22 dezembro, 2014

Que a Justiça seja feita!

É óbvio, e claro, que julgar alguém antes do tribunal é uma atitude condenável. Já não  é tão claro e menos  óbvio, que as sociedades estejam devidamente organizadas à altura de o impedir. Estou a falar da violação do segredo de justiça, como já perceberam. Mas se estivermos a falar de sociedades como a nossa, nesse caso, o que é óbvio e claro em países civilizados passa a ser discutível e obscuro, em Portugal.  Ainda que o saibam, considero relevantíssimo enfatizar um detalhe em forma de lembrete: as sociedades são organizadas por homens, com identidade e residência registados no país que os elege.  Ponto.

Dito isto, vejo como [mais uma] imensa hipocrisia, o chinfrim que sempre se levanta quando alguém é detido antes de ser julgado e os jornais publicam excertos das investigações. Em primeiro lugar, porque a resolução deste problema já podia estar encontrada, se os partidos com assento no Parlamento o quisessem. Creio mesmo que seria o tema mais fácil de forçar consensos, se avaliarmos o incómodo aparente que a violação do segredo de justiça provoca em todos os partidos políticos. Aqui, os partidos mais pequenos podiam ter um papel fundamental e uma excelente oportunidade para pressionar a coligação do Governo e o Partido  Socialista. O consenso teria de ser o resultado menor, não outro, sob pena de gerar suspeição aos partidos ou aos deputados que de alguma maneira o tentassem boicotar. Sinceramente, não me parece assim tão impossível acabar com esta pouca vergonha, bastando para tanto blindar a sério as instituições de investigação, sob controle apertado de uma autoridade restrita a uma pessoa de reputação insuspeita que assumisse toda a responsabilidade. Se há raros casos em que a centralização se justifica, é o da investigação criminal. Democratizar a investigação, para mim, é ridicularizá-la.

Anda muita gente (nem toda, já sabemos) incomodada com a prisão de Sócrates, agora imaginem só o que seria se o juiz fosse vulnerável às pressões que lhe estão a fazer e o deixásse em liberdade e se pouco depois ele fugisse, como fugiu o Vale e Azevedo...  E aquele padre pedófilo que conseguiu regressar impunemente para o Brasil, a sua terra? O que diriam? Que o juíz era corrupto, que estava feito com Sócrates? E o que acham que faria Duarte Lima se não estivesse em prisão domiciliária, pensam que ia ficar por cá? Para o Brasil não iria seguramente, mas o Mundo ainda assim é grande para quem tem os bolsos cheios...

Podem-me dizer que outros há que fizeram tanto ou pior do que aquilo de que Sócrates é acusado e ainda vivem à vontade entre nós como se fossem uns senhores, e têm razão. Mas num país onde estávamos habituados a não tocar nos poderosos, já é um passo. Agora, vamos esperar para ver o que que acontece a esses parasitas do BES...

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