06 abril, 2014

RTP 2 , o canivete suiço



Proclamou-se já, e tem sido aqui e ali a TV dos portugueses. Contudo, nos últimos tempos a RTP tem navegado por águas turbulentas, fruto de uma tutela política que não conseguiu ainda estabilizar um modelo para o operador público que combine qualidade, diversidade e inovação. Diz-se que as grandes marcas valem pela sua capacidade de se reinventar, pelo que o anúncio feito, esta sexta-feira, de concentrar a RTP2 no Centro de Produção do Norte traz a esperança da (re)afirmação de um projeto vital para o espaço público nacional.

Perspetivado a partir do Norte, o tema RTP apresenta-se quase sempre contaminado pela dimensão regionalista. Esta é a região que viu muito do seu valor partir em direção à capital, num movimento comandado por forças centrípetas que tudo têm sugado ao longo dos anos. No caso do Centro de Produção do Porto, vários foram os cenários que pairaram sobre si, desde o fecho até à instalação aí da RTP Internacional, todos eles sugerindo uma certa perda de estatuto para a região.

Aquilo que foi agora decidido pela Administração da RTP, e devidamente validado pelo ministro da tutela, configura uma inversão da ameaça recessiva e centralista. Em boa hora! Ao invés de se desvalorizar uma marca de grande notoriedade e acantonar a estação pública em Lisboa, mais distante do país, regressa-se ao espírito e à letra do contrato de serviço público, designadamente no que se refere à cobertura mediática do território e à diversidade da opinião.

O Porto e o Norte terão todo um canal nacional, emitido em sinal aberto. Nas palavras do presidente da RTP Alberto da Ponte, corroboradas pelo ministro Poiares Maduro, trata-se de um centro de massa crítica, algo que integra poder de decisão e operacionalização ao nível da grelha de programação, da produção e da emissão. Com a latitude própria de uma grelha completa, que se pode desenvolver nas dimensões informação e entretenimento e explorar variantes no documentário, na cultura, no cinema, no desporto e na programação infantil. Todo um canivete suíço ao dispor da inteligência regional.

Mas a questão central é o que querem o Porto e o Norte fazer com este canivete suíço. Desde logo, não se pode jamais cair na tentação de construir aí um canal regional, integrando atores regionais a opinar sobre os assuntos regionais, pois isso seria replicar ao nível do território a estrutura circular da informação que encurrala o país numa apertada agenda de temas e de protagonistas. O Porto e o Norte podem e devem assumir a sua dimensão nacional sem complexos, procurando conceitos, formatos, conteúdos, atores, factos, eventos e opinião que relevem para o país e para o Mundo. A este propósito, foi já destapada a ponta do véu relativamente ao Jornal 2 que irá para o ar às 21 horas a partir de amanhã e que promete assumir um formato inovador.

Ter uma RTP2 ancorada no Porto é viabilizar e dar escala a uma nova centralidade. Pensamento, reflexão, opinião e debate a partir de uma geografia alternativa à capital. Alternativa não no sentido antagonista, mas no sentido complementar, reforçando a diversidade do mosaico que constitui o espaço público português.

Como até o melhor canivete suíço precisa de matéria-prima para afirmar a sua utilidade, o canal dois duplica o investimento, passando de quatro para oito milhões. Cumpre-se assim um dos requisitos para uma grelha de programação vencedora. O outro é o tempo. A perseverança, em forma de continuidade de formatos e conteúdos, pode ser a chave do sucesso. Se assim for, então a aposta é para valer.

Ninguém fica feliz com impostos ou taxas. Mas se o aumento da contribuição audiovisual libertou, como se diz, recursos para reforçar o cumprimento do serviço público por parte da estação do Estado, então dou por bem empregue os cêntimos extra que pago mensalmente. A RTP2 a norte é investimento num país mais plural. Portugal fica mais coeso e mais diversificado.

(do JN)

Nota de RoP:
o sublinhado é meu.  Desta vez, não significa concordância com o que lá vem escrito, mas sim alguma desconfiança pela ambiguidade do texto. Se uma "nova centralidade de pensamento, reflexão, opinião e debate" a Norte vale apenas como alternativa complementar, e os protagonistas não devem ser "actores regionais" a "opinar assuntos regionais", pergunto: que tipo de actores recomendará o autor do artigo para a RTP2? E se não devem ser regionalistas, como terão de ser? Centralistas? 

E, já agora, quem sai e entra da RTP?  O Carlos Daniel, é para ficar e com as mesmas funções? Os funcionários e directores são todos para manter, ou são recicláveis?  Isto também devia preocupar o autor, mas  não parece...

2 comentários:

  1. Tantas promessas tanta conversa e não se vê nada.
    A RTP ainda tem os complexos centralista uma administração e um governo que continua a dar ao Norte uma mão cheia de nada, e a outra de coisa nenhuma. Nem Pontes nem Maduros têm grande vontades.
    Ainda estou para ver, qual vai ser a realidade de tantos estudos e promessa para RTP PORTO...

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

    ResponderEliminar
  2. Este senhor professor da Universidade do Minho se não estou em erro,também acha que não devemos ser defensores da regionalização pura, mas da descentralização, o que é isso? Os exemplos de descentralização estão à vista, dão um chouriço a quem lhes der um porco. Com amigos destes, quem precisa de inimigos. Este senhor também participava num programa semanal no Porto Canal, que deixei de ver por causa das afirmações, dele e do Manuel Carvalho, na minha opinião são nortenhos em part-time. E nós precisamos de Nortenhos a tempo inteiro.
    Abraço
    Manuel Moutinho

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...