13 outubro, 2015

O medo da direita com a hipótese de uma coligação da esquerda

Esta nunca será uma coligação de estabilidade
Um pouco contra a maré de alarmismo que paira nos media, considero a actual situação política bem mais interessante que a ociosidade dos resultados eleitorais a que assistimos nos últimos anos. Interessante, não pelo lado espectacular que à comunicação social sempre interessa dar, mas antes pela implícita submissão dos partidos de esquerda a um escrutínio de maturidade democrática difícil de gerir e que pode até determinar a sua própria sobrevivência. Para já, repito, para já, felicito toda a esquerda pela inteligência da iniciativa. Depois, veremos.

Mais do que nos preocuparmos com o que poderá acontecer, caso se concretize o acordo de entendimento entre  PS,  PCP e  BE, devíamos meditar nas contradições de quem teme essa eventual união. Eu, que me tenho abstido, e que para alguns, pertenço ao grupo dos eleitores "preguiçosos", e que não ando a apregoar o voto obrigatório a ninguém, até estou entusiasmado com essa possibilidade. Há riscos? Decerto haverá. Mas desde quando votamos sem arriscar? Suspendi o meu direito a votar, precisamente porque me cansei de arriscar, pelo que decidi a mim mesmo ser mais exigente.

Sim, porque ideologias e antagonismos políticos à parte, talvez este seja o momento ideal da história recente portuguesa, para os partidos políticos provarem ao país que o sentido de Estado existe e não é apenas simples retórica. É tempo da esquerda, à esquerda do PS mostrar que pode ser mais que oposição. Espanta-me pois, que sejam fervorosos adeptos do voto e os políticos profissionais a recear a eventualidade de uma coligação de esquerda, e que haja abstencionistas (por imperativo de consciência), como é o meu caso, a não se oporem a ela...

Além de mais, que raio de segurança podem ter os portugueses com uma coligação que fez do acto de governar uma miserável campanha de austeridade, deixando os seus principais responsáveis protegidos? Que garantias podemos esperar? O fim próximo da pobreza? Que o desemprego irá descer? Que a emigração terminou? Que as medidas para gerar emprego comportam condições de trabalho sérias?

Como é bom de entender, as questões que aqui coloco não aceitam como respostas válidas as que Passos Coelho & Ca costumam dar, simplesmente porque são respostas falsas. Haverá maior aventureirismo para os cidadãos que continuar a dar o benefício da dúvida a quem já provou não o merecer? Então, por que é que esta garotada que ocupou - através de um sistema de democracia vulnerável -, lugares para governantes, se acha no direito de duvidar das capacidades de uma coligação de esquerda, quando só prejudicaram o país? Por que insistem os amigos da direita em inventar competências quando olhámos para o país e só vemos desmazelo e pobreza?

Vou repetir-me, mas é propositado: sendo céptico, por força de muitos anos de intrujice política, não arrisco mais o meu voto sem receber garantias. E repare-se bem no que está a acontecer, e na minha opinião, bem: nas negociações que os três partidos de esquerda estão a encetar, serão lavrados contratos de compromissos comuns. Podem não resultar, mas é um bom princípio.

Então, porque não podemos nós, cidadãos, exigir condições similares quando queremos votar?

6 comentários:

  1. A decisão do PS neste caso de António Costa é muito complicada e delicada, complicada tanta para dentro do partido como para o próprio eleitorado que votou PS.
    Um governo à esquerda com o PCP e BE, nesta Europa conservadora pode vir a ser muito complicado para Portugal, o exemplo foi o que aconteceu na Grécia.
    Eu na minha modesta opinião, era a favor de deixar o PSD/CDS formar governo e deixa-los sempre reféns do PS, para as medidas que este partido acha-se por bem, que deveriam passar, sempre com seu aval, porque a partir de agora o novo governo não vai ter os mesmos argumentos.
    A bola esta portanto do lado de António Costa porque o partido já está dividido, assim como eleitorado. Governar Portugal não é a mesma coisa que governar uma Câmara e uma decisão errada, pode ser o seu fim como político.

    Abílio Costa

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  2. Com a coligação à direita o PS afundar-se-à ainda mais, e António Costa morrerá politicamente. Costa nunca terá o protagonismo que quer, e tanto Coelhocomo Portas nunca o permitirão.

    Se houver entendimento à esquerda (para isso é preciso muito "realismo" e bom senso de todos os protagonistas), e se fizerem um bom trabalho até pode ser a "ressurreição" política de António Costa e do próprio PS.

    Penso eu de que... :)-

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  3. Caro Rui Valente,
    Quarenta anos passados e a direita mantém os mesmos argumentos quando colocada perante a necessidade de mudança.
    Se em 24 de Abril de 1974,colocassem a Marcelo Caetano a questão da democratização do regime é certo e sabido que responderia exactamente com os mesmos os argumentos, a saber:

    - o sentir do Povo português não aponta aventureirismos na governação do País;

    - só a unidade nacional nos protege de vanguardismos ideológicos;

    - a única coligação aceitável só poderá subsistir se assente na trilogia : DEUS ; PÁTRIA e FAMÍLIA;

    É o desespero à solta. Jornais e Televisões tornam o ar irrespirável. Uns e outros não suportam a Democracia. Não se forjaram nela (aproveitaram-se dela). Serão sempre serventuários de interesses mesquinhos, mas financeiramente importantes e nunca patrióticos.

    Aguardo com fundada esperança por um final feliz.

    PS. PORTUGAL NÃO É A GRÉCIA

    Cumprimentos


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  4. Pedro Olaio,

    Nem mais. A direita sempre adoptou o que de pior tem o conservadorismo. A direita sempre teve uma tendência genética para a divisão de classes, para considerar uns como
    filhos abençoados pelo destino e outros como escravos, embora agora lhes chamem outros nomes mais "dóceis".

    Com a direita acentuou-se o desrespeito pelos contratos laborais, aumentou o emprego precário e a respectiva arrogância.

    Em Portugal não evoluiu, e tudo fará para regressar aos tempos da outra senhora.

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  5. Rui Valente,

    Esta aceitação de António Costa de dialogar com os partidos à sua esquerda, se outra não houver, teve a virtude de convocar para a liça a ala mais à direita do PS.
    Em tudo quanto é púlpito aparecem a perorar contra um entendimento à esquerda. Já só faltam os estafados argumentos da" injecção atrás da orelha" e os banquetes de "criancinhas ao pequeno almoço". Estes sim ! Constituem a direita perigosa, reacionária, contra--revolucionária e passadista. Tirando meia dúzia de anónimos, coube ao paciente do Síndrome de Felgueiras encabeçar a Revolta na Bounty.
    Os chefes de fila da PaF até se sentem diminuídos no seu papel. Foram estes que deram origem à designação "CHUCHAS" e sabemos agora porquê.
    Não sei se será antes ou depois de cavaco outorgar ao coelho o direito a tomar conta da quinta, que vamos ver toda esta gente em romagem de veneração à Estátua do Cónego Melo.

    A bem da Nação

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  6. É verdade, Guilherme, ontem, não fiquei propriamente surpreendido com os "bitaites" de Francisco Assis. Apesar da conversa escorreita, não consegue esconder ao que vai. É um carreirista descarado. Era uma boa oportunidade para o PS se purgar destas ovelhas ranhosas mas parece que já estou a ver o circo que por aí montavam com slogans à liberdade e aos "valores" da democracia.

    Quem tem amigos destes...

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...