25 agosto, 2014

Nós, e o vocabulário importado d' America




Sobre o percurso demolidor do Governo na arte de destruir o pouco de positivo que o país ainda podia aproveitar, já nem me dá grande vontade de comentar. Se as palavras bastassem para o derrubar do poder, talvez só me calasse quando visse todo o elenco por detrás das grades, pagando pelo desgoverno total a que chegamos. Por minha vontade, banqueiros, políticos, jornalistas e outros profissionais "colunáveis" com provas evidentes de envolvimento em actividades criminais teriam lugar garantido numa cela, e não seria por pouco tempo, nem em domicílios  de luxo privados... Isto, para aprenderem de uma vez que, num país respeitável o crime não compensa, e também para dissuadir os candidatos vindouros  de repetirem a gracinha, como vem recorrentemente sucedendo.

Penso inclusivé, que falar desta gente imoral, mesmo que para os humilhar, é conferir-lhes uma importância imerecida. Dizer coisas, como: o governo, o ministro, o presidente, é algo inadequado e insultuoso para a própria nomenclatura das instituições constitucionais, que não têm culpa nenhuma que os eleitores as deixem ocupar por crápulas sem pingo de credibilidade. Falar de Cavaco, enquanto Presidente da República, ou de Passos, como 1º. Ministro, na minha óptica, é o pior que se pode fazer para esvaziar de dignidade cargos que deviam manter-se obrigatoriamente dignos. Mas, não nos iludamos, a bagunça e o divórcio com as mais elementares regras sociais é um problema de dimensão global. 

Hoje, a vulgaridade, ou a ordinarice, ganharam estatuto em todo o Mundo. Os nossos "amigos" americanos, detentores do monopólio cultural da indústria cinematográfica, não são os únicos responsáveis por este fenómeno, mas são os principais. Os outros, são todos os países do planeta (incluindo Portugal) que lhes consomem tudo o que de melhor, e sobretudo de pior, exportam. A linguagem da juventude contemporânea ocidental está completamente dominada pelos excessos vindos do outro lado do Atlântico, onde se tornou quase obrigatória a inclusão de palavrões (grosseiros) numa proporção de um, em cada frase com seis palavras. Mesmos nas cenas de filmes "românticos" entre jovens casais, a ordinarice verbal campeia como um ícone de vanguardismo, e o fuck you (ou me) é tão previsível como os tiros, as cirenes da polícia, ou as cenas de sexo.  Uma história que não seja relatada com palavras e gestos ordinários, é uma história má, antiquada, porque evoca alguma polidez do passado. Quem não adoptar para si este estilo "cultural"  de inspiração gringa arrisca-se a ser tratado como um ser decadente e hipócrita, o que é terrívelmente grave...

Houve um tempo, logo a seguir ao 25 de Abril, e que ainda durou uns anos, que certos jornais tinham o cuidado de incluir nos seus quadros, críticos de cinema e de televisão. Hoje, ao contrário do que seria natural, esses analistas em vez de terem aumentado, já quase não existem. No cinema, a função dos críticos limita-se a apresentar uma avaliação meramente tecnológica, virtual ou de desempenho artístico individual. Até porque a aposta continua a ser privlegiar os filmes de acção (leia-se, violência) e de ficção, o que, como é natural, quase dispensa a crítica. Na televisão, desapareceram homens como o já falecido Mário Castrim, do Diário de Lisboa, que com a corrosão implacável que o caracterizava deixava o mais desavergonhado dos directores de programas de hoje com medo de sair à rua, ajudando os espectadores mais simplórios a refinar o gosto e o sentido crítico. 

Afinal, o tempo passou, viemos do passado para o futuro, e, em que é que evoluímos? Haverá alguém capaz de dizer onde, e por quê? Será a isto que chamamos progresso? Não é concerteza, asseguro eu. O país está moribundo, já nos habituamos a vê-lo sempre doente. Mas o Mundo não está muito melhor, apesar do nosso salário mínimo ser dos mais miseráveis da União Europeia (União?).   

1 comentário:

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...