará ainda?
Até onde treparão os que sucessivamente nos desgovernam? Tenho uma
sugestão: já que subir é sempre para mais alto, por que não promovem
Durão Barroso daqui a uns meses, quando largar o tacho europeu, a
embaixador da UE na lua? Teríamos finalmente o primeiro português no
espaço, última fronteira da diáspora lusa.
Quando, há uns tempos, o governo de Passos Coelho tomou posse,
pareceu-me logo que o sofrimento democrático ia piorar. E quando se me
tornou claro o que nos iria acontecer até ao final do mandato
desinteressei-me de mais notícias: desliguei dos noticiários
televisivos, desisti dos blogs de política, das colunas de opinião
(menos da minha, claro), neutralizando deste modo a máquina de tortura.
Porque as notícias da política governamental e do seguidismo da maioria
parlamentar que diz ámen são
o contrário do que devia ser um organismo que governa: tiram-nos o que
ganhamos, tiram-nos o que não ganhamos (no caso dos reformados),
tiram-nos a esperança, tiram-nos a vontade. E fazem-no em tom de ameaça,
como quem governa um bando de gente miúda.
Mas pior ainda do que tudo isto é a pressa com que se afadigam a
mudar os fundamentos do regime, porque simplesmente não gostam da ideia
de Estado Social e gostam da ideia de Estado neoliberal. São gostos, eu
sei. Mas não foram legitimados nas
urnas, assemelhando-se assim a abuso do poder. O sofrimento democrático
é isto: esta dor de alma de ver uns quantos a achar-se no direito de
decidir o destino de todos à revelia destes. Não é isto ainda uma
ditadura, porque apesar de tudo estas são piores, porque já
neutralizaram os mecanismos autocorretivos dos sistemas político e
social, porque interrompem a ideia, cortam a palavra, perseguem e
maltratam. Não, não é ainda uma ditadura – mas é uma espécie de
pós-democracia. E a pós-democracia, a mim e com certeza a muita e muita
gente, enche-me de sofrimento democrático.
Por: Luís Fernandes
(Porto24)
Tudo vai mal no reino democrático deste país. Policias sem autoridade, que nada fazem (pelo menos não se vê nas ruas) Ladroagem, droga e toda a espécie de crime neste país batem récord. É tudo mau neste país, políticos, ministros, justiça é tudo uma festa na Feira da Ladra.
ResponderEliminarNão há luz ao fundo do túnel, é um país que está à venda, para chinês comprar, é um país doente, cheio de peste política por tudo quanto é sítio.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.
Isto de "desinvestir em tudo" e tornar os serviços publicos maus para justificar a privatizaçao da saude, educaçao e transportes, é uma estratégia antiga e básica de politicos que sao meros empregados de quem detem o capital.
ResponderEliminarDe facto, os Bilderbergs estao em grande e a máquina centralista que tao maus resultados deu a Portugal, apoderou-se definitivamente da Europa, porque só um sistema profundamente centralizado pode facilmente ser controlado pela minoria detentora da maioria da riqueza. Essa minoria transformar-se-á no futuro próximo cada vez mais numa "micro-minoria" do capital.
Entrámos na Europa numa altura em que ainda tinhamos uma máquina politica fraca e ignorante. Seres bem falantes mas com poucos conhecimentos do mundo (coisa que pareciamos ter antes da ditadura, a avaliar pela nossa literatura).
Agora colhemos os frutos de tanta ignorancia e subserviencia aos ricos que haviam fugido e depois voltaram para roubar o que havia, dividir o bolo entre eles e em seguida, de uma posiçao de força, contratar "escravos" aos partidos numa troca de favores. Esta troca de favores baseia-se no individualismo e na traiçao à pátria sem qualquer pudor.
Resultado de uma populaçao com fraquissimo nivel de instruçao e de um dormir à custa do trabalho dessa populaçao e do que as colonias proporcionavam antes da "democracia".
Cada vez mais os mediocres sobem e a gente com espinha dorsal fica sem oportunidade.
Isto terá um reflexo brutal num Porto, que nao é capital, nao tem bolsa representativa, nem sedes, que perdeu uma década com Rui Rio e que agora com esta crise se arrisca a cair no abismo. As gentes do Norte (que votaram contra a regionalizaçao - e podem vir com a conversa do mapa, já conheço esse bla bla bla de gingeira - como se os mapas fossem feitos para ser estáticos) continuam a dar tiros nos pés e nao parece haver maneira de mudar a cabecinha do pessoal que quando tem meia duzia de tostoes no bolso, se julga rica e fica com pensamentos de burguês rico quando apenas é micro-empresário.
Enfim, democracia, onde estás, se nem a propria moeda imprimimos e a ignorancia que estava a diminuir volta a crescer com a saida dos jovens.
Há demasiado menino que nunca fez nada e demasiado analfabeto para a coisa avançar.
Podem-me chamar o que quiserem, mas nao tenham duvida que daqui a uma meia duzia de anos a Europa vai andar ao tiro e só tenho pena que nao ande já, porque de Portugal nao sairá nada, só uma cópia envorganhada do que se passar noutro qualquer pais europeu.
Bom dia,
ResponderEliminarEstou na mesma onda. Deixei de asistir a programas de informaçao que mais nao sao que maquinas de tortura.
No entanto, às vezes estou distraído e dei comigo semana pasada a ver o catraio de barba, um tal de nao sei quê Maduro a sentar-se para dar uma conferencia de imprensa sobra as mudanças (as usual....) na RPT. Disse eu "...fosgasse..." e corri para o comando a mudar de canal.
É assim que encaro esta catraiada.
Deacon
Soren,
ResponderEliminarSem comentários...
Estou consigo.
Para quem não saiba o que é o Clube dos Bilderberg seus adeptos, aqui vai:
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2013/06/09/paulo-portas-e-antonio-jose-seguro-estiveram-no-clube-de-bilderberg
Um abraço